Simplesmente o melhor simulador de direção no Playstation 2

Gran Turismo 4 expande razoavelmente as opções de jogo, carros e fabricantes apresentadas em Gran Turismo 3, embora não inove em nenhum setor da experiência de jogo. Pelo menos até sua próxima versão no PS3, continua sendo o melhor e maior Gran Turismo disponível, com conteúdo suficiente para ser jogado por meses.

Paixão por carros

Gran Turismo é uma franquia que divide jogadores, pois não é “apenas mais um jogo de carro”. Desde sua primeira versão ainda no Playstation, a Polyphony Digital - desenvolvedora do jogo - deixou clara sua intenção de que o título fosse um Real Driving Simulator, um simulador de direção. Ou seja: não é um jogo de corrida.

Mas isso não impediu que fãs de corrida no estilo Arcade – Need for Speed, Outrun e etc. - se aproximassem de Gran Turismo, já que ele sempre ofereceu uma variedade tentadora de veículos e circuitos. Muitos deixam a experiência com frustração, principalmente por causa das infames “carteiras”, necessárias para acessar os eventos mais avançados do jogo. O jogo sempre premiou o cuidado na direção ao invés de velocidade, e demora um pouco pra pegar o jeito da direção em Gran Turismo.

Ainda, ao longo de suas 4 versões (consoles portáteis excluídos), o foco dos desenvolvedores no tuning foi aumentando, e em Gran Turismo 4 (GT4) ele tem papel predominante para vencer as corridas, notadamente as mais longas. Conceitos complexos de mecânica foram incorporados ao jogo e o desempenho do veículo realmente sofre mudanças drásticas através de alterações mínimas em configurações de suspensão, aerodinâmica ou troca de marchas.

Devido a esses fatores, GT4 é um jogo voltado para jogadores apaixonados por carros e tuning, e não necessariamente para gamers apreciadores de jogos de velocidade.

Aula de mecânica

O nível de detalhe e possibilidade de ajuste dos carros em GT4 é quase absurdo, se você considerar que ele deveria ser “só um jogo”. Praticamente todas as partes que podem influenciar no comportamento de um veículo estão presentes, e ocorrem diferenças substancias do efeito de cada uma em relação aos diferentes carros. Assim como na vida real, o tuning em GT4 possui tantas opções que provavelmente deve ser deixado nas mãos de quem entende do assunto; procure aquele seu amigo louco por carros pra lhe explicar exatamente o que um turbo-compressor faz e qual a diferença dele pra um supercharger, antes de fazer sua compra.

Diferente de outros jogos, não é simplesmente uma questão de ir comprando as peças mais caras, a fim de melhorar a velocidade e aceleração do veículo. Muitas vezes o aumento exagerado da potência de um veículo em GT4 pode fazer com que ele se torne incontrolável. Aumentos de potência e instalação de kits turbo normalmente exigem ajustes concomitantes de aerodinâmica, força de frenagem, rigidez da suspensão e etc. Não basta fazer upgrades de forma linear, pois cada carro tem características próprias que precisam ser consideradas antes do implemento das modificações.

Caso você já seja um especialista no assunto, vai se deparar com o único jogo disponível em consoles que trata as peças de acordo com suas contrapartes e efeitos reais. É realmente um prato cheio para os entusiastas do tema. Mas se você optar por mexer nos ajustes finos de seu carro, é bom procurar os diversos guias sobre GT4 disponíveis na internet, a fim de não se frustrar fazendo mudanças através de tentativa e erro. GT4 é um dos poucos jogos que exige que você realmente estude, a fim de aproveitar integralmente os recursos de jogabilidade disponíveis.

Não que os ajustes sejam inacessíveis aos jogadores leigos, pois GT4 faz um bom trabalho explicando exatamente o que cada peça faz, e como a mudança de uma peça vai afetar o seu veículo. No caso de peças vitais, como a caixa de marchas totalmente customizável, existem ajustes automáticos, que permitem que você diminua ou aumente a relação entre as marchas através de opções padronizadas.

