O que são os “sucessores espirituais” dos games?

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Img_normalShadow of the Colossus é tido como uma das melhores sequências espirituais de todos os tempos

Às vezes, algumas palavras ecoam em nossas cabeças sem que saibamos exatamente o significado delas. Passamos por diversas leituras, nos deparamos com termos em inglês comuns no português – “hype”, por exemplo – ou lidamos com palavras exóticas mesmo. Nos games, esse vocabulário costuma sofrer mutações com o tempo. Talvez de 2000 pra cá, o conjunto “sucessor espiritual”, também referido muitas vezes como “sequência espiritual”, adquiriu corpo e significado – mesmo que já existisse há muito tempo.

O fato é que a comunidade se empolga quando um determinado game recebe uma sequência, digamos, “não oficial”. Isso porque os jogadores sabem que essa continuação foi feita pelas mãos da mesma equipe entrosada que trabalhou num game anterior. O novo jogo pode carregar a mesma marca e toda a equipe consagrada por trás de seu desenvolvimento.

E quanto à história com relação ao game anterior? Como fica?

Assim como ocorre na literatura ou no cinema, um sucessor espiritual é um trabalho de ficção que não se constrói necessariamente sobre as bases de enredo estabelecidas por um trabalho anterior, tal como as “prequels” ou sequências diretas, mas se sustenta numa construção que conta com as mesmas características e estilos implementados pelo material que serviu como fonte, pela “raiz”, por assim dizer.

Por conter elementos similares aos existentes em seu antecessor, um sucessor espiritual trabalha muito com a intertextualidade, isto é, com as referências diretas e indiretas a personagens, trama ou ambientação do game anterior, seja por recursos visuais ou textuais. Quem é que não se lembra (pequeno spoiler a seguir) dos chifres que o protagonista de Shadow of the Colossus adquire no final do game? E vejam só: em Ico, o herói tem um par de chifres. Ambos foram criados por Fumito Ueda, um dos maiores transformadores dos games em forma de arte. Ainda serão citados muitos outros exemplos até o final deste artigo.

A natureza cíclica das desenvolvedoras – um possível porquê dos sucessores espirituais

Com o advento da internet, hoje não é segredo para ninguém o que pode rolar nos bastidores das desenvolvedoras. Sabemos que os games constituem um negócio que movimenta bilhões por ano (tendo ultrapassado a indústria cinematográfica há muito tempo), portanto é natural que a natureza desse universo de entretenimento, quando observada sob o ponto de vista executivo, seja marcada por aquisições de outras marcas, alianças, parcerias entre desenvolvedoras e outras negociações corporativas milionárias.

Nesse processo – cada vez mais comum hoje em dia –, a equipe original de criação pode perder os direitos sobre as trademarks e os nomes de sua obras. Vide Bioshock, sucessor espiritual de System Shock 2, ou Fallout, que nasceu das mãos da mesma equipe de Wasteland (lembra dele?).

Img_normalFallout é um congênere de Wasteland

O fraco desempenho nas prateleiras também pode motivar uma eventual reestruturação para novas ideias. Essa situação impede que o núcleo do mesmo time, já entrosado, trabalhe numa sequência direta utilizando o mesmo nome em função de todas as condições burocráticas envolvidas – ou pelo fato de esse nome ter “morrido” em vendas fracas com os games originais.

Após uma eventual aquisição ou parceria com outras publishers, existe aquele “corte” clássico em que várias cabeças podem rolar. A equipe, então, fica rachada. Enquanto isso, os engravatados retêm o controle sobre um nome já lapidado no mercado e por vezes ficam desnorteados com a nova franquia.

Alguém aí consegue dizer se Banjo-Kazooie manteve seu legado após a negociação biliardária entre Rare e Microsoft? Mesmo que Nuts & Bolts tenha lá suas doses de diversão, convenhamos, a franquia está no limbo desde que saiu da Nintendo. O que impede a equipe original, que trabalhou nos dois games do urso para o N64, de lançar um novo projeto sustentado pelo Kickstarter? A comunidade certamente responderia de forma positiva.

