Dragon's Dogma 2 é um sonho que atinge o real potencial da franquia - Review

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Imagem: Capcom/Reprodução

Dragon’s Dogma 2 sempre foi um sonho meu e de todo fã que vivia enchendo o saco dos amigos, dizendo que eles tinham que jogar o game original algum dia. Não há dúvidas de que, apesar de Dragon's Dogma estar a frente seu tempo e ter ideias incríveis em 2012, ele ainda se perdia em algumas limitações e não atingia seu potencial total, se estabelecendo como um clássico cult da Capcom ao longo dos anos. Depois de inúmeros relançamentos em outras plataformas, sua fama foi crescendo aos poucos e o sonho distante de uma sequência virou realidade durante a comemoração de seus 10 anos de vida.

O grande medo a partir de então era que Dragon's Dogma 2 tivesse uma abordagem mais segura, apenas trazendo as mecânicas datadas de seu antecessor, mas com um visual renovado. Eu tive a oportunidade de testá-lo com antecedência e fico feliz em dizer que a espera valeu a pena e o game não ficou preso em suas antigas boas ideias. Você confere todos os detalhes na nossa análise a seguir!

Familiar e diferente

O primeiro fator que fica claro com Dragon's Dogma 2 é que ele é realmente similar ao primeiro jogo de várias maneiras, mas não de forma diferente do que vemos acontecendo com a franquia Souls ou Monster Hunter, que sempre renovam mecânicas conhecidas em mundos novos e trazem novidades pontuais. Eu cito essas duas séries especificamente, porque acredito que há outros paralelos delas com Dragon's Dogma, o que pode te dar uma visão melhor do que esperar do game.

O que ele faz é aproveitar boas ideias e mecânicas de seu antecessor, mas as aprimora substancialmente em todos os quesitos que puder imaginar. O combate não é mais desajeitado, há uma complexidade maior nas vocações, os peões são mais inteligentes, a exploração pelo mapa é mais recompensadora e as viagens não são frustrantes como antigamente, só para citar alguns exemplos rápidos.

Isso é bom tanto para o pessoal que já jogou Dragon's Dogma: Dark Arisen como para o grupo que nunca encostou no game original, mas que tem interesse em experimentar o novo título. Como tudo acontece de forma independente do antecessor e as mecânicas são bem explicadas, ele se encaixa perfeitamente para qualquer tipo de jogador.

A sequência tão esperada pelos fãs de Dragon's Dogma finalmente se concretizouA sequência tão esperada pelos fãs de Dragon's Dogma finalmente se concretizouFonte:  Capcom/Reprodução 

O retorno do Arisen e seus peões

A trama do título não é muito complexa e pode até ser vista como um dos pontos fracos do game por quem esperava algo mais épico a todo momento. Eu achei ela cativante o suficiente, especialmente se você fizer o final verdadeiro após ver o primeiro final do game, já que isso deixa as coisas bem mais interessantes. O resumo que posso te contar sem estragar nada é que você descobre ser o Arisen (alguém que desafiou um dragão e teve seu coração roubado por ele), o que deveria lhe garantir o título de soberano na região de Vermund. O problema começa quando descobrimos que outra pessoa chegou antes dizendo ser o Arisen e ocupou seu lugar, iniciando o mistério que você deve desvendar durante suas aventuras.

Para nos acompanhar, os peões fazem o seu retorno. Esses seres que não sentem vontade ou emoções tem o objetivo de servir e auxiliar o Arisen como for possível. Quando criar o seu personagem, você também poderá criar um peão principal que te seguirá por toda a jornada. Vale mencionar aqui que o criador de personagens do jogo é incrível, super detalhado e pode ser testado por qualquer pessoa, já que foi disponibilizado de graça para todos.

Para completar a sua party, é possível recrutar outros dois peões, que serão as criações principais de outros jogadores. Viajar com outros mestres faz com que esses peões acumulem sabedoria sobre rotas de exploração, tesouros, segredos, como resolver quests ou onde encontrar cavernas, por exemplo. Como apenas o seu peão sobe de nível e pode ser personalizado no equipamento, habilidades e vocações, se torna necessário trocar os outros dois com frequência, o que te ajuda a enviar e receber peões com o conhecimento que pode te ajudar.