Esse tipo de ajuste precisa ser dominado mesmo pelos jogadores que não se interessam pelo assunto, pois nesse caso específico das marchas, as mudanças afetam a recuperação de velocidade em circuitos com muitas curvas, por exemplo. Falha em realizar estas mudanças entre os circuitos faz com que os jogadores imaginem que precisam de um carro mais potente, quando na verdade a necessidade é de um carro mais ajustado à pista.

Embora pareça complicado, gradualmente o jogador vai sendo envolvido pelo sistema, bastando um pouco de paciência e leitura dos textos relacionados às peças para entender o básico das modificações. A falta de paciência com o tuning têm afastado muitos jogadores, e por causa dessa parte do jogo pode ser que GT4 não seja adequado ao seu estilo de jogar.

Toda equipe precisa de estratégia para vencer

Outro modo importante introduzido em GT4 é o B-Spec; nele você assume o lugar de espectador, passando ordens ao piloto de seu carro sobre como agir na corrida. À primeira vista parece desinteressante, já que o maior atrativo do jogo é criar monstros potentes e pilotá-los nos circuitos. Que graça tem ficar olhando? É como se fosse apenas um replay.

A diferença de um replay é que aqui suas ordens dirigem o carro em tempo real. Você pode passar diretivas como “forçar uma ultrapassagem”, “dirigir mais rápido” e “manter o ritmo”, definindo o que seu piloto deve fazer em diferentes partes da pista. É uma maneira interessante de conhecer os trechos mais complicados e a melhor forma de abordá-los. Muito útil, por exemplo, se você está tendo problemas para vencer uma corrida específica. A visão de fora ajuda a mudar a perspectiva e entender o que você está fazendo de errado.

Este modo é interessante por si só, e seu nível em B-Spec melhora conforme seu piloto vence corridas. Isso faz com que suas ordens sejam obedecidas de forma mais exata ainda em corridas posteriores, facilitando o avanço no jogo. Mas a maior vantagem do domínio sobre este modo é que você pode deixar o jogo fazer o trabalho por você, principalmente quando se atinge aquele ponto onde você repete as corridas só pra ganhar dinheiro. Com um carro bem ajustado e nível alto em B-Spec, é possível deixar a corrida rolando, enquanto você se preocupa com outros assuntos. O modo permite ainda que você acelere a velocidade de jogo, vencendo as corridas mais rapidamente do que se estivesse jogando em A-Spec.

Mais importante ainda, em corridas como Nurburgring 24h Race (que realmente exige que você pilote por 24 horas seguidas), você pode utilizar o B-Spec para conseguir cumprir este evento, que parece impossível para jogadores que trabalham, têm uma família ou fazem outras coisas sem importância como comer e ir ao banheiro. Claro que é possível salvar no meio e retomar depois, mas mesmo assim o B-Spec pode tornar eventos como esse muito mais acessíveis.

Embora o modo B-Spec seja ignorado por muitos jogadores, é uma adição importante na franquia, e espera-se que seja mantida em títulos posteriores como uma opção de estilo de jogo.

Um verdadeiro espetáculo a ser visto

A parte gráfica de GT4 continua fazendo jus à série; os modelos dos carros são totalmente fiéis aos originais, com todo os detalhes esperados. Existem carros para todos os gostos, com mais de 80 fabricantes disponíveis. Seções especiais com carros históricos e clássicos completam as ofertas contemporâneas e oferecem veículos de todos os estilos, maravilhosamente modelados e com detalhes originais. Alguns jogadores mais velhos podem se emocionar ao ver o modelo original do Fusca, com seu vidro traseiro bipartido. Pontos para os desenvolvedores por trazerem clássicos reais para o jogo.

