Imagem de No Man's Sky
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No Man's Sky

Nota do Voxel
75

Uma viagem contemplativa rumo ao centro do Universo

Escrever uma análise de No Man’s Sky é uma tarefa difícil. Esse é um daqueles jogos que desafia a lógica que normalmente empregamos em um review: tanto é impossível “explorar tudo” o que ele tem a oferecer quanto decidir correr rumo ao objetivo final apresentado pela desenvolvedora faz com que se perca o propósito do game.

Em outras palavras, não, eu não consegui ver tudo o que a Hello Games preparou para o título. Tampouco creio que isso seria possível, mesmo que pudesse dedicar centenas ou milhares de horas à aventura — afinal, são literalmente milhões de planetas a explorar, cada um deles com características ligeiramente únicas e diversos segredos escondidos em cantos que nem mesmo usando toda a minha atenção eu conseguiria encontrar.

No entanto, mesmo quem passar somente algumas horas com o título vai notar que esse universo, embora gigantesco, segue certos padrões facilmente identificáveis — o que torna a realização de uma análise possível. Em No Man’s Sky, você vai encontrar uma experiência em que é possível se perder durante anos sem ver tudo o que existe — no entanto, algumas limitações técnicas podem fazer com que você desista de fazer isso muito antes dos conteúdos oferecidos serem esgotados.

Igual, mas diferente

Ao começar o game, todos os jogadores são jogados em um planeta criado de forma procedural com uma missão: consertar uma nave e sair daquele local. E é nesse ponto em que a experiência começa a tomar características únicas a cada pessoa — enquanto eu tive a sorte de ser mandado a um planeta com atmosfera inofensiva, você pode se deparar com um ambiente tóxico que vai corroer aos poucos seus escudos.

É fácil ficar um tanto perdido nos momentos iniciais, especialmente levando em consideração a quantidade de elementos que é possível coletar. Sem a certeza de saber exatamente o que é preciso para avançar, é comum tentar coletar tudo o que há pelo caminho e se deparar com inventários cheios de coisas que não têm utilidade imediata.

Felizmente, bastam algumas horas de exploração para que essa sensação de opressão passe e você comece a entender como esses mundos funcionam. O game não chega a ter um tutorial em si, somente contando com pequenas dicas do que é preciso fazer para progredir — assim, vale a pena ao menos conferir a tela de configuração de controles para aprender alguns comandos essenciais para sobreviver à aventura.

Não se engane pensando que No Man’s Sky é somente um “Minecraft com ambientação espacial”. Sim, você vai passar um tempo considerável minerando diferentes materiais, mas o sistema de criação de itens disponível é um tanto limitado e não chega a tomar papel central, com algumas pequenas exceções pontuais.

O título também não é voltado aos combates, embora eles existam de forma um tanto limitada. A maior parte de seus adversários é constituída por drones e alguns animais agressivos (a maior parte da fauna tende a ser pacífica), sendo que é possível lidar com eles com relativa facilidade devido às suas inteligências artificiais limitadas. Mais para frente, também é possível participar de algumas batalhas espaciais que, embora emocionantes em um momento inicial, pecam pela falta de variedade.

Foco na exploração

O grande destaque de No Man’s Sky (e o que deve decidir se você gosta ou não do game) é sua exploração. Embora o jogo constantemente lembre que é preciso fazer algo específico para cumprir o objetivo principal, o real aproveitamento da aventura surge quando o jogador se permite explorar calmamente o que há a seu redor.

Cada planeta possui uma fauna e uma flora própria, que podem ser analisadas mediante a instalação de um visor em sua ferramenta multiuso, que também serve como arma. Registrar todas as espécies de um local rende créditos espaciais (o dinheiro do jogo) e a possibilidade de renomeá-las de maneira livre — processo que não é obrigatório e que, justamente por isso, se mostra prazeroso.

Infelizmente, as soluções procedurais usadas pela Hello Games não são diversas o suficiente para evitar que você note certos padrões, tanto no tipo de exploração oferecida quanto na maneira como fauna e flora são construídas. Ao chegar a um novo planeta, espere sempre encontrar algumas estruturas protegidas por drones, ao menos um centro de comando habitado e diversos pontos de interesse que só revelam caixas com itens aleatórios.

Essas estruturas se repetem em todas as galáxias que você explora, o que contribui para tornar o jogo um tanto repetitivo — especialmente quando sua intenção é simplesmente cumprir o essencial para continuar seu caminho rumo ao centro do Universo. Para evitar que o jogador note demais essas estruturas repetitivas, a desenvolvedora espalhou por cada localidade uma série de elementos que ajudam a trazer um pouco mais variedade ao game.

