Cyberpunk 2077: as influências que ajudaram a formar o universo do game

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Cyberpunk 2077 ainda deve demorar alguns anos para chegar às lojas, mas isso não impede que o novo game da CD Projekt RED já esteja na lista de “mais esperados” de muita gente. As expectativas aumentaram ainda mais na última segunda-feira (27), quando a desenvolvedora decidiu divulgar publicamente o gameplay que havia divulgado a portas fechadas na E3.

Inspirado diretamente pelo RPG de mesa Cyberpunk 2020, de Mike Pondsmith — que está ajudando na produção do jogo —, o novo projeto também bebe de outras fontes do gênero. De filmes a animações japonesas e livros, o game promete trazer uma nova interpretação das regras que formam esse tipo de conteúdo, sem deixar de respeitar produtos influentes do passado.

Afinal, o que é o Cyberpunk?

Embora as origens do cyberpunk normalmente sejam associadas a Neuromancer, de William Gibson — até hoje uma obra seminal do gênero —, esse é um ponto de discussão que permanece em aberto. Para alguns, o que definiu de vez as “regras” desse tipo de produção foi Blade Runner, filme de Ridley Scott baseado nos conceitos das obras de Philip K. Dick.

Blade Runner

Enquanto o “dono” da ideia é difícil de ser definido, o mesmo não pode ser dito de suas regras. Obras do estilo são definidas por universos em que a evolução tecnológica se confundiu com a evolução da humanidade, o que não significa necessariamente que os dois caminham juntos de forma igualitária.

Neuromancer explicita bem essa diferença: enquanto os ricos e poderosos conseguem acesso a próteses que os tornam praticamente super-humanos e virtualmente imortais (e também garantem acesso ao ciberespaço dominado por corporações), quem não tem dinheiro é forçado a viver em favelas e usar os “restos” da tecnologia ultrapassada que não é mais julgada útil por quem está no poder.

Conforme o site Neon Dystopia aponta, o gênero também é marcado pela presença de protagonistas que, de alguma forma ou outra, lutam contra o establishment e distorcem suas regras — e é aí que entra o lado punk da coisa. Antiautoritários e críticos de marcas, esses personagens usam seu grande conhecimento da tecnologia para subvertê-la a seus anseios, que muitas vezes podem ter características egoístas.

Akira

Isso não quer dizer que todos os personagens são iguais: o Kaneda, de Akira, começa desde cedo como alguém revoltado com o sistema e que, diante de sua opressão, responde com um misto de apatia e raiva sem poder de mudança. Já o Deckard de Blade Runner começa sua jornada trabalhando para o sistema e lentamente passa a duvidar dele (e agir de forma contrária ao que ele estabelece) conforme os eventos de sua história evoluem.

O que define esses personagens como “punks” é sua rebeldia e vontade de “fazer as coisas por conta própria”. Subverter regras (e pagar o preço por isso) não é um problema diante de uma sociedade que em certos níveis beira o niilismo, e onde as relações de poder e opressão podem ser sutis, mas não resistem a um olhar mais crítico.

As influências na CD Projekt RED

Determinar como a CD Projekt RED vai interpretar os elementos do cyberpunk baseado no que foi divulgado sobre seu novo game até o momento seria, no mínimo, algo precipitado. No entanto, pelo material divulgado pela empresa até o momento já é possível determinar alguns elementos que certamente veremos na aventura.

Em entrevistas, a companhia já esclareceu que não vai ter medo de tratar de temas políticos e culturais, que fazem parte central do gênero. O questionamento da autoridade, especialmente daquela representada pelas grandes corporações — que efetivamente substituem a política tradicional e qualquer força do Estado nesses universos distópicos — aparece de forma clara no trailer de gameplay.

Ghost in the Shell

Corporações como a Arasaka nos lembram muito a Tyrell Corporation de Blade Runner, sendo referenciadas com certo desprezo pelos protagonistas. Falar com alguém “da corporação” soa como algo indesejado e que certamente trará problemas no futuro, mas que pode ter suas vantagens ao oferecer um nível de acesso a vantagens que não se abririam de outras maneiras.

Também podemos relacionar a própria Night City a outras obras do gênero: a Tokyo futurista de Akira é uma das primeiras que veem à mente, com seus enormes anúncios em neon e propagandas que chamam a atenção de forma agressiva. Outra obra japonesa — Ghost in the Shell — também possui semelhanças na maneira como trata os personagens: enquanto alguns exibem suas próteses e partes mecânicas abertamente, outros preferem adotar um visual mais “humano”, revelando seus elementos avançados somente em alguns momentos (caso da major Motoko Kusanagi).

