Fomos ao 1º teste de LTE Broadcast da América Latina; conheça a tecnologia

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Mesmo que o 5G desponte como uma espécie de solução definitiva para os mais diversos desafios do universo mobile, o 4G ainda parece longe de mostrar todo seu potencial e suas novidades. Aproveitando a realização do Rio Open 2016, a Claro, ao lado da NET, promoveu uma ação inédita no segmento em toda a América Latina: a primeira transmissão de conteúdo da região através da tecnologia LTE Broadcasting. Assim, na sexta-feira (19), fomos ao Rio de Janeiro para conferir em primeira mão os testes na prática.

Para levar a empreitada adiante e veicular imagens e material exclusivo do torneio de tênis sediado na capital carioca, as empresas do grupo  América Móvil se uniram a parceiras como Qualcomm, Ericsson e Samsung – cada uma delas contribuindo para áreas distintas do projeto. Antes que pudéssemos brincar com o novo recurso baseado no 4G, a operadora de telefonia fez uma apresentação sobre o potencial e os diferenciais da ferramenta, contando com executivos de todas as partes envolvidas na demonstração.

Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da América Móvil Brasil, foi quem iniciou explicando como o consumo cada vez maior de dados móveis e o crescimento da demanda por conteúdo em vídeo por parte dos usuários tem feito com que as companhias precisem pensar em novos formatos de distribuição. Um das soluções encontradas foi o LTE Broadcast, especializado na transmissão massiva de arquivos desse tipo para áreas com uma grande concentração de pessoas – e, por consequência, acessos simultâneos para o mesmo material.

Como funciona?

A tecnologia basicamente dispensa o modelo mais tradicional de veiculação, chamado Unicast, em favor de um método que funciona como a veiculação de TV aberta, reservando uma faixa ou canal das torres de transmissão para emitir um sinal que pode ser aproveitado ostensivamente pelos consumidores. Tudo isso a um custo muito menor por acesso e sem causar a já conhecida saturação das redes de telefonia, que sofre com lentidões, congestionamentos e queda quando muita gente resolve fazer uso pesado do sistema.

Inicialmente, o principal foco do recurso parece ser o uso em eventos ao vivo, como partidas esportivas e shows, permitindo que os usuários, por meio de apps feitos sob medida para o produto, possam acessar conteúdo exclusivo e em tempo real de forma eficiente e estável – sem deixar fatores como qualidade. Como a área de cobertura pode ser definida pelo produtor ou distribuidor do conteúdo, a expectativa é que esse novo modelo também possa servir para ações comerciais e até avisos de emergência – como desastres naturais.

No caso do Rio Open, por exemplo, algumas antenas da Claro delimitavam a região em que era possível assistir às partidas apenas ao Jockey Club Brasileiro. Na teoria, isso fazia com que bastasse deixar as imediações para que o aplicativo Claro Esportes – adaptado para o uso do LTE Broadcast em pouco mais de 48 horas pela desenvolvedora Movile – parasse de oferecer o conteúdo exclusivo atrelado à tecnologia, como câmeras exclusivas, informações sobre as partidas e vídeos com delay reduzido.

“De forma simplificada, é uma otimização da estrutura da rede”, analisou Jefferson Nobile, diretor de soluções de TV e mídia da Ericsson, explicando que essa flexibilidade do formato e da cobertura poderia permitir a veculação de um capítulo final de novela a toda uma cidade ou um estado sem acabar com o ecossistema mobile desses locais. Tudo isso soa muito interessante e parece ser bastante vantajoso tanto para o usuário final quanto para as empresas de tecnologia. Porém, sair do papel pode requerer esforço – e paciência – extra.

Estágio embrionário

Durante o evento, a impressão mais forte era de que o LTE Broadcast é um formato cheio de potencial e que pode trazer vantagens claras em relação à estrutura vigente. Porém, simultaneamente, pareceu que nem mesmo os porta-vozes locais do recurso sabiam dizer qual o destino exato da tecnologia ou que tipo de modelo de negócios será aplicado na prática a esse tipo de transmissão via 4G. Oferecer um produto-conceito sem uma espécie de pacote básico, muitas vezes pode resultar em empreitadas não tão favoráveis.

No entanto, diversos dos executivos fizeram questão de explicar que muito dessa incerteza ainda é fruto do fator novidade da ferramenta, com alguns poucos testes nos EUA e na Europa e uso comercial apenas na Coreia do Sul – ainda em pequena escala. “É uma tecnologia que está se iniciando em todo o mundo. O Brasil também está na vanguarda”, comentou Márcio Carvalho, diretor de marketing da NET, traçando também uma analogia à migração dos consumidores para os pontos HD da TV por assinatura e à adoção do próprio 4G.

