Nem toda radiação faz mal à saúde; entenda

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*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Você já deve ter ouvido ou recebido notícias que afirmam que coisas como ficar na frente do microondas, deixar o notebook no colo ou falar ao celular enquanto ele está conectado ao carregador podem causar câncer. Antes de continuarmos, dá para adiantar que nenhuma dessas afirmações possuem embasamento científico, mas, nas vezes em que elas são acompanhadas de uma justificativa (que não é válida), o termo “radiação” aparece.

É bastante comum que as pessoas tenham a impressão de que toda radiação ou qualquer material radioativo seja algo nocivo. Isso é compreensível, pois em filmes e na cultura popular, incidentes que envolvem radiação ou produzem catástrofes, como no caso da usina nuclear de Chernobyl, ou super-heróis, como o Incrível Hulk.

Mas, na vida real, a radiação é algo bem mais presente do que pensamos. É preciso primeiro deixar claro que, de maneira simplificada, existem dois tipos de radiação: as ionizantes, que possuem energia suficiente para alterar estruturas atômicas e as não ionizantes. Classificando por energia, podemos separar as radiações que carregam mais energia (ionizantes) e possuem maior potencial de alterar o meio por onde passam, incluindo o corpo humano e, eventualmente, o DNA (causando câncer), das menos energéticas que são muito comuns no cotidiano.

São exemplos de radiação não ionizante as ondas de rádio, as ondas do espectro infravermelho que são emitidas o tempo todo pelo corpo humano e são captadas por óculos de visão noturna, por exemplo, e também a radiação visível, que nada mais é do que a luz que chega aos nossos olhos e que nosso cérebro traduz em cores as diferentes energias dessa radiação. É correto dizer, portanto, que vivemos constantemente cercados de radiação e não é por isso que corremos risco de desenvolver um câncer a qualquer instante.

Ilustração de um termômetro que capta nossa radiação infravermelha (e não emite nenhuma radiação sobre nós) para medição de temperatura corporalIlustração de um termômetro que capta nossa radiação infravermelha (e não emite nenhuma radiação sobre nós) para medição de temperatura corporalFonte:  Shutterstock 

Outro exemplo de radiação não ionizante são as ondas emitidas pelo micro-ondas, que não tem o potencial de alterar nosso DNA (não causam câncer), mas podem esquentar nossos tecidos e causar queimaduras se apontadas diretamente ao corpo humano. Isso quer dizer que, se seu micro-ondas está devidamente conservado e vedado, ele não apresenta nenhum risco para a sua saúde ou para a sua comida.

Por sua vez, radiações como os raios ultravioleta, raios-x e até os raios gama, que são radiações de altíssima energia emitidos em tragédias nucleares tem grande potencial prejudicial para o corpo humano se não forem devidamente controladas. E, uma das profissões responsáveis por controlar essas radiações e seus usos em nossas vidas é a do físico médico.

A física médica é uma área pouco conhecida da Física que estuda a radiação e como ela pode servir para a melhoria dos diagnósticos e tratamentos de saúde. O físico médico recebe, em sua formação, conhecimentos específicos de física das radiações e suas interações com a biologia humana e, por isso, é o profissional que desenvolve equipamentos ou planeja tratamentos que envolvam radiações.

Por exemplo, quando precisamos de uma imagem por raio-x, utilizamos um equipamento que emite essa radiação na direção da região de interesse, para que possamos observar a sombra deixada sobre uma chapa (esse tipo de radiação atravessa a pele e os músculos mas não os ossos).

Se você já se perguntou o motivo pelo qual o técnico deve ficar protegido no momento do exame enquanto você está ali, exposto, a resposta está na física médica. Basicamente, esse tipo de radiação só acaba sendo prejudicial se ficarmos expostos à ela por muito tempo. Ou seja, caso você não realize um exame de raio-x todos os dias de sua vida, diferentemente dos profissionais que trabalham com isso, não há motivo para preocupação. Além disso, as salas onde equipamentos como esse ficam localizados costumam ter uma proteção radiológica, calculada pelos físicos médicos que trabalham nos hospitais, para que as pessoas e profissionais estejam seguros do lado de fora.

Ainda, uma das aplicações mais importantes da física médica é a radioterapia, que consiste na utilização de radiações ionizantes para eliminar tumores. Evidentemente, a radiação não consegue distinguir as células cancerígenas das células saudáveis e, por isso, o cálculo da quantidade e do tipo de radiação deve ser muito preciso para causar o menor dano possível ao paciente.

Portanto, atualmente, é bem mais comum encontrarmos situações de radiação curando o câncer do que causando. Desmistificar exemplos como esse é algo de grande importância para nossa vida na sociedade atual, pois assim nos tornamos pessoas menos suscetíveis a notícias falsas e desinformações de qualquer tipo.

Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou

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