Não é possível controlá-los, então você terá que se contentar em dar apenas alguns comandos básicos, como para te esperar, seguir na sua frente ou te acompanhar. Suas ações dentro e fora de batalha serão definidas pelas suas vocações, habilidades equipadas, personalidades e especializações, todos fatores definidos por seus mestres originais. A boa notícia é que os peões estão bem mais inteligentes do que antes e tomam ações melhores na maior parte do tempo, mas é claro que eles não são totalmente a prova de falhas e podem agir de forma mais boba de vez em quando.

Essa falta de controle pode ser frustrante para jogadores que gostam de gerenciar todos os aspectos de sua party, ainda mais quando eles fazem o contrário do que você esperava. Do meu ponto de vista, isso só deixou o grupo mais dinâmico e até realista em certo ponto, como o que você teria com pessoas de verdade em um MMO ou um jogo como Monster Hunter. Isso se amplia pelo fato das vozes e falas dos peões estarem mais variadas e por eles reagirem a eventos que estão acontecendo no momento. Obviamente, isso pode se tornar mais repetitivo depois de dezenas de horas, mas nunca chegou em um ponto irritante pra mim.

A brutalidade continua

Outro aspecto que Dragon's Dogma 2 herdou de seu antecessor é a sua dificuldade. As primeiras horas consagram a natureza brutal do game, que pode ser ainda mais desafiadora se você tentar jogá-lo como qualquer outro RPG de mundo aberto. O título deixa bem claro de início que se deve escolher as batalhas com sabedoria, que a noite é mais perigosa que o dia, que momentos de descanso são muito necessários e que não adianta apertar qualquer botão de ataque sem parar, por exemplo.

Em comparação à Dark Arisen, eu achei que o combate melhorou bastante, se tornou mais satisfatório e deixou de ser algo desajeitado. Isso vale tanto para inimigos pequenos como para os mais épicos que você encontra aos montes pelo mapa. Há uma grande ênfase em experimentar as diversas vocações, gastar pontos com habilidades e testar os diferentes combos que podem ser realizados com cada arma.

Criatividade é palavra que resume essa parte do game, já que você pode definir quais habilidades quer combinar e como usá-las. Isso vale até fora de combates, já que você pode usar essas skills para se locomover de forma mais livre e que te permite chegar em lugares que pareciam inalcançáveis previamente.

As batalhas estão ainda mais épicas do que em seu antecessorAs batalhas estão ainda mais épicas do que em seu antecessorFonte:  Capcom/Reprodução 

Algo que você pode sentir falta é uma forma de se esquivar dos ataques dos inimigos, já que não há um botão dedicado a isso em Dragon's Dogma 2. Sua melhor opção será encontrar habilidades defensivas em sua vocação atual ou aprender a lidar com os padrões de ataques dos monstros para saber quando atacar e quando se afastar. No caso, isso resume bem como lidar com os inimigos, já que todos representam uma ameaça, sejam eles grandes ou pequenos.

Falando em inimigos grandes, não tem como deixar de falar sobre a mecânica de subir nos monstros, escalá-los e tentar se equilibrar enquanto ataca seus pontos fracos. Essa parte sempre foi divertida no original, mas também está bem aprimorada no novo jogo. Um ponto que pode te desanimar é que às vezes a câmera não colabora, indo para um ângulo estranho no meio do combate. Isso pode atrapalhar já que você terá que arrumá-la na pressa, mas não chega a acontecer com uma frequência tão grande para ser um grande empecilho.

No meio disso tudo, você deverá manter um olho nos seus pontos de Vigor e Vitalidade, ou seja, sua saúde e fôlego. O fôlego é usado quando você corre fora dos vilarejos, quando está montado no bicho ou ao usar certos ataques. Já a sua saúde diminui ao tomar dano e pode ser restaurada com magias ou itens de cura. Caso você tome dano constantemente antes de se curar, notará que a vida máxima vai diminuir, algo que só se recupera quando você descansa em um acampamento, pousada ou casa própria. Por isso é tão importante ter noção de quais batalhas valem a pena e quando é melhor recuar, um cuidado que deve ser dobrado durante a noite, quando os monstros são mais agressivos.

