Documentário da HBO Max liga youtuber e Club Penguin a massacre de Realengo; entenda

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Imagem: Reprodução/Club Penguin Legacy

Um documentário lançado neste mês na HBO Max liga um youtuber e jogos como Club Penguin e Five Nights at Freddy’s (FNAF) ao massacre cometido em uma escola em Realengo. O especialista consultado pela produção ainda culpa jogos como Counter-Strike pelo ataque ocorrido em 2011.

O assunto viralizou nas redes sociais ontem (20), sendo que o youtuber citado como má influência para crianças foi Henrique Marangon, mais conhecido como Core. O filme documental divulgado pela HBO cita nominalmente Core e ainda utiliza trechos de seus vídeos e sua voz para justificar como seu conteúdo seria perigoso.

As acusações contra Core estão no terceiro episódio de Massacre na Escola - A Tragédia das Meninas de Realengo. “Essa rede [de aliciadores de menores de idade] assiste os mesmos desenhos, filmes e jogos para ter a mesma linguagem. Para ter o hype, que é a moda dos filmes, séries de streaming”, afirma no documentário Ricardo Chagas, que se intitula como consultor educacional, palestrante sobre mídias, segurança virtual, segurança familiar e uso da tecnologia na educação.

Logo depois de falar sobre o modus operandi dos aliciadores, a produção veiculada na HBO Max mostra trechos de vídeos de Core e Chagas fala que ele é “o maior canal brasileiro de conteúdo infantil, que não é infantil”.

Posteriormente, o consultor acusa FNAF de “ser um jogo que parece ser bobo, mas [que] vem de um massacre em uma lanchonete americana”. “Aí fizeram um joguinho que não é infantil, nunca foi infantil, e a criança vai para lá e um prato cheio para os aliciadores. É a Disneylândia do aliciador”, acrescenta.

Aliciadores no Club Penguin

Ricardo Chagas, que chegou a ser ouvido na Comissão de Educação na Câmara dos Deputados em uma audiência com o tema “Violência contra as escolas e a proteção de crianças, adolescentes e profissionais da educação”, defende que os aliciadores de menores estão espalhados por várias plataformas.

Ele diz, por exemplo, que estas pessoas marcam presença no site do Cartoon Network e Club Penguin, que “era um baita projeto da Disney, muito interessante, cheio de avatares, e que ficou depois cheio de pedófilos e aliciadores e por isso tiveram que fechar o servidor”.

No documentário, Chagas ainda defende que jogadores brasileiros são conhecidos internacionalmente por serem tóxicos, já que eles não “cumprem as missões nos games, atiram nos próprios amigos e roubam itens de outras pessoas”.

O tema games segue como “alvo” do documentário em vários outros trechos, com imagens de Call of Duty e Counter-Strike sendo mostradas para chocar.

No meio de todas estas explicações, Chagas ainda argumenta que o assassino de Realengo gostava muito de Counter-Strike e que o criminoso provavelmente foi recrutado para grupos extremistas dentro do game.

“No FPS você tem a arma e sai atirando para matar seus inimigos. Muita gente não sabe, mas essa modalidade de first person shooter foi criada pelo exército americano para treinar soldados. Após o soldado experimentar essa ferramenta, ele consegue melhorar em 70% sua capacidade de mira, precisão e letalidade. E o assassino de Realengo treinou dentro dessa modalidade”, pontua ainda.

Acusação contra Roblox e influencers

Por causa da viralização do assunto nas redes sociais, Ricardo Chagas realizou uma live ontem em seu Instagram falando sobre a questão. Ele se defendeu e atacou vários produtores de conteúdo, além de voltar a fazer a ligação entre jogos eletrônicos e violência.

Em uma transmissão que durou quase 30 minutos, o palestrante diz que trabalha com educação infantil há 20 anos, que é pesquisador da área e que sabe do que está falando. Ele comentou que Core estava “se fazendo de vítima”, já que o youtuber contou que não estava conseguindo dormir por ter seu nome associado de alguma forma ao que aconteceu em Realengo.

“Isso nada tem a ver com você, Core. Eu não sei que preocupação foi essa. Haja visto que você, sim, coloca conteúdo dessa natureza para falar de outros casos de aliciamento dentro da internet. Por que isso acontece, Core? Quero te dizer que a minha rede social foi invadida por sua causa. Você me citou hoje. Entrou na minha vida digitalmente e atrapalhou minha carreira”, reclamou Chagas.

O entrevistado do documentário ainda acusou os seguidores do youtuber de analfabetismo funcional, já que de acordo com ele, em nenhum momento acusou Core de ser um aliciador. “Você é citado porque é um dos maiores canais do brasil, estou te fazendo um elogio. É nos comentários [dos vídeos] que os aliciadores encontram as crianças”, justificou.

Chagas ainda chamou influencers como Luccas Neto de “irrelevantes”, diz que eles usam o hype dos games para “destruir infâncias”, sustenta que títulos como Roblox foram responsáveis por assassinatos e que figuras como Huggy Wuggy são prejudiciais para crianças.

“Muito cuidado comigo, porque eu sou alguém que estuda há muitos anos. E chega de enganar famílias”, chega a dizer Chagas.

Defesa

O Voxel tentou entrar em contato com Henrique Marangon, o Core, para verificar se ele gostaria de falar sobre o assunto, mas não conseguimos retorno. Pelas redes sociais, Marangon explicou que o seu canal não é para crianças.

Em um vídeo de pouco mais de 20 minutos, ele afirma que está preocupado com a sua segurança. “Estão usando a minha imagem e a minha voz para dar uma justificativa para uma tragédia real”, ressalta.

O produtor de conteúdo lembra que seu canal começou em 2013, sendo que o ataque à escola em Realengo foi realizado em 2011. Outro ponto é que ele ressalta que FNAF não foi baseado em uma massacre, já que o próprio criador do jogo, Scott Cawthon, que é cristão, já falou sobre a real inspiração do título de terror.

Em entrevista ao site cristão Geeks Under Grace, em 2014, Cawthon revelou que tinha feito um jogo family friendly de castores, mas que muita gente estava criticando e dizendo que os bonecos eram animatrônicos e assustadores. Depois de entrar em depressão pelos comentários maldosos, ele resolveu voltar a produzir games.

“Minha inspiração para o jogo foi o fato de toda criança ter medo dessas coisas! Sempre há alguns corajosos, com certeza, mas quase todo mundo da minha idade olha para trás e percebe que aquelas coisas [os bonecos] eram aterrorizantes”, respondeu.

No vídeo, que está mais acima, Core ainda reclama de não ter recebido nenhuma mensagem da HBO ou da produtora responsável pelo documentário.

Outro lado

O Voxel também entrou em contato com a HBO Max e a Giros Filmes, que é a produtora responsável por realizar o documentário Massacre na Escola - A Tragédia das Meninas de Realengo. Contudo, nenhuma das duas empresas retornou o contato até o fechamento da matéria.

O texto será atualizado caso as companhias emitam algum comunicado sobre o assunto.

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