Imagem de Assassin’s Creed: Rogue
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Assassin’s Creed: Rogue

Nota do Voxel
90

O mais “cinzento” e heroico dos assassinos [vídeo]

A proposta de Assassin’s Creed Rogue pode passar a falsa impressão de “rescaldo” — de raspa de tacho destinada a apenas soltar um último sopro de novidade sobre a geração anterior de consoles. E isso provavelmente é reforçado pelo lançamento praticamente simultâneo do game com o extremamente aguardado Assassin’s Creed Unity, este sim, totalmente novo e com os olhos fixos no horizonte da oitava geração.

Honestamente? Bem, a despeito de Unity, pode-se dizer que nada poderia ser mais equivocado. Sim, é verdade que Rogue não navega para muito longe das praias conquistadas pela franquia da Ubisoft ao longo de sete anos de uma história bem contada. Mas, quer saber? Isso parece ter feito muito bem ao título.

Particularmente, sempre fui fã daqueles últimos títulos lançados em plataformas que acenam em longas despedidas. Isso porque, em vez de tentar surpreender público e crítica com novidades rodeadas por fogos de artifício, as desenvolvedoras normalmente apresentam títulos mais focados, mais direto ao ponto — e, frequentemente, mais destinados àqueles jogadores que podem ter sido conquistados pela pirotecnia um dia... Mas que gostariam, em certo ponto, de enxergar uma evolução e um requinte naturais em uma série favorita.

E, sim, esse é Assassin’s Creed Rogue. Amplamente baseado em uma fórmula já entalhada em pedra — mesmo no que tange as batalhas navais —, a ideia da Ubi aqui foi a de mostrar um game maduro, a de explorar o arco de histórias complexo e incrivelmente rico de Assassin’s Creed.

O mais “cinzento” dos assassinos

No centro dessa experiência dramática e, em certa medida, mais adulta, certamente se encontra o protagonista Shay Patrick Cormac. Se os assassinos de games anteriores lhe pareciam anti-heróis rematados, então com certeza convém que você acompanhe de perto a história do Sr. Cormac.

Como você já deve saber a esta altura, Shay é um assassino que se vê forçosamente convertido em templário por uma sucessão de eventos que lhe fizeram questionar os métodos do seu grupo. Ocorre, entretanto, que um resumo assim jamais poderia recriar todo o processo dramático pelo qual passa esse assassino tão peculiar.

De fato, Shay escapa logo de cara de qualquer estereótipo do herói à margem da sociedade. Movido por ideias próprias, este personagem incrivelmente bem assentado mostra uma evolução das mais convincentes entre todos os títulos da franquia. Sua leveza inicial e seu pouco comprometimento com regras e treinamentos insinuam logo de cara, entretanto, a existência de um espírito livre e questionador.

Dessa forma, quando Shay finalmente “vira a casaca” e resolve defender aquela famosa cruz, a quem acompanhou a história, tudo parece incrivelmente natural. Trata-se, sem dúvida, de um dos personagens mais fortes e mais coerentes que já surgiram em um Assassin’s Creed.

O preço de seguir o próprio instinto

O caráter forte de Shay é também um dos principais ingredientes para a história efervescente de Assassin’s Creed Rogue. Sem querer disparar spoilers aqui, a trama dramática desse último esforço da série na sétima geração é pontuada por reviravoltas e por decisões moralmente difíceis — conforme os velhos amigos se tornam subitamente novos inimigos.

Herdeiro direto de Black Flag e de AC 3

Se você jogou Assassin’s Creed: Black Flag e/ou Assassin’s Creed 3, então certamente vai se sentir em casa aqui. De fato, em termos de jogabilidade não há diferenças tão significativas. Dessa forma, a ação toda ainda será dividida entre manobras furtivas, ataques diretos, combates navais e administração de locais conquistados por todo o mapa.

Mas nunca é demais reforçar: antes de representar uma estagnação, a escolha da Ubisoft de manter o excelente sistema de Black Flag e AC 3 mostra, antes, um deslocamento muito bem vindo do eixo para o objetivo de contar uma boa história (confira acima).

Dessa forma, o fato de os movimentos de Shay levarem grande parte dos jogadores para um terreno familiar faz com que a sua história dramática e bem calcada ganhe o destaque que merece. Ademais, há aí também Unity, notadamente para dar o que se espera que seja o “próximo” passo na jogabilidade da série — o que torna ambos os títulos notavelmente complementares.

Rostos conhecidos

Mas a familiaridade de Rogue também deve se revelar em outro ponto: quem jogou títulos anteriores da série (sobretudo Black Flag e AC 3) deve ganhar de lambuja aqui diversas referências — daquelas que nos fazem disparar “Ah!, eu sei ao que ele fez menção aí!”.

