Dinheiro e e$ports: entenda os custos de um time profissional de games

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Jogar video games como profissão parece um sonho, não é mesmo? Apesar de um pouco difícil, muitas pessoas hoje em dia conquistam seu lugar nesse estreito espaço, seja se tornando um jornalista especializado na área ou um jogador profissional. Esse segundo, em especial, chama a atenção pela sua recente ascensão aqui no Brasil, com vários times profissionais abrindo gaming houses e disputando torneios de alto nível de eSport.

Organizações nacionais como paiN Gaming, Keyd Stars e CNB e-Sports Club cresceram e se estabeleceram nesse ramo de games competitivos. Hoje eles contam com uma base torcedores que se assemelham aos fiéis fãs de futebol.

A competição também honra seu nome: para conquistar os primeiros lugares das ligas de alto nível de DotA 2, Counter-Strike: Global Offensive e League of Legends, os times contam com uma estrutura completa de treinamento para dar o máximo de suporte aos competidores.

Mas tudo isso tem um preço, e muitos têm a curiosidade para entender como funciona esse lado financeiro de um time de eSport. Os jogadores profissionais ganham salários? As premiações conseguem pagar todos os custos de um time? Qual a visão dos representantes dos times sobre esse assunto?

O BJ resolveu responder algumas dessas perguntas e fazer uma análise mais detalhada sobre o assunto. Desbravamos a parte financeira de alguns dos principais times do mundo, traçando algumas das suas premiações e gastos, e importamos um pouco dessa situação para as organizações que hoje representam o cenário profissional e semi-profissional dos video games no Brasil.

Que tal nos acompanhar nessa aventura e$portiva?

Vencendo os torneios

As premiações do eSport não param de crescer. Afinal, com o The International 5 quebrando recordes e estourando US$ 15 milhões, não é difícil imaginar que terminar em primeiro lugar em um torneio desses deve dar uma boa grana ao time vencedor.

DotA 2 é um bom exemplo para estimar os ganhos de uma equipe profissional. Enquanto um time profissional de alto nível em League of Legends provavelmente estará limitado em termos contratuais a participar apenas da liga profissional da Riot Games, as equipes do MOBA da Valve são livres para ingressar em qualquer evento online ou presencial.

Isso permite uma planilha bem grande de torneios e premiações pelos times profissionais de DotA 2. A GosuGamers levantou as conquistas dos três principais times da Europa entre junho de 2014 e 2015, e aproveitamos para fazer uma pequena reestruturação da grande quantia de números.

Abaixo você confere os gráficos detalhados das principais premiações do Team Empire, Na’Vi e Virtus.Pro, seguido por alguns comentários sobre suas conquistas financeiras.

Mesmo terminando em sétimo lugar no The International 4, a Na’Vi teve a maior parte de seus lucros nesse evento.  O prêmio exorbitante do torneio entregou mais de US$ 500 mil à equipe, se tornando a principal fração de ganhos nesse período.

O segundo maior lucro do time foi no DotA Asia Championship 2015, o grande torneio do MOBA que ocorreu no início do ano na China.

A vitória na quarta temporada da D2CL também garantiu mais US$ 30 mil ao time. O gráfico é complementado por vários outros eventos online e presenciais, como a fraca campanha da equipe na World e-Spors Championship 2014 e o segundo lugar na Excellent Moscow Cup.

O time de origem russa Virtus.Pro é um dos exemplos de como o lucro de um time internacional de DotA 2 é fragmentado em vários prêmios pequenos.

A vitória no torneio online XMG Captains Draft 2.0 garantiu um pouco mais de US$ 63 mil ao time, que complementou sua entrada com várias conquistas de US$ 20 mil entre 2014 e 2015.

Vale destacar que um vice-campeonato na Starladder Season 11 é notável para a organização que há tanto tempo investe no DotA, mas tímido perto das demais outras premiações da equipe.