Durante minha experiência com No Man’s Sky, senti que o jogo brilha realmente nos momentos em que, ao decidir me perder em um planeta, encontrei aleatoriamente uma nova fórmula de equipamento ou marcos que ajudavam a aprender o idioma de uma espécie alienígena. Os monólitos espalhados por alguns locais são especialmente interessantes, tanto por oferecer alguns quebra-cabeças simples quanto por serem um dos poucos locais que mostram algum relance do que motiva a missão principal.

O game também tem alguns elementos de sobrevivência, que surgem na forma de um “sistema de manutenção de vida” que se descarrega constantemente, uma barra de vida e na necessidade constante de recuperar o combustível de sua nave e na “munição” de sua ferramenta multiuso. No entanto, essas mecânicas só se mostram desafiadoras nos momentos iniciais da aventura, quando o jogador ainda não tem ideia de como elas funcionam direito.

Em questão de poucas horas, a mensagem que indica que seu sistema de sobrevivência está com carga baixo (embora ele esteja 75% cheia) e a falta de carga para minerar recursos só se tornam distrações menores. O jogo é bastante generoso ao oferecer os elementos necessários para manter seus itens funcionando perfeitamente, o que significa que é preciso jogar de maneira bastante negligente para que esse sistema ofereça qualquer espécie de desafio para sua sobrevivência futura — em outras palavras, depois de certo tempo, ele gera mais aborrecimento do que tensão.

Gerenciamento de inventário

O principal defeito de No Man’s Sky reside em seu sistema de inventários, cujos limites se mostram um tanto estranhos quando levamos em consideração as demais mecânicas do título. Tanto sua mochila quanto sua aeronave (que serve como uma espécie de depósito) possuem espaços iniciais bastante limitados, capazes de se tornar ainda menores se você optar pelo desenvolvimento de melhorias.

Ao incorporar à sua mochila um sistema que permite correr, por exemplo, o jogador tem que sacrificar permanentemente um espaço que poderia ser destinado a armazenar elementos ou itens. O espaço disponível pode ser aumentado, mas depende de certa dose de sorte: em alguns pontos do mapa, há estações em que você pode comprar um slot adicional — no entanto, a própria natureza gigantesca do game pode determinar que você passe algumas horas sem encontrar nenhum desses locais.

A mesma limitação acontece no que diz respeito à nave: além de ter que obrigatoriamente sacrificar alguns espaços para construir melhorias essenciais ao desenvolvimento do jogo (como um propulsor que possibilita viajar entre galáxias), o jogador tem como única alternativa para aumentar o espaço disponível a compra de novas espaçonaves, algo que não sai exatamente barato.

Isso cria uma necessidade constante de gerenciar seu inventário que não é nada divertida. Depois de certo tempo, você se acostuma a simplesmente pegar aquilo de que precisa para sobreviver — algo que é no mínimo contraintuivo em um game cujas mecânicas estimulam a exploração de ambientes e a mineração de elementos.

Também não ajuda muito o fato de que No Man’s Sky não oferece qualquer mapa para o jogador, tampouco dá a oportunidade de criar pontos de referência. O jogador depende somente de um radar que indica diferentes elementos e pontos de interesse na região próxima, que nem sempre ajuda a descobrir o que fazer: uma fonte de energia, por exemplo, pode ser tanto o combustível específico para os propulsores de sua nave quanto o plutônio que já enche seu inventário.

Nesses momentos, o tamanho gigantesco dos ambientes ganha características negativas: muitas vezes, você vai passar minutos andando em uma direção simplesmente para descobrir que aquilo que necessita para progredir não está lá. A impossibilidade de definir pontos de interesse é especialmente frustrante nesse sentido: além de não ter maneira fácil de marcar os locais em que um elemento importante se concentra, o jogador também não é estimulado a retraçar seus passos.

Em um momento inicial de minha aventura, encontrei uma arma bastante poderosa, que não pude adquirir pela falta do dinheiro necessário. Quando finalmente adquiri o valor, continuei sem o equipamento: apesar de saber o planeta onde ele estava, o game não possuía qualquer marcador que facilitasse voltar ao ponto em que o item era oferecido.

Levando em consideração que uma viagem pela superfície de um local pode levar algumas horas (em tempo real) para ser finalizada à bordo de uma nave viajando rapidamente, decidi que era melhor aproveitar meu tempo descobrindo novos ambientes e torcendo para uma arma tão boa quanto aquela surgir no futuro.

Interação com outras raças e economia

No Man’s Sky é essencialmente uma experiência solitária, mas isso não significa que você está sozinho no universo. Em alguns pontos do cenário, você pode encontrar algumas formas de vida e interagir com elas — algo que, infelizmente, acontece de maneira um tanto limitada.