Img_normalBanjo-Kazooie: Nuts & Bolts é um jogo bonito, mas tem uma proposta bem diferente dos antecessores

Kickstarter, a nova crista da onda

O fenômeno Kickstarter tem alavancado cada vez mais projetos independentes que saíram das mentes de artistas que atuaram em grandes desenvolvedoras.

Apesar de o financiamento coletivo ser uma concepção antiga, o site americano foi fundado agora em 2009 e fornece as ferramentas necessárias para viabilizar projetos criativos por meio da arrecadação coletiva de fundos. E é exatamente a partir dali que muitos sucessores espirituais surgem. Uma andorinha só não faz verão e, se cada jogador contribuir com 5 reais para um determinado projeto (exemplo hipotético), a soma final pode ser capaz de permitir que projetos vindos das mãos de artistas que trabalharam em grandes games saiam do papel. Quer exemplos? Recordar é viver:

  • Road Redemption é um sucessor espiritual de Road Rash, o clássico game de porradas sobre duas rodas, que está no Kickstarter e já soma bons números;
  • Shadow of the Eternals, sucessor espiritual de Eternal Darkness: Sanity’s Requiem (para o GameCube), já está em campanha no site oficial e buscará apoio dos fãs também pelo Kickstarter;
  • Lembram-se do nostálgico Ecco the Dolphin? Um game intitulado Big Blue seria seu sucessor espiritual, mas infelizmente falhou no Kickstarter e não angariou fundos suficientes. Contudo, o criador, Ed Annunziata, disse que não vai desistir do jogo e já pretende lançar uma segunda campanha no site;

E há muitos outros projetos em andamento no site americano de arrecadação de fundos. É o meio mais palpável de conferirmos games que vieram das mãos de artistas consagrados.

Confira um vídeo que mostra algumas influências e aspectos de Wasteland 2:

Lista de grandes sucessores espirituais

Conforme mencionado, o conceito de um sucessor espiritual é antigo e surgiu muito antes do Kickstarter. As diversas razões citadas (negociatas, parcerias, aquisições, rachas na equipe, vendas fracas) podem fazer com que um núcleo seleto de desenvolvedores trabalhe num novo game que resguarde as principais características de seu “tutor”. Acredite: há títulos que nunca imaginamos terem nascido a partir de trabalhos prévios. Vamos a uma lista de grandes sequências espirituais?

  • Assassin's Creed foi primeiramente concebido como uma sequência direta de Prince of Persia. Acabou virando uma franquia nova, e o game é tido como um sucessor espiritual do príncipe das arábias;
  • Ikaruga, game frenético de tiro em nave, é o sucessor espiritual de Radiant Silvergun, clássico para o Sega Saturn;
  • Supreme Commander é ocasionalmente considerado um sucessor espiritual de Total Annihilation, game de estratégia em tempo real de 1997, pois contou com parte da equipe do jogo original;
  • Shadow of the Colossus é tido pelo próprio Fumito Ueda, criador do game, como um sucessor espiritual de Ico. Segundo Ueda, os games se passam no mesmo mundo, só que em momentos não especificados. Alguns colocam Shadow of The Colossus como uma prequel de Ico;

Img_normal Quem diria que Hellgate: London é um sucessor espiritual de Diablo 2, hein?

  • Bayonetta é tido por alguns como um possível sucessor espiritual de Devil May Cry (pois é). As equipes de desenvolvimento trabalharam nos dois games;
  • Paper Mario era para ser Super Mario RPG 2. Mas acabou sendo o sucessor espiritual do clássico do SNES e ficou com o nome Paper Mario mesmo.

E você, se lembra de algum sucessor espiritual que não foi citado aqui?

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