Teste com proxalutamida para tratar covid-19 pode ter sido violação ética

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Nas últimas semanas, o Brasil está protagonizando um caso grave de denúncia ética na área da medicina por parte da Unesco. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura protocolou um um pedido de revisão de um estudo realizado no Amazonas que serviu para testar a eficiência da proxalutamida em pacientes com covid-19.

Os testes teriam resultado na morte de 200 participantes da pesquisa, configurando um dos casos mais graves de violação ética médica e de desrespeito aos direitos humanos na história recente da América Latina. Esses estudos já estavam sob o alvo da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), que em setembro solicitou para a Procuradoria-Geral da República que as mortes fossem investigadas – trabalho que tem sido realizado pelo Ministério Público em sigilo.

O que aconteceu de fato?

No Brasil, os estudos envolvendo a proxalutamida começaram no início de 2021, mais precisamente com os testes iniciados em fevereiro sob a liderança do endocrinologista Flávio Cadegiani. Esse medicamento é um bloqueador de hormônios masculinos que está sendo desenvolvido pela farmacêutica chinesa Kintour e vinha sendo pesquisado como forma de tratar câncer de próstata e mama.

Embora não tenha qualquer evidência comprovando sua eficácia no combate aos sintomas da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou a defender o uso da proxalutamida em meados deste ano – assim como ela já havia feito para outros remédios pertencentes ao chamado “kit covid”, como ivermectina e cloroquina, que também são ineficazes contra a covid-19.

Entre as irregularidades apontadas pelo Conep à Procuradoria-Geral da República, além do número de mortes, está a quantidade de participantes do estudo. A autorização permitiria o teste em 294 voluntários, mas uma ampliação sem permissão estendeu esse número para 645 participantes, além da mudança do estudo para o estado do Amazonas.

CovidPaciente de covid-19 recebe tratamento em área isolada de hospital (créditos: shutter_o/Shutterstock)

Outro fato que chama atenção é o fato de que as mortes relatadas eram de pacientes com insuficiência hepática e renal, características de pessoas com manifestações sérias de covid-19. O estudo só havia sido autorizado para voluntários que estivessem com casos leves ou moderados da doença.

Como se não bastassem essas irregularidades, a investigação também aponta que os testes estavam sendo patrocinados por uma empresa que pertence ao grupo de estudo de desenvolvimento da proxalutamida. Ou seja, aos olhos da Conep, existe um inequívoco conflito de interesses na realização dessa pesquisa, que ainda falhou em divulgar corretamente os dados ao longo de seu andamento para a comunidade.

Investigações seguem sem conclusão

Até o momento, todas as investigações acerca dos testes envolvendo a proxalutamida ainda não resultaram em denúncias efetivas ou suspensões. Porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso do medicamento em novas pesquisas em todo o país.

O médico líder dos estudos, Flávio Cadegiani, manifestou-se em suas redes sociais dizendo que os testes foram realizados seguindo todos os princípios éticos e atendendo todas as formalidades exigidas. Além disso, ele acusa a Conep de estar utilizando informações vazadas e inverídicas para induzir ao erro a investigação da Unesco.

A própria organização já declarou que “nenhum tipo de emergência sanitária, ou contexto econômico ou político, justificaria fatos como esses apresentados na denúncia enviada pela Conep”. Além disso, a Unesco também reforça que é do interesse da instituição que todos os pontos sejam esclarecidos, principalmente considerando o respeito aos participantes da pesquisa e aos familiares dos mortos.

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