Com sua trama localizada entre os anos de 1752 e de 1761, Rogue, naturalmente, torna-se, em parte, contemporâneo de Black Flag por exemplo. Portanto, espere para encontrar rostos conhecidos, cujas histórias de vida devem ganhar alguns parênteses bem... Interessantes. Destaque, é claro, para certo Edward Kenway e também para o altivo Achilles.

Novos movimentos

Não, realmente não há uma nova jogabilidade aqui. Conforme dito anteriormente, há a mesma boa mecânica de jogo que conquistou legiões de assassinos mundo afora, sobretudo com Black Flag e com Assassin’s Creed 3.

Entretanto, Shay tem algum estilo próprio. Talvez a principal adição aqui sejam os saltos entre paredes, levando rapidamente o assassino/templário até o topo de estruturas estreitas (exatamente como sempre fez o bom e velho Ninja Gaiden).

Vale nota aqui também para o bom retorno dos dardos de Edward Kenway, novamente com duas munições à disposição — sendo possível colocar os inimigos para dormir ou torná-los irremediavelmente insanos, de forma que passem a atacar os próprios companheiros.

Os Templários têm os melhores brinquedos

A despeito das questões pessoais que levaram Shay a se juntar aos Templários, fato é que há pelo menos uma recompensa de cunho prático para essa escolha: os armamentos. De fato, os Templários têm um arsenal respeitável — e você, como novo membro improvável, acaba por ganhar acesso a esses recursos.

Há, por exemplo, um lançador de granadas que, embora bastante primitivo, certamente faz um belo estrago — incluindo munições de fumaça e de estilhaços. A associação com os sujeitos da cruz também traz armamentos de ponta para o seu navio, o Morrigan.

A inteligência artificial às vezes pena

Diante da boa história e da amplidão do mundo de Assassin’s Creed Rogue, é até difícil não fazer vista grossa para a forma como alguns dos habitantes destes EUA revolucionários se portam no seu dia a dia. Ocorre, entretanto, que às vezes a coisa é realmente cômica — chegando a diminuir a seriedade de tudo, mesmo que apenas por alguns momentos.

Em certa ocasião, por exemplo, este redator se deparou com vários soldados franceses disparando contra alvos estofados, a fim de treinar. Após derrubar dois deles e causar alguma comoção no terceiro... Percebi que o sujeito simplesmente se convenceu de que o melhor seria ignorar o fato e continuar a praticar tiro ao alvo.

Ademais, também não são raros os momentos em que soldado atrapalhado acaba preso em uma única rota, repetindo estupidamente o mesmo movimento até que você resolva “livrá-lo” da sua miséria.

O rápido e elegante Morrigan

O navio Morrigan é obtido por Shay logo no início da trama, após uma sequência de desventuras. Embora esteja um tanto “judiado” inicialmente, é fácil perceber logo de cara que a Ubi andou apertando algumas porcas das batalhas navais de Assassin’s Creed.

O Morrigan é notavelmente mais rápido e mais controlável do que o navio de Edward Kenway. E, é claro, pode ser todo armado com munições variadas, podendo ainda despejar óleo flamejante da sua traseira. Adicionalmente, um último estágio de velocidade deve ajudar a cobrir espaços maiores — embora seja impossível efetuar disparos nesses momentos.

Um belo fechamento para a sétima geração

Assassin’s Creed Rogue certamente é mais do que apenas um último esforço dos Assassinos na sétima geração de consoles. Embora a familiaridade com Black Flag e Assassin’s Creed 3 possa sugerir aos desavisados “mais do mesmo”, bastam os primeiros contatos com a história dramática e “cinzenta” do dividido Shay Patrick Cormac para perceber que há muito mais aqui.

Por trás da familiaridade de mecânicas consagradas — incrivelmente funcionais e enxutas —, há uma bela história cheia de segredos, rostos familiares e novos parênteses para tramas que muitos acreditavam que já estavam fechadas. Paralelamente, as adições sutis às manobras de combate corporal e naval apenas tornam mais evidente o trabalho persistente da Ubisoft ao forjar uma jogabilidade stealth que beira a perfeição.

Isso tudo enquanto Rogue ainda deixa claro que a engine AnvilNext ainda tem muito gás para dar, trazendo ainda belas imagens e dinâmicas de iluminação, mesmo em um período tardio da sétima geração. Enfim, um Assassin’s Creed enxuto, objetivo e com uma belíssima história cheia de reviravoltas. Pode mesmo valer a pena se juntar ao front dos Templários, afinal.

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Pontos Positivos
  • Shay é um dos personagens mais bem construídos da série
  • Uma ótima história cheia de reviravoltas e de rostos conhecidos
  • Embora não se reinvente, a jogabilidade de Rogue é tão familiar quanto precisa
  • Os Templários têm os melhores "brinquedos"
  • Morrigan é um navio mais ágil e responsivo do que seus precursores
Pontos Negativos
  • A inteligência artificial às vezes beira o patético