Desafio Tecmundo: sobrevivendo sem o celular por uma semana [RESULTADO]

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Cartão telefônico não mostra notificação do Facebook =(   (Fonte da imagem: Acervo pessoal)

Meu nome é Caroline e estou há sete dias sem celular. Desde que aceitei o desafio do Tecmundo, não encostei em qualquer dispositivo móvel e sobrevivi por uma semana apenas com um computador, uma máquina fotográfica e o kit que ganhei na semana passada, que aparece na foto acima.

O que eu posso garantir para vocês é que, para quem já está acostumado a ficar conectado 24 horas por dia, ficar sem telefone e sem internet quando se está na rua é a pior sensação do mundo. De todos os dias, os piores foram, sem dúvida, no final de semana. Sábado foi o auge do meu sofrimento, mas vou detalhar no artigo um pouco de tudo o que passei.

A primeira coisa a se considerar é que eu realmente não largo meus aparelhos por nada. Seja para conversar, trocar mensagens ou acessar a internet: eu simplesmente não consigo me desligar. Nem mesmo quando estou de folga fico longe dos meus instrumentos de trabalho.

Nas férias viajei para o exterior e cheguei a contratar o plano de uma operadora gringa, pois não me imaginava ficar por um mês sem celular. E depois dessa semana tenho mais certeza de que seria mesmo impossível.

A dependência dos gadgets

Conversei um pouco com a psicóloga Aline Bonafini para entender melhor os sintomas que tive durante esses dias e, para ela, a dependência dos gadgets e da internet pode ser comparada com a dependência química. “Algumas pessoas relatam que se sentem confusas, isoladas e desconfortáveis quando têm o acesso ao uso de eletrônicos restringido. Em alguns casos, o índice de estresse aumenta pelo simples fato de não poder tocar nos aparelhos. Alterações no humor, comportamento depressivo e reações impulsivas, quando se restringem o uso de aparelhos eletrônicos ou o acesso à internet, são os principais sinais de que a pessoa está usando essas tecnologias de forma excessiva.”.

 (Fonte da imagem: Shutterstock)

Mas o meu caso não era tão grave assim. Segundo ela, algumas pessoas realmente não conseguem continuar a vida sem os aparelhos. “O uso da internet só é considerado dependência quando a pessoa deixa de realizar suas tarefas profissionais ou de lazer e opta por ter relacionamentos somente no ambiente online, ou seja, quando a pessoa perde a autonomia sobre sua vida e vive em função da conexão. Não é mais a tecnologia que está a serviço do sujeito, é o sujeito que vive em função da tecnologia”.

Bonafini ainda ressalta que o tema é uma preocupação atual: “Já existe tratamento para a dependência da tecnologia. Muitas universidades e hospitais universitários possuem programas específicos que oferecem ajuda e tratamento para adolescentes e adultos.”.

Como consegui sobreviver durante esses dias, acho que esse não é o meu caso. Então, vamos ao meu diário?

22/06 – Sexta-feira. Primeiro dia

Cheguei no trabalho e tive os gadgets arrancados de mim. Foi quase uma tortura, mas resisti bravamente (ok, nem tanto). Durante a tarde, perdi minha primeira prefeitura no Foursquare. Aí eu percebi que as coisas talvez não fossem tão simples quanto eu esperava. Ficar no trabalho até que foi fácil, mas na hora em que coloquei os pés na rua não conseguia me livrar da sensação de estar me esquecendo de alguma coisa.

(Fonte da imagem: Acervo pessoal)

A primeira noite foi tranquila, saí, voltei e tudo ok. Acho que ainda não tinha sentido tanto a falta dos aparelhos. Era como se eu tivesse esquecido o celular em casa. Meu maior problema da noite foi configurar o despertador que ganhei no meu kit. Acho que não sei lidar muito bem com aparelhos sem telas sensíveis ao toque.

23/06 – Sábado. Segundo dia

Acordei cedo ao som de “Brilha, brilha, estrelinha”, a música mais legal que tinha no despertador novo (pois é). Fui fazer as unhas no salão. Sem games para me divertir, acabei com revistas de fofoca velhas e isso é realmente chato para quem não sabe nem qual é a novela das 8h.