Cada raça alienígena possui um idioma próprio que o jogador aprende investigando monólitos e encontrando itens que revelam palavras individuais. Esse processo deve ser repetido várias vezes, visto que galáxias diferentes são habitadas por raças com características variadas, sendo que nem sempre elas interagem entre si de forma pacífica.

Um ponto certo para conversar com NPCs são as estações espaciais espalhadas pelo universo que, em seu interior, revelam pontos para vender e comprar itens. Você também pode negociar recursos com alienígenas e até mesmo fazer ofertas por suas naves — as opções não vão muito além disso.

O game possui um sistema de economia no qual determinados itens possuem preços mais baixos ou altos dependendo do ponto em que você está. A partir disso, você pode aumentar sua fortuna usando regras básicas de demanda e oferta que não são exatamente difíceis de entender.

No entanto, o jeito burocrático como essas interações acontece pode fazer com que o sistema seja explorado somente por um número limitado de jogadores. Além de ter que lidar com o já mencionado limite de inventário, o empreendedor que quiser lucrar com a venda de elementos ainda vai ter que aguentar os loadings disfarçados e as longas viagens entre universos que vai ser obrigado a fazer.

Uma grande conquista técnica

Desde seus momentos iniciais, No Man’s Sky é um game que surpreende muito do ponto de vista técnico. A pequena equipe da Hello Games conseguiu criar um dos games mais atrativos a aportar no PlayStation 4, tanto no que diz respeito aos gráficos em si quanto pela direção artística adotada.

Embora seja claro que alguns sacrifícios foram necessários para conseguir o resultado final (a qualidade das texturas, por exemplo, nem sempre é alta), é difícil acreditar na maneira como a empresa conseguiu explorar o hardware do console. Embora haja quedas pontuais na taxa de quadros por segundo, elas nunca prejudicam a experiência geral, que se mostra bastante estável.

A trilha sonora também é um ponto forte, apresentando faixas baseadas em sintetizadores que ajudam a criar a impressão de que estamos em um filme de ficção dos anos 80. As músicas são bastante variadas entre si e possuem a grande qualidade de em nenhum momento se tornarem repetitivas — algo difícil de conseguir em uma experiência capaz de durar algumas centenas de horas.

Infelizmente, mesmo com aplicação do patch de dia 1, o game apresentou alguns bugs que prejudicaram um pouco a experiência. Entre eles, estava a impossibilidade de iniciar a aventura após o carregamento inicial, o que nos obrigou a recarregar o game para finalmente conseguir iniciá-lo corretamente — algo que, naturalmente, deixa qualquer jogador com uma péssima primeira impressão.

Vale a pena?

No Man’ Sky é uma experiência que vai desafiar o “hype” de muitas pessoas. Ao contrário do que o material promocional divulgado pela Sony pode dar a entender, esse não é somente um jogo sobre explorar a vastidão do universo e descobrir novos planetas. Também há elementos de sobrevivência, combate e mineração que, se não são exatamente complexos de maneira individual, contribuem para criar uma experiência mais completa.

Embora não exista uma “maneira certa” de aproveitar esse universo, sinto que ele é muito mais adaptado a quem gosta de explorar ambientes de forma lenta e cuidadosa e não quer necessariamente cumprir o quanto antes o objetivo final. Em outras palavras, esse é um jogo muito mais contemplativo do que o material promocional dá a entender, se aproximando mais do universo indie do que de um grande lançamento Triplo A.

Infelizmente, em alguns pontos parece que as pretensões da Hello Games ultrapassaram sua capacidade de entregar uma experiência balanceada. Elementos como o inventário bastante limitado até podem ser corrigidos em patches futuros, mas isso não é justificativa para o nível de irritação proporcionados por eles atualmente. Da mesma forma, é difícil acreditar que uma atualização vá aprimorar o sistema raso de interações com NPCs.

Em No Man’s Sky, encontrei uma experiência que tem o potencial de ocupar meses de uma vida — contanto que o jogador consiga lidar com alguns de seus elementos mais repetitivos. Com qualidades que superam seus problemas, o título merece espaço no catálogo de quem procura uma experiência mais contemplativa e lenta, mesmo estando longe de cumprir todas as promessas associadas a ela durante seu processo de desenvolvimento.

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Pontos Positivos
  • Um universo realmente gigantesco
  • Cada planeta tem características próprias
  • Ótima direção artística
  • Diversos segredos para descobrir
  • É sempre divertido descobrir novas espécies e renomeá-las
Pontos Negativos
  • Sistema limitado de criação de itens
  • O inventário é muito limitado
  • Combate raso
  • Pode se tornar repetitivo rapidamente
  • Interações muito superficiais com NPCs