Literatura e games

As obras de Isaac Asimov também devem ter grande influência sobre o universo do game: com The Witcher 3, a CD Projekt RED já mostrou que não tem medo em tocar em questões filosóficas, e os livros do autor estão recheadas de questionamentos sobre a relação entre a humanidade e a tecnologia. Da mesma forma, William Gibson, Philip K. Dick, Bruce Sterling, Rudy Rucker, John Shirley e vários outros têm contribuições que devem ser levadas em consideração pela equipe de produção.

Ghost in the Shell

Tentar fazer ligações entre Cyberpunk 2077 e outras obras da cultura popular é algo que pode ser exaustivo mesmo diante da quantidade limitada de material disponível sobre o game no momento. Entre as obras da cultura pop que podem ser citadas estão nomes como Ronin (Frank Miller), a trilogia Matrix e Shadowrun (que trouxe elementos fantasioso ao gênero) e incontáveis outros títulos que bebem da mesma fonte de forma menos ou mais aprofundada.

Até mesmo a vida real tem suas “partes cyberpunk”, se formos observar de alguma maneira — a disparidade de acesso às últimas tecnologias entre pessoas de diferentes classes sociais é evidente. Também podemos lembrar da Cidade Murada de Kowloon, uma área densamente povoada de Hong Kong que havia se tornado uma verdadeira distopia controlada pelas tríades locais com altos índices de prostituição, violência e consumo de drogas.

Deus Ex

Nos games, a ligação mais direta e óbvia é a série Deus Ex, que em seus capítulos mais recentes lidou com temas como o transhumanismo. No entanto, outros games já exploraram o gênero: Metal Gear Solid é uma série marcada pelas nanomáquinas e tecnologias avançadas que são usadas para propagar guerras sem fim e favorecer corporações, enquanto Observer usa a tecnologia como base para a criação de uma “praga digital” que resulta em condições assustadoras.

Entre outros nomes que passearam pelo gênero temos Syndicate, Binary Domain, Hard Reset e até mesmo Shin Megami Tensei, que em seu primeiro capítulo tratou do tema com certa profundidade, trocando as autoridades corporativas pelas religiosas. Até mesmo a série Call of Duty já teve um “pezinho” no Cyberpunk — Advanced Warfare tratou de como uma empresa usou seus avanços tecnológicos para virar a “polícia do mundo” e rivalizar o poder de nações soberanas.

Cyberpunk 2020

Obviamente, a influência mais direta de Cyberpunk 2077 é o RPG de mesa Cyberpunk 2020, de Mike Pondsmith, mais especificamente em sua atualização Cyberpunk 2030. Conforme o tópico iniciado pelo membro do Reddit conhecido como “Solo” aponta, fazer a distinção entre o jogo original e sua versão atualizada é essencial para compreender o cenário do game — que também deve trazer várias mudanças e uma interpretação própria.

2030 acontece após a Quarta Guerra Corporativa, que resultou no aumento da importância do movimento cyberpunk. Na falta das soluções oferecidas pelas grandes empresas, os punks foram os responsáveis pela reconstrução das grandes cidades e por estabelecer um mercado negro que efetivamente substitui os meios “oficiais” em grande parte do planeta.

Cyberpunk 2077

Um novo grupo conhecido como “Edgerunners” ganhou destaque no processo, tendo como principal característica a capacidade de sobreviver como ninguém nesse novo mundo urbano. Conectados ao “coração” das megacidades, eles possuem um poder de adaptação, velocidade e capacidade de pensamento criativo sem igual que garantem uma posição privilegiada.

Também temos grupos como os Reefs, que usar o poder da tecnologia para mudar sua forma e sobreviver às duras condições dos oceanos. Outras facções inclusas na atualização são os Desnai — o equivalente desse mundo aos magos — os “Rolling States”, que evoluíram a partir das civilizações nômades, os “Riptide”, que dominam avanços genéticos e os usam para sua vantagem e os “Cee-metal”, que acreditam que a tecnologia e o metal são intrinsicamente melhores do que partes biológicas.

A obra de Pondsmith se foca muito mais no caráter “punk” e na atitude “do it yourself” do que no lado triste do gênero. Isso fica evidente na maneira arrogante como o protagonista dos materiais de divulgação da CD Projekt RED descreve o mundo de Cyberpunk 2077 e deve ficar evidente na aventura como um todo.

No entanto, conforme aponta a PC Gamer, a obra também tem um lado crítico forte e mostra como corporações usaram seu poder para se infiltrar na vida pública e tomar controle, jogando pobres para escanteio e moldando políticas que as favorecessem. Tudo isso é apresentado não de forma absoluta, mas envolvido em diversos tons de cinza que tornam qualquer escolha moral difícil e não apontam necessariamente para um caminho “certo” — que pode sequer existir.

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Como podemos ver, a CD Projekt RED tem à sua disposição um grande caldeirão de influências e temas que podem ajudar a tornar Cyberpunk 2077 uma obra relevante não somente para o gênero, mas para a cultura em geral. E você, o que está esperando do novo RPG? Qual elemento do cyberpunk gostaria de ver destacado?

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