Perdidos na favela

Depois do almoço começaram as maiores aventuras da semana. Eu tinha dois aniversários para ir, um em cada lado da cidade. Sem contar com o GPS, recorri aos mapas. Não entendi nada do caminho, pedi ajuda aos meus pais e lá fomos nós, atrás de uma rua de que eu nunca tinha ouvido falar em um bairro distante do centro.

Levamos 30 minutos para chegar na região e mais 40 minutos para encontrar o endereço. Nos perdemos, paramos para pedir informações, rodamos, rodamos, rodamos e a rua parecia não existir. Depois de 30 minutos de procura fomos parar no meio de uma favela. Gente olhando estranho para o carro, becos e ruas sem saída. Foram poucos momentos da minha vida em que eu pensei que ia morrer e aquele foi um deles.

Google Maps: senti saudade, seu lindo! (Fonte da imagem: Reprodução/Google Maps)

Ali, no meio da favela, precisamos parar para pedir informação simplesmente por não encontrarmos a saída. Passamos por mais algumas ruas estreitas e, finalmente, uma rua fora dali. Então, foi só seguir em frente e a rua estava lá.

Era aniversário de um ano do filho do meu melhor amigo, e a festa foi linda. Meu maior sofrimento ali era não poder postar fotos da decoração e do bolo mais lindo do mundo. Sentia meu Instagram chorando de saudade, mas resisti.

Bar sem celular

Saí de lá e fui para outro aniversário, agora da minha melhor amiga. Lá todos já sabiam do desafio e não paravam de rir da minha situação. Faziam check-in no Foursquare, ligações, fotos e mandavam mensagens. Tudo para testar minha resistência. Descobri que uma mesa de bar com pessoas viciadas em tecnologia pode ser frustrante para quem não está com seus gadgets em mãos.

Sem check-in, sem badges! (Fonte da imagem: Reprodução/Foursquare)

Em um grupo de 30 pessoas, eu era a única sem celular. Eu sofri pela falta dos aparelhos, mas fingi que não pra ver se eles paravam (até que funcionou). Depois de uma mudança de planos, precisava avisar meus pais que eu não voltaria cedo, mas a questão era: como?

Não tinha nenhum orelhão por perto e eu não poderia usar um celular emprestado. Saindo dali, passei na casa da minha amiga para usar o telefone fixo. Depois disso me diverti bastante, desliguei completamente e nem lembrava mais que poderia precisar do telefone.

24/06 – Domingo. Terceiro dia

Sem o celular para me despertar, acordei muito atrasada e tinha um almoço de família para ir. Saí correndo para tentar chegar a tempo, mas sem celular e sem relógio as coisas são um pouco mais complicadas. Chegando lá respondi ao questionamento de todos sobre o desafio e ainda não conseguia ficar longe de computadores, afinal, era a única forma de contato que eu tinha com o mundo.

Ctrl + F nos livros, cadê? (Fonte da imagem: Acervo pessoal )

Na casa da minha tia, encontrei algumas Barsas e pude fazer pesquisas como o contrato do desafio previa. É bastante engraçado se lembrar dos estudos antes da internet e, principalmente, antes do Ctrl + F. Tudo era mais demorado e trabalhoso.

25/06 – Segunda-feira. Quarto dia

O despertador não tocou na hora certa ou ele simplesmente não tocava o suficiente para me acordar. Com meu celular, costumo usar um aplicativo que me acorda à força. Sem ele, acabou a possibilidade de chegar antes das 10 horas no trabalho.

Pode parecer besteira, mas isso realmente acabou com a minha rotina. Chegando mais tarde na NZN, eu precisava sair mais tarde. Acordando tarde eu também deixei de lado minha rotina de exercícios. Saindo tarde do trabalho, eu não tinha pique para correr à noite – e, o pior: meu iPod recheado de músicas que me animam não estava lá, ou seja, esqueça os exercícios por uma semana.

26/06 – Terça-feira. Quinto dia

Com meus horários todos alterados, eu também acabei deixando de lado o controle do meu banco de horas no trabalho. E como eu fazia o controle? Com um aplicativo, obviamente. O meu trabalho também mudou completamente: como eu não poderia tocar em celulares, deixei de lado o teste de apps e comecei a fazer notícias para o Tecmundo. Nada contra elas, mas quebra totalmente o ritmo de quem não está mais acostumado com isso.