A Team Empire também participou do The International 4, mas ficou com a modesta 13ª colocação. A maior parte da sua fatura veio do segundo lugar na temporada 2015 da MarsTV Dota 2 League, que rendeu mais de US$ 50 mil ao time.

Da mesma forma que a Virtus.Pro, os lucros mais significativos da equipe são pequenos comparados aos ganhos menores, tornando a seleção dos cinco maiores prêmios pouco significativa perto dos demais torneios que o time participou.

Pagando as contas

Nem tudo é lucro no eSport. Para participar desses torneios ao redor do mundo é preciso bancar os jogadores com toda a estrutura que eles precisam — sem falar no salário de cada um dos ciberatletas, é claro!

Para isso, fizemos um levantamento dos principais custos que foram necessários para que as três equipes acima participassem de todos os torneios. Segue abaixo nossa estimativa, seguida de alguns comentários sobre os valores.

Atenção: vale a pena lembrar que estabelecemos alguns parâmetros para calcular a estimativa de custos. Aqui vão cada um deles.

  • Nossa estimativa prevê que um time desse nível tenha duas grandes viagens para disputar um evento presencial, sendo um para a Europa e outra para os Estados Unidos.
  • Os custos diários envolvem todos os tipos de necessidades pessoais, como alimentação e transporte.
  • Diárias envolvem também a estrutura para treinamento em locais especiais, como bootcamps em lan houses da região.
  • O salário também é uma estimativa conforme a publicação original na GosuGamers. Por lá, os jogadores ganham entre US$ 1,5 mil e US$ 3 mil, enquanto o manager do time fica entre uma faixa de US$ 600 a US$ 1,3 mil. Nossa estimativa é uma média.

Fechando o caixa

Segundo nossa estimativa, uma equipe bem “movimentada” no cenário europeu de DotA 2 deve gastar até US$ 175 mil em um ano para satisfazer a todas as necessidades dos jogadores profissionais e garantir o desempenho em dois torneios mensais pelo mundo.

Os três times citados acima conseguem superar esses gastos genéricos com as premiações que receberam durante o ano. Mas vale a pena lembrar que a política de retenção das premiações pode variar de acordo com a equipe.

Vamos supor que uma equipe fique com uma fração de até 20% dos prêmios conquistados pelos jogadores. No cenário demonstrado, nem mesmo a Na’Vi conseguiria pagar todos os custos, pois a taxa para o clube equivaleria a US$ 147,6 mil.

A solução para viabilizar a equipe pode variar muito de acordo com a organização. Seja por meio de patrocínios, parcerias ou vendas da marca, os times aproveitam e muito do marketing pela participação nos grandes torneios. Vamos falar melhor um pouco sobre isso no tópico abaixo — e mostrar que é um cenário muito aproveitado no Brasil.

E no Brasil?

O Brasil recebe uma análise delicada nesse quesito — mas um pouco menos complexa. As grandes organizações brasileiras de eSport, com algumas exceções, se mantém nos holofotes desejados pelos patrocinadores mediante o sucesso dos times de League of Legends.

O CBLoL, organizado pela própria Riot Games, é atualmente a liga profissional que um jogador ou time profissional deseja estar. Os prêmios são altos para a temporada 2015, contabilizando R$ 570 mil aos melhores do país durante o ano inteiro e cerca de R$ 60 mil só para a equipe vencedora de uma das três etapas anuais.

Mas será que um prêmio desses é suficiente para cobrir os custos de uma equipe?

Como vimos no cenário internacional, é preciso mais do que prêmios para dar suporte a uma equipe profissional de eSport. E, quando falamos em organizações com estrutura como a de gaming house para a preparação aos grandes torneios, também falamos em uma série de outros investimentos para movimentar o time.

O diretor de eSport da Keyd Stars, Renan Philip, contou para nós quais são algumas das alternativas que viabilizam a famosa organização no eSport brasileiro. “Falando diretamente de mercado e levando em consideração que o único motivo de qualquer ponto desses ser viável é que temos uma boa base de torcedores e fãs, existem dois grandes pilares: os patrocinadores e a venda de produtos licenciados”, relatou.