Um novo mundo

Para deixar claro, eu joguei em um PC bem modesto, com uma placa de vídeo GTX 1660 e 16GB de RAM. Essa configuração está cada vez mais defasada para novos jogos AAA, mas ainda deu conta de Dragon's Dogma 2 de forma aceitável. Com a configuração visual no "Baixo", o título ficou na média entre 30 e 55 fps, mas caiu para 24 fps em algumas ocasiões onde muita coisa estava acontecendo na tela. Eu imagino que futuras atualizações do jogo e de drivers da NVIDIA possam ajudar com isso, mas a experiência que eu tive antes do lançamento foi essa.

Mesmo não tendo como aproveitar o visual do jogo nas configurações máximas, eu ainda me impressionei com a beleza e o nível de detalhes que ele traz. O mundo tem alguns biomas diferentes e oferece cenários bem variados, no sentido de que você nunca sente que está passando por lugares muito parecidos, mesmo que visite várias florestas ou cavernas, por exemplo. Isso se torna mais imersivo pelo fato de que não há nenhuma tela de carregamento no game além do momento que você morre e precisa carregar o último ponto salvo.

Para complementar, o design de som também me impressionou no que diz respeito às armas, a natureza, os animais e inimigos, já que a trilha sonora do jogo é bem mais sutil quando estamos fora de combate.

Algo que vale ser mencionado é que também há muitas maneiras de interagir com o mundo à sua volta desta vez. Seja ao cortar as cordas de uma ponte para impedir que os inimigos te sigam, ao quebrar uma barreira natural de pedras para desbloquear uma caverna, ao colocar fogo na grama ou ao pegar objetos e inimigos para jogá-los em outros inimigos. Se você combinar isso com as habilidades da sua vocação que mencionamos antes, dá para ser ainda mais criativo na maneira que se explora o mundo e resolve problemas dentro dele.

Um outro ponto que pode irritar os jogadores na parte visual é o fato dos NPCs não serem tão expressivos quando estão conversando com você fora das cutscenes. Eles agem de forma similar aos NPCs de Elden Ring e Monster Hunter Rise, para citar exemplos recentes e populares. Isso significa que você até vê alguma expressão facial e corporal durante os diálogos, mas é sempre algo meio minimalista. Não é algo que me incomoda em nenhum dos jogos que eu citei, mas deixo essa informação para quem gosta de ver personagens mais expressivos em RPGs.

O sonho dos aventureiros

A maior percepção que eu tive é que Dragon's Dogma 2 sempre quer te fazer sentir parte de uma grande aventura única. Considerando que todo tipo de coisa pode acontecer naturalmente enquanto você está viajando pelo mapa, que não há tantos eventos roteirizados e que o jogo não fica te explicando o que deve ser feito a todo momento, nós temos a possibilidade de ver os jogadores tendo experiências totalmente diferentes mesmo se estiverem tentando alcançar o mesmo objetivo. É algo similar ao que vimos em jogos como Baldur's Gate 3 e The Legend of Zelda: Tears of The Kingdom no ano passado.

Isso também ocorre com as missões do game, já que algumas são mais vagas e requerem que você determine sozinho como pode resolver a situação. Um bom exemplo é a missão na qual é preciso encontrar um menino que sumiu de sua vila. A única instrução recebida é a de conversar com os moradores e, a partir disso, juntar informações e iniciar suas buscas sem qualquer indicação no mapa. É importante dizer que há missões temporárias que contam com um limite de tempo, como é o caso da que acabei de narrar. Algumas expiram pela urgência da quest, enquanto outras expiram quando você avança na trama do game, algo avisado com antecedência.

Eu adorei esse sistema, que só concretiza a filosofia de Dragon's Dogma 2 se recusar a segurar a nossa mãozinha e dizer o que precisa ser feito passo a passo. Ainda assim, até eu tive momentos de confusão com o que deveria ser feito em seguida, como foi caso de uma quest envolvendo um baile de máscaras, cuja solução eu descobri ao tentar algo meio improvável. De qualquer forma, por causa de situações como a que acabei de relatar, eu imagino que isso possa contar como um ponto negativo para muitos jogadores.