Jetpack Joyride <3 <3 <3 (Fonte da imagem: Reprodução/App Store)

Voltando para casa, eu não tinha sono e não tinha mais o que fazer. Sem meus gadgets, eu fiquei sem meus dois jogos favoritos: Jetpack Joyride e Hex Defense. Isso mudou completamente meus hábitos de consumo de conteúdo online. Passei a acessar e usar muito o Pinterest, uma rede para a qual eu nem dava bola antes do desafio.

27/06 – Quarta-feira. Sexto dia

A esse ponto eu já estava sofrendo muito pela falta do meu iPod: sem música, o trajeto para o trabalho era horrível e os 15 minutos que eu passo dentro do ônibus se tornavam uma eternidade. Meu ritmo no trabalho também diminuiu pela falta de trilha sonora. Procurar artistas no Grooveshark me fazia perder tempo e me deixava irritada. Senti falta das minhas playlists prontas.

Não adianta. Não consigo viver sem meu iPod. (Fonte da imagem: Reprodução/Grooveshark)

Outro ponto que me fazia perder tempo era a falta da leitura dos meus emails, redes sociais e notícias logo pela manhã. Eu geralmente faço isso ainda na cama ou, no máximo, enquanto tomo minha xícara de café assim que levanto. Sem os gadgets, eu passei a fazer isso só depois de chegar ao escritório. Me dava nervoso também não saber o que estava acontecendo no mundo antes de chegar ao trabalho.

28/06 – Quinta-feira. Sétimo dia

Assim que entrei no Facebook, descobri que alguns amigos tinham saído e me convidado para sair, mas eu não tinha visto. Nós geralmente nos comunicamos por lá, mesmo quando estamos na rua. Acordar e ver um “vem pra cá que tá muito legal – enviado há seis horas” não foi o ponto alto do meu dia.

Foi mal, galera =(   (Fonte da imagem: Reprodução/Facebook )

Foi no último dia de desafio que eu finalmente parei de procurar meus gadgets nos bolsos. Foi também quando parei de ter a sensação de que meu celular estava vibrando. Parece que por saber que a tortura estava chegando ao fim, eu relaxei mais e deixei de surtar pela falta deles.

À noite, saí com um casal de amigos e, pela primeira vez na semana, não senti a sensação de que alguém poderia precisar de mim e não teria como me encontrar. Fiquei quase quatro horas sem comunicação com o mundo e, pela primeira vez, não me senti mal com isso.

28/06 – Sexta-feira. A volta dos gadgets

Cheguei no trabalho e encontrei alguns aparelhos nada modernos na minha mesa. A brincadeira funcionou, mas eu estava querendo mais que tudo pegar meu celular na mão. A hora estipulada no contrato era 10 horas e eu tive que esperar mais um pouco. Liguei meus aparelhos e uma enxurrada de notificações, mensagens e chamadas perdidas apareceu. Não me senti tão mal quanto pensei que seria.

¬¬ esses NÃO são meus gadgets (Fonte da imagem: Acervo pessoal)

Agora estou aqui, escrevendo o artigo e ouvindo minhas músicas. Com elas minha manhã rendeu muito mais do que todas as manhãs da última semana juntas. Amo meus gadgets e nunca mais vou me separar.

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Com tudo isso, percebi que meu vício na tecnologia é grande, mas que ficar conectado com o mundo tem sim suas vantagens e é essencial em muitos casos. O celular permite uma espontaneidade que não conseguimos ter sem ele. Sem poder se comunicar com as pessoas é muito mais difícil mudar de ideia, fazer novos planos ou chamar alguém para sair de última hora.

Além disso, tudo fica muito mais demorado de fazer: para postar uma foto em redes sociais, eu precisava passar as fotos para o computador e só depois publicar. Mesmo sendo uma coisa simples, isso realmente me desanimava e me fez deixar de postar muitas coisas que, com o celular, certamente iriam para a rede.

Se você, assim como eu, não larga seus gadgets para nada, o que faria se ficasse uma semana sem qualquer forma de conexão móvel? Quem aí topa o desafio?

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