Segundo ele, a ideia realmente é fomentar um cadeia de negócios ao mostrar uma tecnologia que pode ser aplicada aos mais diversos tipo de projetos, sejam eles massivos – exigindo um investimento pesado para obter uma fatia maior de público – ou do mesmo modo como foi demonstrado no torneio de tênis. “O LTE Broadcast está evoluindo como padrão, mas ele é bastante flexível e pode funcionar com diversos modelos de entrea de serviço”, complementou Roberto Medeiros, diretor sênior de desenvolvimento de produtos da Qualcomm Brasil.

Botando a mão na massa

Mesmo sendo promissora, a tecnologia também enfrenta algumas barreiras técnicas. A transmissão que pode desbancar o Unicast em acessos múltiplos exige que o dispositivo mobile esteja equipado com um chip Exynos ou Snapdragon das linhas mais recentes. O problema? Não há nenhum celular disponível no Brasil que tenha o recurso habilitado. Os aparelhos Galaxy S6 Edge e Galaxy S5 distribuidos durante a demonstração, por exemplo, tiveram que ser modificados para darem o suporte necessário à função.

A boa notícia é que, na maioria dos casos, o hardware resposável por essa ação já está presente nos SoC em um estado dormente, bastando uma atualização de firmware para que funcionem sem nenhum problema. Infelizmente, não dá para saber como isso vai se desenrolar na prática, já que a decisão de forçar um update do sistema em equipamentos antigos ou lançar uma nova série de smartphones com a ferramenta já habilitada desde o início depende única e exclusivamente de cada fabricante.

Adicionalmente, ao explorar as funções do aplicativo e do LTE Broadcast por cerca de 15 minutos, percebemos que os flagships da Samsung (versão Exynos) ficaram extremamente quentes ao longo de toda a operação – a ponto de incomodar na hora do manuseio. De acordo com um porta-voz da marca, a temperatura elevada se dá por causa do uso intenso do processador e do acesso contínuo à rede mobile, mas que isso pode vir a ser solucionado com aperfeiçoamentos da tecnologia e dos softwares que intermediam a operação.

Outro ponto que não esclarecido foi quanto o consumidor vai ter que tirar do bolso para usufruir da novidade. Segundo os executivos da América Móvil Brasil, ainda não foi definido se assinantes da Claro e NET precisarão pagar taxas extras para consumir esse tipo de conteúdo ou se haverá algum plano parecido com que permite que os gastos com WhatsApp, Facebook e Twitter não sejam contabilizados. Esse último formato seria ideal para evitar que você detone a sua franquia mensal ao brincar com a plataforma por alguns momentos.

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Em questão de qualidade da experiência, a imagem fica muito boa na tela do celular, não apresenta travadas durante a reprodução e tem um delay bem reduzido para começar a execução dos vídeos – algo essencial para um recurso que possibilita troca de câmeras constantes. Como a Qualcomm oferece um SDK bastante intuitivo para a criação de aplicações para a tecnologia, a perspectiva é que os desenvolvedores mais criativos possam implementar cada vez mais novidade com base nessa modalidade do 4G LTE.

Melhor ficar de olho

Ainda que os representantes das empresas tenham dito que talvez esteja muito em cima da hora para que o formato de transmissão seja aplicado aos Jogos Olímpicos 2016 – um evento que teria o porte necessário para vender o conceito –, ficou claro que novos testes devem ser feitos muito em breve. Ao navegarmos pelo app, por exemplo, vimos que, além de um ponto de LTE Broadcast posicionado no clube que sedia o Rio Open, havia também dois indicadores na região do Maracanã – possivelmente para o estádio e o ginásio locais.

O diretor da Qualcomm também comentou que boa parte das grandes operadoras de telefonia com infraestrutura LTE instalada no país também já se mostrou interessada em fazer seus próprios testes. “Esperamos que elas se sintam provocadas a também darem um passo à frente com a tecnologia”, disse Medeiros depois da sessão de demonstrações, avaliando ainda que o mais provável é que todos estejam tentando achar o modelo mais interessante para comercializar o LTE Broadcast por aqui.

Adicionalmente, o executivo teorizou que o formato poderia ser expandido além do seu projeto original. Um exemplo seria uma espécie de roteador multimídia – como as set-top boxes – que, adaptado para receber os sinais móveis, transmitiria o LTE Broadcast para uma área específica. Ele explicou também que a vinda do 5G não ameaça de nenhuma maneira o novo sistema, com a rede mais robusta, na verdade, mostrando uma tendência de agregar valor ao formato, possibilitando mais rapidez e muito mais qualidade às transmissões.

Com tudo isso em mente, todos nós vamos precisar aguardar para ver qual é o real futuro desse uso das redes móveis. Por enquanto, resta torcer para que o potencial da tecnologia seja devidamente explorado, dê suporte à demanda esmagadora dos consumidores por vídeos nos dispositivos mobile e, se possível, não custe uma fortuna ao usuário final.

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