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Ciência

Cerca de 1.500 línguas poderão deixar de ser faladas até o final do século

Após analisar 6.511 línguas faladas, os pesquisadores concluíram que só o contato com outras línguas não é fator de perda de linguagem

Avatar do(a) autor(a): Jorge Marin

schedule27/12/2021, às 14:00

Cerca de 1.500 línguas poderão deixar de ser faladas até o final do séculoFonte:  Jamie Kidston/ANU 

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O ano de 2022 marca o início da Década das Línguas Indígenas, instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Nesse período, ações no mundo inteiro serão realizadas para o reconhecimento, a valorização e a manutenção das línguas indígenas. No entanto, alertam os pesquisadores de um estudo inédito, pode ser que até o final deste século, pelo menos 1,5 mil línguas ameaçadas de extinção deixem de ser faladas.

Liderada pela Universidade Nacional da Austrália (ANU), de Camberra, a pesquisa conseguiu identificar 51 estressores em línguas ameaçadas de extinção. Para a coautora do estudo, professora Lindell Bromham, cerca de metade das 7 mil línguas conhecidas no mundo correm o risco de desaparecer. Ela prevê que, sem uma intervenção imediata, essa perda de linguagem poderia triplicar nos próximos 40 anos.

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Publicado na revista Nature Ecology and Evolution no dia 16 de dezembro, o estudo usou gráficos para avaliar séries de fatores que colocaram pressão sobre línguas já ameaçadas de extinção. "Embora cada idioma esteja sujeito a pressões sociais, demográficas e políticas específicas, também pode haver processos de ameaça comuns", e são esses últimos que o estudo analisou.

Professora Lindell Bromham e dra. Xia Hua, coautoras da pesquisa sobre línguas ameaçadas (Fonte: Jamie Kidston/ANU/Divulgação)Professora Lindell Bromham e dra. Xia Hua, coautoras da pesquisa sobre línguas ameaçadas (Fonte: Jamie Kidston/ANU/Divulgação)

Perigos para a diversidade linguística: metodologia e intervenções

Para comprovar sua hipótese de que o contato com outras línguas não é por si só um impulsionador de perda de linguagem, os pesquisadores analisaram 6.511 línguas faladas, com 51 variáveis preditoras. Esses elementos envolveram aspectos relacionados à população, documentação, reconhecimento legal, política educacional, indicadores socioeconômicos e características ambientais.

Entre esses preditores, alguns surpreenderam, como a chamada "densidade da estrada". Bromham explica que "quanto mais estradas houver, conectando o país à cidade, e vilas às cidades, maior o risco de as línguas serem ameaçadas". 

Para evitar essa perda iminente de mais de 1,5 mil linguagens até o final do século, "é necessário um investimento urgente em documentação linguística, programas de educação bilíngue e outros respaldados pela comunidade", conclui o estudo.

ARTIGO Nature Ecology & Evolution: doi.org/10.1038/s41559-021-01604-y