Ciência

Cientistas conseguiram criar eletrodos diretamente no cérebro de animais

Pesquisa feita na Suécia abre novas possibilidades para o tratamento de doenças neurológicas e desenvolvimento de interfaces entre pessoas e máquina

Avatar do(a) autor(a): Lucas Vinicius Santos

03/03/2023, às 08:45

Cientistas conseguiram criar eletrodos diretamente no cérebro de animais

Fonte: Thor Balkhed/Linköping University

Imagem de Cientistas conseguiram criar eletrodos diretamente no cérebro de animais no tecmundo

Cientistas da Suécia foram capazes de cultivar eletrodos em tecido vivo de cérebro de animais usando a aplicação de um gel contendo enzimas que, em contato com as substâncias naturalmente presente no corpo, se tornou um condutor elétrico. Para os pesquisadores, o feito pode trazer avanços no tratamento de doenças neurológicas (com o uso da neuroestimulação, por exemplo) e no desenvolvimento de interfaces entre pessoas e máquinas. 

A pesquisa foi realizada por cientistas das universidades de Linköping, Lund e Gotemburgo, todas na Suécia. O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Science

Para criar os eletrodos, os cientistas conceberam um método para desenvolver materiais macios, livres de resíduos e que fazem a condução de eletricidade em tecidos vivos. Então, eles injetaram um gel contendo enzimas que funcionam como "moléculas de montagem" em tecidos de peixe-zebra e de sanguessugas medicinais e, assim, conseguiram cultivar eletrodos nos tecidos vivos desses animais.

Os cientistas conseguiram criar os eletrodos em tecidos de cérebro, coração e cauda dos peixes-zebra, e ao redor do tecido do sistema nervoso das sanguessugas medicinais.  

“O contato com as substâncias do corpo altera a estrutura do gel e o torna eletricamente condutivo, o que não era antes da injeção. Dependendo do tecido, também podemos ajustar a composição do gel para dar andamento ao processo elétrico”, disse o pesquisador da universidade de Lund e um dos co-autores do estudo, Xenofon Strakosas.

Como a bioeletrônica convencional tem um design fixo e estático, é quase impossível usá-la em sistemas de sinais biológicos vivos. Por isso, o desenvolvimento desses materiais macios e eletricamente condutores em tecidos vivos são tão inovadores para a ciência.

Imagem do gel testado em um circuito microfabricado; o estudo abre novos caminhos para a bioeletrônica, mas ainda é necessário se aprofundar no tema para entender melhor sobre o uso do gel.Imagem do gel testado em um circuito microfabricado; o estudo abre novos caminhos para a bioeletrônica, mas ainda é necessário se aprofundar no tema para entender melhor sobre o uso do gel.

Eletrodos cultivados no cérebro

Um dos desafios foi considerar o sistema imunológico dos animais, mas eles não foram afetados pelo cultivo dos eletrodos. Segundo os pesquisadores, o método também pode direcionar o material para subestruturas biológicas específicas e criar uma interface para possibilitar a estimulação nervosa.

Basta adicionar o gel no tecido vivo para iniciar o processo, que não necessita de nenhuma modificação ou de sinais externos, como energia elétrica. Segundo a pesquisa, é a primeira vez que cientistas conseguiram criar um material com essa possibilidade.

Até o momento, a bioeletrônica usa materiais físicos implantados no corpo, por isso, o gel é uma descoberta importante para o futuro da área. 

"Nossos resultados abrem caminhos para novas formas de pensar sobre biologia e eletrônica. Nós ainda temos uma série de problemas para resolver, mas o estudo é um bom começo para as pesquisas futuras", afirmou em comunicado Hanne Biesmans, pesquisador na Universidade de Linköping e um dos autores do estudo. 



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Lucas Vinicius Santos

Especialista em Redator

Lucas Guimarães escreve sobre ciência e tecnologia há mais de dez anos.