Imagem de Chroma Squad
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Chroma Squad

Nota do Voxel
90

Uma declaração de amor brasileira a Power Rangers e a nossa infância

Power Rangers fez parte da infância de uma infinidade de pessoas de todas as idades – seja você um jovem que acompanha as séries atuais, um veterano que assistia ao pioneiro Mighty Morphin Power Rangers, ou ainda os mais viciados, que vão direto à fonte, nos tokusatsus originais Super Sentai – Gokaiger, Zyuranger e similares. Só uma coisa é certa: todos nós temos boas memórias envolvendo essas gerações de protetores da Terra.

O estúdio brasileiro Behold Studios muito provavelmente também é formado por integrantes com essa nostalgia. Isso porque a desenvolvedora é a responsável pelo lançamento de Chroma Squad (Inspired by Saban’s Power Rangers), um título que começou no Kickstarter e criou muita expectativa bem antes do lançamento. Misturando RPG tático e supergrupos de heróis, ele é uma homenagem desse tipo de seriado tão reproduzido na televisão.

Com a franquia Power Rangers hoje menos popular e com o público da série original já crescido, será que um título sobre esse tema ainda gera algum apelo? E será que o RPG tático com gráficos 8 bits são mesmo ideais? Não precisa esperar as cenas do próximo capítulo: é só conferir a análise abaixo.

Morfando para o sucesso

Assim como um bom piloto de seriado, Chroma Squad já começa com a corda toda, mostrando a que veio. Você inicia a história em um estúdio rico, controlando cinco atores que interpretam personagens em um programa de sucesso no estilo Super Sentai – basicamente, heróis das cores vermelha, amarela, rosa, azul e preta contra um sujeito fantasiado de monstro. O diretor, porém, é dinheirista e totalitário. Quando a paciência dos personagens se esgota, eles se demitem e resolvem abrir o próprio estúdio de série de TV.

É claro que os cinco são pobres coitados que mal têm dinheiro para começar a produção: o estúdio é o galpão de um parente, as fantasias são improvisadas, o vilão é uma caixa de papelão ou um cone de trânsito, e por aí vai.

É com o tempo que você vai conquistando audiência – realizando cenas bonitas ou cumprindo objetivos do diretor durante a filmagem – e adquirindo capital e materiais de produção. É questão de tempo até que você junte mais recursos, contrate uma equipe especializada e transforme os seus clipes caseiros em shows de ibope.

RPG tático, supergolpes e muito improviso

Quem está acostumado com títulos da franquia Fire Emblem, Final Fantasy Tactics e até X-COM vai se sentir em casa, já que a jogabilidade das batalhas é bem similar aos RPG táticos que conhecemos. Ela acontece por turnos e envolve não só a escolha de golpes e de quem é o seu alvo, mas também o movimento dos combatentes: utilizando quadrados coloridos como referência geográfica, você primeiro mexe os heróis pela tela até se aproximar de um oponente e só então atacá-lo.

É aí que a estratégia entra em cena: em Chroma Squad, é possível fazer ataques combinados entre dois ou todos os membros do grupo, causando muito mais dano e normalmente ganhando elogios do diretor. Esse tipo de golpe é chamado de “Cooperação” e é representado por um ícone em forma de estrela. Fora os ataques conjuntos, você pode realizar movimentos acrobáticos fazendo uma espécie de trampolim humano e levando o seu ranger para uma posição mais distante do cenário.

A busca pela audiência também entra em cena aqui, obrigando você a se colocar na cabeça do espectador: se você utilizar o golpe final cedo demais, o público se frustra e não acompanhará o episódio até o fim, por exemplo. Perder a luta e se mostrar fraco? Nem pensar! Entretanto, é preciso frisar que é exatamente neste ponto que o título se torna um pouco repetitivo.

Libere o Spielberg em você

A jogabilidade de Chroma Squad não é resumida na fórmula “batalha, conversa, anda, batalha, conversa, anda”. Aqui, as lutas são apenas o começo, já que gerenciar o estúdio de TV é tão divertido quanto enfiar a porrada nos bonecos de massa e capangas dos episódios.

Isso porque você é o responsável por todos os setores dos bastidores. Em "Loja", você compra armas e equipamentos de vestimenta. Em "Estúdio", é hora de ir às compras para equipamentos mais sofisticados e ampliar a sua experiência de filmagem — desde câmeras e microfones até um seguro de vida para a equipe. Em "Atores", é possível personalizar o equipamento do elenco e conferir em detalhes quem são as suas estrelas. Achou fácil? Dependendo da dificuldade que você selecionar (são três ao todo), o dinheiro pode não ser tão abundante assim, obrigando você a economizar e selecionar bem os gastos.

Além disso, o perfil de cada ator/ranger é bem completo. Os personagens são bem variados entre si e divididos entre uma alta variedade de classes. Os status não se resumem somente ao bom e velho ataque/defesa/movimento, mas também à fama de certos artistas (alguns trazem mais audiência que outros) e ao cachê que eles recebem (certas “estrelas” não valem o que pedem e pode ser melhor contratar ilustres desconhecidos).

A equipe escolhida deve ser equilibrada: o líder é normalmente a peça mais forte, mas um dos rangers deve ser especializado em assistência (cura, por exemplo), enquanto outro é o responsável por usar gadgets, por exemplo. Além de selecionar os intérpretes, você até personaliza as cores do supergrupo (uma excelente forma de sair do esquema de cores tradicional dos Super Sentai), o nome do programa e o grito da hora de morfar.