Aprender a usar sua vocação e habilidades ajuda bastante durante as lutasAprender a usar sua vocação e habilidades ajuda bastante durante as lutasFonte:  Capcom/Reprodução 

Outro ponto que contribui para essa sensação de aventura é a maneira que você viaja por diferentes pontos do mapa. Em Dragon's Dogma 2, é possível explorar o mapa a pé, com uma carroça contratada em cidades ou com o fast travel realizado com portais em vários pontos do mapa. Todas as opções são válidas e úteis dependendo do que você necessita da hora. A viagem a pé é excelente para descobrir mais partes do mapa, encontrar missões, coletar recursos importantes, encontrar segredos e tesouros, etc. Além disso, o jogo é extremamente recompensador para quem decide explorá-lo com mais atenção, sempre te oferecendo incentivos para continuar olhando cada rota alternativa que aparece pela frente.

Com a carroça, você pode viajar para cidades de forma fixa, tendo a opção de dormir para tornar a viagem mais rápida, mas com o risco de ser acordado por monstro que precisa ser derrotado. Já o fast travel é realizado com o uso de uma pedra consumível que você pode comprar ou encontrar pelo mundo. Só é possível viajar para locais que tenham um portal ativado, sendo que eles podem ser fixos do jogo ou colocados pelo jogador onde for mais conveniente. Para referência, você pode colocar até 10 portais ao redor do mapa. Essa era uma das partes mais frustrantes no primeiro jogo, já que as pedras de fast travel não eram abundantes e você acabava viajando a pé por longas distâncias em rotas que tinha percorrido antes.

Só é necessário ter em mente que tudo o que você decide fazer é definitivo, afinal, não há múltiplos dados salvos para ficar carregando quando algo não acontece da maneira que você queria. Embora eu tenha abusado do esquema de recarregar os saves de Baldur's Gate 3, tenho que confessar que a falta dessa opção em Dragon's Dogma 2 adiciona mais peso em suas escolhas e te faz pensar bem antes de aceitar certas missões ou progredir na história.

Vale a pena?

Se você acompanhou essa análise até agora, deve imaginar que eu vou afirmar que Dragon's Dogma 2 vale muito a pena. Se está curioso para jogar, vá em frente! Só é necessário ter consciência que esse é um jogo mais difícil e que possui muitos sistemas e mecânicas importantes a se aprender. Também há um grande foco em exploração e batalhas intensas, então se esse não for o seu tipo de jogo, não será Dragon's Dogma que mudará a sua opinião.

Você pode quebrar barreiras naturais ou pontes para se livrar dos inimigosVocê pode quebrar barreiras naturais ou pontes para se livrar dos inimigosFonte:  Capcom/Reprodução 

A boa notícia é que ele consegue aprimorar e modernizar as boas ideias do original, adicionar elementos novos e seguir na proposta que sempre teve sem se perder nas tendências de outros RPGs recentes. Eu não acho que esse é um jogo perfeito, até porque nem acredito que isso exista. É claro que ele possui algumas falhas, mas nenhuma delas tira o seu brilho ou estraga a experiência excepcional que é jogar esse título.

Há sempre a chance desse título se tornar bem divisivo entre as pessoas que gostam desse tipo de gameplay e os que não apreciam essas mecânicas específicas. Para mim, a Capcom finalmente atingiu o potencial que a franquia sempre teve e, desta vez, com a atenção que o primeiro game não recebeu em seu lançamento. Um dos candidatos certos para o jogo do ano em 2024, Dragon's Dogma 2 é um sonho realizado e um dos RPGs que certamente marcará essa década.

Nota do Voxel: 100

Pontos positivos (prós):

  • Todos os sistemas do game original foram aprimorados
  • O mundo é dinâmico, muito detalhado e nada repetitivo
  • O game te recompensa por explorar e ser criativo
  • As vocações e habilidades tornam o combate em algo diverso e satisfatório
  • O game é brutal, mas de maneira muito divertida

Pontos negativos (contras):

  • Algumas quests são vagas em suas descrições e pode gerar frustração
  • A câmera pode te atrapalhar ocasionalmente em lutas muito intensas

Dragon's Dogma 2 foi cedido para review na versão de PC pela Capcom. O jogo tem lançamento marcado no computador, PS5 e Xbox Series S e X para 22 de março de 2023.

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