Radar revela cidade romana inteira sob o solo

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Imagem: University of Camprige/L. Verdonck

Uma equipe de arqueólogos das universidades de Cambridge e Ghent usou um radar de penetração no solo (ground penetrating radar — GPR) para trazer à tona uma pequenina cidade a 50 quilômetros de Roma (Itália) e desaparecida no ano 700 da nossa era: Falerii Novi (Nova Falérios), cujo vestígios se resumem hoje a muralhas e um portão de pedra.

Um portão e muralhas de pedra foi o que sobrou da cidade cujos habitantes se revoltaram contra o poderio romano.Um portão e muralhas de pedra sobraram da cidade cujos habitantes se revoltaram contra o poderio romano.Fonte:  Wikipedia Commons/Howard Hudson 

"O nível surpreendente de detalhes que o GPR revelou em Falerii Novi sugere que esse tipo de pesquisa pode transformar a maneira como os arqueólogos investigam sítios urbanos", disse o professor de Arqueologia Clássica de Cambridge, Martin Millett.

O trabalho da equipe, publicado na revista Antiquity, revelou uma cidade menor que Pompeia, mas com um desenho urbano tão sofisticado quanto ela: Falerii Novi tinha complexo de casas de banho, mercado, templo e um monumento público diferente de qualquer outro conhecido. Segundo os arqueólogos, a cidade em si é arquitetonicamente mais elaborada do que seria de se esperar de um centro urbano desse tamanho.

A cidade de Falerii Novi, a 85 cm da superfície: lojas (1), templo (2), teatro (3); macelo (4), complexo de banhos públicos (5), monumento com um pórtico (6) e ruas (8).A cidade de Falerii Novi, a 85 centímetros da superfície: lojas (1), templo (2), teatro (3), macelo (4), complexo de banhos públicos (5), monumento com um pórtico (6) e ruas (8).Fonte:  Google Earth/L. Verdonck 

Radar a reboque

O uso do GPR é simples e até mesmo prosaico: em Falerii Novi, ele foi rebocado por um quadriciclo, utilizado para percorrer 30,5 hectares dentro das muralhas da cidade enquanto eram captadas imagens do subsolo.

O GPR examina e revela o que está a até um metro abaixo da superfície do solo.O GPR examina e revela o que está a até 1 metro abaixo da superfície.Fonte:  University of Cambridge/Frank Vermeulen 

Perto dos muros foi descoberto um grande edifício retangular, no qual desembocava um complexo de tubulações vindo do aqueduto. O que surpreendeu a equipe foi o detalhe da instalação desses canos: eles passam por baixo dos quarteirões, e não ao longo das ruas, como em outras cidades romanas. Por sua localização e seu tamanho, acredita-se que o prédio devia funcionar como piscina pública, formando com as casas de banho um único espaço.

Perto do portão de pedra que restou, o GPR revelou, segundo comunicado da Universidade de Cambridge, "um par de grandes estruturas de frente para o outro dentro de um pórtico duplo, como uma passagem coberta com uma fileira central de colunas". Segundo a equipe, ela "faria parte de um impressionante monumento público, contribuindo para uma paisagem sagrada intrigante nos limites da cidade".

Arqueologia sem pás

Falerii Novi foi um reassentamento criado depois da revolta contra o poder romano por integrantes de uma das tribos Falisci. Os habitantes de Falerii Veteres (uma cidade importante da Etrúria) foram transferidos para um local menos defensável — a cidade era rodeada por precipícios. Com a mudança, os Falisci seriam menos propensos a se rebelar novamente. A cidade foi abandonada no ano 700.

"É emocionante e, agora, realista, o uso do GPR para pesquisar grandes cidades como Mileto na Turquia, Nicópolis na Grécia ou ainda Cirene na Líbia. Essa tecnologia deve abrir oportunidades sem precedentes para aprendermos sobre a vida urbana romana nas próximas décadas", explicou Millett.

O GPR já foi empregado em pesquisas arqueológicas anteriores, como Interamna Lirenas, na Itália; em Alborough, na busca pelo assentamento romano Isurium Brigantum, o lar em solo inglês da lendária Legio IX Hispana; e mesmo no Brasil, no sambaqui fluvial Capelinha, em Cajati, São Paulo.

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