É fácil se deixar fascinar pela oferta de mais de 700 carros presentes em GT4. Mas é importante lembrar que muitos desses carros são repetidos; carros populares como o Mitsubishi 3000 GT têm nada menos do que 8 versões diferentes (Entre MR, SL, VR-4 e VR-4 Turbo). Evidentemente são modelos diferentes do mesmo carro, e não apenas o mesmo veículo com uma pintura diferente. Mas mesmo assim, não tira a impressão de “propaganda enganosa”, deixada pelo anúncio de “mais de 700 carros disponíveis”.

Os menus estão mais densos em relação ao GT3, mas são perfeitamente navegáveis e é ótimo ver um número maior de opções disponíveis. Os menus são muito agradáveis e intuitivos, mesmo considerando o enorme número de informações que carregam. Os circuitos e cenários talvez sejam a parte menos impressionante de GT4, principalmente por um detalhe técnico: a tela “treme” de vez em quando. Testamos várias cópias e realmente parece ser um defeito constituinte do jogo. Não chega a atrapalhar a direção, mas distrai e irrita, principalmente em ocasiões em que se repete com frequência.

Tirando este detalhe, as pistas continuam bastante verossímeis, e aquelas baseadas em circuitos reais como Laguna Seca e Twin Ring Motegi impressionam pela fidelidade. Os circuitos chamam a ateção mais pela sua dirigibilidade do que pela beleza. É claro que existem pequenos detalhes, como o pôr-do-sol que cuja intensidade cega o jogador, mas são firulas gráficas que já foram muito utilizadas no PS2, e não podem ser critérios únicos para avaliação da qualidade dos gráficos.

Uma última nota sobre os gráficos: contra todas as expectativas, os desenvolvedores de GT4 optaram novamente por veículos que não sofrem danos. Entendemos que isso acontece por força de contrato com os fabricantes dos carros reais, sendo o preço a se pagar por uma lista enorme de marcas à disposição. Mas isso prejudica muito o objetivo da franquia, de dar ao jogador um simulador de direção. GT4 seria espetacular se mostrasse a deformação dos veículos, e isso combinaria muito bem com o estilo de direção cuidadosa estimulado pelo jogo.

Ouça o ronco dos motores

Todo o cuidado com os modelos gráficos dos carros continua presente nos efeitos sonoros; evidentemente, é impossível saber se todos os veículos apresentam o mesmo ronco do motor de suas contrapartes reais (quem já ouviu o som do Jay Leno Tank Car?), mas pelo menos tudo soa de forma adequada. Motores de carros conversíveis, por exemplo, soam “macios” e delicados, a fim de não incomodar os pilotos. Já carros como os Volvos soam pesados e potentes, a fim de transportar todo o peso de sua carroceria.

Os tunings subsequentes também modificam o barulho do motor, principalmente com as inevitáveis adições dos turbos e nitros. Os escapamentos apresentam os estouros da queima de combustível e escape dos gases, a aceleração soa de acordo com o quanto você acelera, e o carro “pede” marcha, quando você esquece de realizar a troca. Em alguns momentos os efeitos parecem genéricos, como nas derrapagens e batidas, mas no geral são bons.

A trilha sonora é uma questão à parte, apresentando Debussy, Chopin, James Brown, Joe Satriani, Papa Roach, The Chrystal Method entre outros. Ela é variada demais, mesmo para ouvidos ecléticos, e certamente deve irritar ou pelo menos causar estranheza em todos os jogadores em algum momento. Não existe opção de escolher ou eliminar músicas da trilha, o que piora a situação. É possível que você opte por desligar a música, depois de algumas horas de jogo, deixando apenas os impressionantes sons dos carros.

Os pequenos problemas existentes, como a falta de dano nos veículos e repetição nos modelos dos carros, indicam o caminho de evolução que a série Gran Turismo deve tomar. Competidores fortes como Forza Motorsports (do Xbox) também devem estimular a melhora da franquia.

Mas Gran Turismo 4 continua sendo uma indicação fácil para fãs de carros, mecânica e tuning. Sua jogabilidade única mantém a série entre os melhores jogos de esportes, lugar que vêm ocupando desde o primeiro Gran Turismo no Playstation, com mérito.
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