De fãs, sobre fãs e para fãs

Nada agrada mais em Chroma Squad do que os diálogos e as referências visuais, que saltam na tela em uma quantidade impressionante. A inspiração em Power Rangers é óbvia (e até ameaçou o lançamento do game, que posteriormente incluiu um subtítulo relacionando o uso de propriedade intelectual da produtora Saban), mas a Behold Studios também fez uma imersão nos Super Sentai em geral. Isso adiciona uma quantidade ainda maior de referências, perspectivas e clichês bem-vindos ao game.

Uma entidade esquisita que lembra o clássico Zordon, vilões com quase zero de motivação a não ser pura maldade, o mesmo cenário em todo o episódio e outras “tosquices” que ficaram positivamente guardadas em nossa memória são transportadas com precisão para o game.

Porém, o humor não reside somente nesse universo. A escolha dos atores é um show de referências a celebridades, atores e outros elementos da cultura pop e da internet em geral, assim como muitas das piadas durante as filmagens. Não vamos estragar todos os diálogos, mas já adiantamos que eles são tão divertidos e exagerados quanto os seriados.

A chamada “quebra da quarta parede” também é frequente. Em vários momentos, os atores saem do personagem e conversam entre si sobre o andamento da filmagem e como algum deles está especialmente inspirado no episódio, ou que o monstro está atrasado ou se esqueceu da fantasia – uma forma de lembrar a você de que, na verdade, tudo aquilo é de mentirinha e que até as produções mais baratas têm os seus problemas técnicos.

Apelando para a nostalgia (e conseguindo)

Assim como o game em si, os gráficos de Chroma Squad também abusam de nostalgia. O título utiliza um visual meio pixel art, aquele estilo artístico que simula gerações anteriores de consoles e é bastante usado nos indie games. A escolha não poderia ser mais correta: afinal, o próprio Power Rangers surgiu no Ocidente durante essa época de consoles 8 bits e 16 bits.

As cores se destacam bastante (só cuidado para não deixar a sua equipe monocromática demais e se confundir!), os cenários das lutas são bem variados e os monstros conseguem ser criativos, mesmo com os poucos recursos financeiros dos atores. As animações de golpes são extremamente simples, mas traduzem bem o movimento.

As músicas escolhidas para o plano de fundo, para a abertura do game e para ambientar as batalhas também são acertos. São temas de baixa complexidade, mas que grudam e fazem você dançar na cadeira e ganhar ainda mais adrenalina para a hora de morfar.

Vale a pena?

Acima de tudo, Chroma Squad é um jogo de estratégia e RPG feito com paixão verdadeira. Isso é pouco reconhecido em títulos atuais, em que exceções são raras nessa indústria cheia de produtos desenvolvidos no piloto automático e com fórmulas prontas para o mercado. A Behold Studios mostra da melhor forma possível que a emoção e a memória também são peças-chave na criação de uma obra de entretenimento. É animador acompanhar um estúdio brasileiro superando diversos problemas (inclusive o hype!) para entregar um produto de tamanha qualidade. O português, inclusive, é um dos idiomas de Chroma Squad, proporcionando a compreensão de diálogos e menus sem problemas.

A jogabilidade é simples na medida certa: por um lado, não tem comandos complexos demais e um milhão de tutoriais cansativos por fase. Por outro, exige certa atenção e compreensão, já que envolve uma série de possibilidades e estratégias. Com todos os elementos de luta e gerenciamento combinados, Chroma Squad se torna acessível, desafiador e estimulante ao mesmo. Já a personalização é tão intensa que você realmente sente que o programa é um "filho" fruto do seu trabalho e imaginação. A sensação é de que as nossas brincadeiras de criança evoluíram e passaram para a tela do PC, continuando igualmente divertidas.

Os gráficos propositalmente retrô até provocam caretas em alguns jogadores, mas essa forma de arte deve ser aceita. Aqui, o uso é acertado e dá vida a heróis, monstros e cenários de qualidade – e que, embora estejam distantes do ápice dos gráficos de jogos indie, estão longe de serem criticados. Tudo isso ainda contribui para que o game não seja pesado e rode em máquinas que não são nada impressionantes.

Assim como os supergrupos de Super Sentai, o jogo tem suas limitações. A jogabilidade é um pouco repetitiva, por mais que ocorram inovações a cada episódio, e até a luta de personagens gigantes acaba não sendo tão intensa quanto o esperado. Além disso, a impossibilidade de refazer missões facilmente ou um modo de jogo diferenciado podem causar pequenas frustrações nos jogadores. Ainda assim, alguns esses elementos não são exatamente defeitos, mas sim a ausência de adições – algo que pode ser corrigido em futuras versões do título ou até em uma sequência.

A Behold Studios fez toda a jornada dos Power Rangers, encarando problemas, apostando na união de uma equipe e acreditando no sucesso. Ao público, ao mesmo tempo um povo exigente e indispensável, resta comemorar o lançamento de um game como esse – e torcer pela renovação para uma nova temporada.

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Pontos Positivos
  • História divertida e com os clichês que amamos
  • Não precisa de um PC Megazord para rodar
  • Inúmeras referências por metro quadrado
  • Sistema de batalha simples, dinâmico e divertido
Pontos Negativos
  • Um pouco repetitivo nos combates de grupo e robôs
  • Pequenas adições deixariam ele ainda melhor