Coluna do Carpe #11: Crossplay é o futuro?

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Venho falando isso há muito tempo, inclusive em vários dos meus textos por aqui: a atual tendência da indústria são os modelos de serviços. “Games as a service”, assinaturas e distribuição digital. Qual será o próximo passo, então? É difícil prever, mas apostaria na integração, jogatina compartilhada entre diferentes plataformas. Será que o crossplay veio para ficar?

Não é novidade, mas agora faz todo o sentido

Crossplay não é exatamente algo novo. Quake III Arena, por exemplo, já permitia que jogadores de PC e Dreamcast competissem juntos – isso em 1999. É claro, não era algo lá muito justo, mas a funcionalidade impressionava.

Muitos não sabem, mas Need for Speed: Underground (2003) também apresentou possibilidades semelhantes entre o PC e PlayStation 2. Outros exemplos clássicos são alguns jogos da série Phantasy Star e Final Fantasy XI (2002).

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No entanto, agora é que o crossplay faz todo o sentido. Vivemos na era da internet, onde tudo está conectado, e este tipo de integração se encaixa perfeitamente com os planos das grandes publicadoras.

Jogos multiplayer não são mais vistos apenas como produtos, e sim como serviços vivos, com ênfase na interação social e lucratividade pensada a médio e longo prazo, através de DLCs e microtransações. Mais importante do que vender muitas cópias é construir e manter uma base sólida de usuários e consumidores.

Neste caso, as segregações entre diferentes plataformas acabam sendo uma pedra no sapato, pois dividem as comunidades. Quanto mais jogadores nos mesmos servidores, mais rápida é a organização de partidas. Se é possível jogar junto de seus amigos independentemente do console onde estão, é um incentivo a mais para revisitar o jogo constantemente.

Já aconteceu na vizinhança

É um caminho já consolidado em outras mídias. TV, música e redes sociais trilharam a mesma estrada: ênfase nos serviços, distribuição digital e multiplataforma. Hoje, pouco importa o dispositivo, e sim o serviço. Netflix, Spotify e Instagram estão disponíveis em uma ampla gama de sistemas e aparelhos diferentes, desde smartphones até consoles e tablets, em uma experiência integrada.

Os dispositivos são apenas a ferramenta que dá acesso ao que realmente interessa: o conteúdo. Levando em conta que videogames podem ser vistos tanto como indústria de entretenimento quanto mídias sociais (por promoverem interações), o paralelo faz muito sentido.

Os dispositivos são apenas a ferramenta que dá acesso ao que realmente interessa: o conteúdo

É claro, a indústria dos games tende a ser imprevisível. Apesar de seguir várias tendências de outros mercados, como os já mencionados modelos de serviços, ainda apresenta resistência e atraso em outros casos. Cinema e música, por exemplo, abandonaram as mídias físicas há anos, são artigos de nicho. Nos games, apesar de perderem espaço a cada ano, permanecem fortes.

A consolidação do crossplay também depende muito das empresas fabricantes de consoles. Analisar o que já está sendo feito a respeito e até onde estas iniciativas são vantajosas aos seus negócios é importantíssimo ao prever o cenário.

Sony, contra a maré

A Microsoft já aposta nessa integração há alguns anos. A iniciativa Play Anywhere permite que seus consumidores joguem tanto no Xbox One quanto no PC através da mesma cópia do jogo, e vários de seus títulos possibilitam a jogatina compartilhada. Forza Horizon 3, Killer Instinct, Gears of War 4 e Sea of Thieves são apenas alguns exemplos.

Faz todo o sentido para a empresa, já que é uma forma de fortalecer o ecossistema Windows entre os gamers e consolidar a marca Xbox como sinônimo de jogos para a Microsoft, não apenas um aparelho. Isso sem falar, claro, do suporte ao crossplay em dezenas de jogos publicados por terceiros.

O mesmo vem acontecendo com a Nintendo, que apesar de já ter relutado a algumas outras tendências da indústria no passado, abraçou o crossplay no Switch. É possível jogar junto aos donos de Xbox One, PC e mobile em jogos como Rocket League, Minecraft, Mantis Burn Racing e Dragon Quest X.

Minecraft

No entanto, a Sony segue o caminho oposto. Até permite o crossplay em alguns jogos, mas apenas entre suas plataformas e a Steam. Suas políticas são bem restritas com relação aos concorrentes diretos, Xbox One e Nintendo Switch.

De acordo com Jim Ryan, executivo da empresa, é uma questão da responsabilidade que a Sony tem com seus consumidores. Quando eles interagem com jogadores de outras plataformas não estão mais sob o cuidado da companhia.

Convenhamos: esta resposta simplesmente não convence, já que contradiz os casos de crossplay com a Steam e até mesmo exemplos do passado. Tudo indica que, na realidade, trata-se de uma estratégia para proteger e ampliar a base instalada do PlayStation 4, “forçando” com que os novos jogadores comprem o mesmo console de seus amigos.

Até quando adotarão esta postura? Segundo Tim Sweeney, CEO da Epic Games, o crossplay é inevitável e apenas uma questão de tempo, sendo o próximo passo lógico da indústria. Ele acredita que os jogos tornaram-se experiências sociais, assim como o Facebook e Twitter, e ao não apoiarem o crossplay, empresas como a Sony correm o risco de separar grupos de amigos do mundo real, o que não é bom para os negócios.

“O crossplay é inevitável e apenas uma questão de tempo, sendo o próximo passo lógico da indústria”

Casos do tipo já estão começando a acontecer. Dos mesmos desenvolvedores de Knight Squad, Aftercharge é um indie bastante promissor que está chegando ao PC, Xbox One  e Nintendo Switch. O console mais popular do mercado ficou de fora justamente por conta das políticas da Sony sobre o crossplay.

Nas palavras do representante de comunicações do estúdio, “cross-plataform é extremamente importante para nós porque sabemos dos riscos em lançar um jogo exclusivamente multiplayer como um estúdio independente. Nós queremos uma única e grande base de jogadores.”

Publicar este jogo no PlayStation 4 pode ser um grande problema já que, nesta plataforma, haveriam apenas os usuários do console da Sony. Se o jogo vendesse pouco a experiência acabaria comprometida para todos (como aconteceu em LawBreakers).

É claro, este é apenas um jogo dentre centenas que continuarão saindo para o PlayStation 4. Estamos falando da maior base instalada entre os consoles, de longe. Ainda assim, é algo para se estar atento nos próximos anos.

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Sony, Microsoft e Nintendo possuem muito poder e influência, mas não se engane: elas dependem dos estúdios, são eles quem ditam o rumo da indústria e não o contrário. Se o crossplay se provar a nova grande tendência – algo que jogos como Fortnite: Battle Royale vem indicando – todos serão obrigados a seguir e adaptar-se.

Isso tem o potencial de mudar a forma com que enxergamos as plataformas, cada vez mais em segundo plano. Os jogadores sempre foram o centro da experiência e sempre serão, agora mais do que nunca.

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A Coluna do Carpe vai ao ar toda quinta-feira aqui no Voxel – caso ainda não tenha visto, vale a pena conferir a última edição.

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