“Os patrocinadores, por motivos óbvios, são nossa grande fonte de receita e sem esse apoio não conseguiríamos rodar de maneira saudável. E logo depois temos o licenciamento, com produtos de parceiros e da própria equipe, muito fomentado por nossa loja oficial, a Keyd Store, que leva aos nossos torcedores a possibilidade de usarem, vestirem e demonstrarem diretamente sua paixão pela equipe e seus jogadores.”

Do outro lado, a organização investe e muito no que movimenta a torcida: o time. “Além de um auxílio mensal e bônus por vitórias e transmissões, oferecemos uma estrutura completa para nossos jogadores, com um centro de treinamento bem localizado e de ótimo tamanho, além de todo o staff que cuida de toda e qualquer necessidade que os jogadores possam ter”, detalhou o representante da Keyd.

“Isso sem contar as premiações, que os jogadores recebem basicamente na íntegra, diferentemente de outros clubes”, acrescentou.

Para exemplificar melhor essa situação, também fizemos um rápido levantamento dos principais custos que uma organização brasileira terá para viabilizar sua atividade. Exemplificamos melhor cada uma delas no gráfico abaixo.

Vale lembrar que, assim como os custos de equipe internacional, fizemos algumas estimativas que valem a pena serem citadas aqui:

  • O salário inclui os cinco jogadores e um auxiliar, como técnico ou manager. A base está estabelecida em dois salários mínimos por jogador/manager, atualmente em R$ 778. Outros benefícios não são citados, mas a ideia aqui é ter uma ideia mínima do investimento.
  • Para o aluguel de uma gaming house, estimamos um preço de apartamento médio em São Paulo com estrutura razoável para sala, quartos e outros cômodos menores.
  • Custos de infraestrutura são relacionados à estrutura interna para o time. Cadeiras, mesas e outros custos são estimados superficialmente aqui.
  • Equipamentos relacionam-se às máquinas e outros dispositivos para treinamentos, mas o valor pode variar muito por conta dos materiais cedidos pelos patrocinadores. Usamos nossa estimativa média para um bom computador gamer.
  • Contas? São a de luz, água e internet. A expectativa aqui é de usarmos muita energia elétrica, não é mesmo?

Os números, embora novamente questionáveis e variáveis, servem para traçar um pequeno parâmetro do investimento financeiro de uma organização para manter uma equipe profissional na ativa.

As dicas de ouro

Começar nesse ramo é difícil, e fincar a bandeira de uma equipe nova nesse cenário em desenvolvimento é bem mais complicado do que parece. Philip explica que é preciso ter muita calma para se estabelecer nesse mercado. “O grande erro que vejo organizações novatas cometendo, e que eu mesmo tenho certeza que todas as outras organizações estabelecidas hoje também cometeram, é a impaciência”, relatou.

“Antes de buscar patrocinadores diretos é primordial entender qual produto você está oferecendo e também criar um bom relacionamento que no futuro poderá virar uma grande parceria.”

“Para as equipes que literalmente estão começando, o caminho é ainda mais complicado. Antes de qualquer coisa é necessário estar presente nas grandes ligas e assim começar a conquistar alguns fãs que, como disse, são o que fazem todo o mercado ser viável”, comentou.

Mas, mesmo com toda a evolução dos times profissionais, Philip ainda vê que o cenário pode se desenvolver e muito. “Somos uma indústria que se profissionalizou basicamente dois anos depois do mercado norte americano e europeu, e pelo menos uma década depois do sul-coreano.”

“Precisamos amadurecer em muitos aspectos ainda e nossa indústria também precisa crescer e se estabilizar mais para que possamos chegar no nível de estrutura e profissionalismo dos outros cenários citados”, finalizou.

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