Análise: testamos o Ouya, o console Android de 99 dólares [vídeo]

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 Desde que o Atari 2600 popularizou os consoles de video game e reinventou o entretenimento doméstico, o mercado de consoles tem sido um terreno muito disputado — e não foram poucas as empresas que tentaram entrar nesse segmento. Entretanto, se sobressair nesse ramo não é uma tarefa fácil.

Se você acompanha o mercado de video games, certamente está a par de tudo o que está acontecendo no momento. Essa troca de gerações está sendo uma das mais movimentadas da história, e as gigantes Sony, Microsoft e Nintendo estão investindo pesado para conquistar o lugar no coração dos jogadores.

A história nos ensinou que bater de frente com os gigantes é suicídio e, para tentar competir no negócio, é preciso inovar; talvez até mesmo criar um novo nicho de mercado. E é justamente isso o que o Ouya pretende fazer, trazendo uma proposta diferente. Enquanto PlayStation 4, Xbox One e Wii U trabalham com plataformas fechadas e distribuem os jogos primariamente em mídias físicas, o Ouya trabalha apenas com a distribuição digital.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Além disso, o aparelho trabalha com o Android, o sistema operacional da Google que já se firmou no mercado de dispositivos móveis. Graças a isso, o novo console já começa com um grande diferencial: um ecossistema mais amigável para os desenvolvedores — principalmente indies — e uma biblioteca de títulos com um tamanho razoavelmente grande.

O maior diferencial do formato de distribuição do Ouya é que todos os jogos possuem uma versão gratuita, de demonstração ou free-to-play. Basta se conectar à internet, acessar a loja e baixar o que você quiser; só é preciso pagar se você gostar do que experimentar.

Com esse sistema, é possível conhecer todos os títulos antes de comprar. Outra vantagem são os preços: como o Ouya trabalha com Android, os valores seguem a mesma ideologia, ou seja: você encontrará games custando poucos dólares.

O Ouya ainda pode ser utilizado como media center e possui uma arquitetura amigável a modificações tanto via software quanto hardware. Para completar, o preço também é atraente.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

A proposta do Ouya lembra um pouco o Zeebo, o console brasileiro lançado pela Tectoy em 2009. A máquina fabricada aqui também contava com games distribuídos exclusivamente em formato digital (através de rede 3G), e muitos deles eram versões de games já lançados para celulares e smartphones.

O projeto Ouya chamou a atenção do mundo quando iniciou uma campanha no Kickstarter para arrecadar fundos para o desenvolvimento e acabou angariando mais de 8 milhões de dólares em poucos dias. Com isso, inevitavelmente o mundo voltou os seus olhos para o sistema. Mas será que, depois de tanta expectativa, o Ouya vai conseguir cumprir tudo o que prometeu? Nós analisamos o console e vamos contar o que achamos dele.

Tecnologia

O hardware do Ouya é bastante semelhante ao de um tablet ou smartphone Android. Confira as especificações:

Partindo desse princípio, em pouco tempo games lançados para aparelhos mais top de linha do Android podem não ser capazes de rodar no Ouya — pelo menos não sem antes ter o seu visual remodelado para baixo. Alguns games atuais já rodam com certa limitação no console. Shadowgun, por exemplo, possui gráficos muito bons, mas deixa a desejar no desempenho, apresentando uma baixa taxa de FPS.

Outra limitação é o espaço de armazenamento do console: são apenas 8 GB para você instalar os jogos e aplicativos. Para piorar, esse espaço é dividido com o sistema operacional, o que deixa pouco mais de 5 GB livres para você. Para amenizar um pouco esse problema, o equipamento aceita armazenamento externo via USB.

A companhia já avisou que o console terá suas especificações revistas todo ano, ou seja, para acompanhar a evolução será preciso adquirir um console novo com um hardware mais potente todos os anos.

Design do console

O design do Ouya é bastante diferente do tradicional, principalmente para um console. Enquanto Xbox, PlayStation e Wii são grandalhões, o Ouya não é maior que uma caneca de café.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

O dispositivo é um cubo com os cantos de baixo arredondados e com as laterais revestidas por alumínio. A parte de baixo contempla uma abertura para refrigeração, e a parte de cima traz o botão para ligar o aparelho.

A parte de trás do Ouya possui um conector de energia para a fonte de 12 volts que o acompanha, uma porta USB e um conector de rede Ethernet, para o caso você não possuir WiFi em casa. Para ligar o console à sua TV, é utilizada uma conexão HDMI, e os controles se comunicam com o video game através de Bluetooth.

O visual elegante e discreto do Ouya permite que ele se adapte perfeitamente a qualquer ambiente, podendo ficar à mostra ou até mesmo oculto atrás da TV, por exemplo.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Um fator curioso sobre o visual do Ouya é o seu peso: como ele trabalha com os mesmos componentes que um smartphone comum, ele acaba sendo muito leve. Dessa forma, os cabos conectados na parte de trás do console podem fazê-lo tombar. Isso não chega a ser um problema, mas pode ser um incômodo dependendo do local onde você o deixar.

O controle

Ao criar o joystick do Ouya, a equipe optou por trabalhar com um modelo que não foge muito do padrão ao qual já estamos acostumados. O controle possui dois direcionais analógicos, um digital, quatro botões principais, dois botões superiores e dois gatilhos analógicos — o layout segue o mesmo padrão do controle do Xbox 360.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

O joystick também possui um botão de controle na parte central, além de trazer um touchpad nos mesmos moldes do Dual Shock 4.

As laterais do controle são cobertas com uma camada de alumínio, assim como o console. As duas pilhas que alimentam o dispositivo ficam alojadas nas laterais do modelo, e para substituí-las é preciso remover as duas tampas. O problema é que não existe um modo fácil de fazer isso, e a impressão é de que ao puxar a tampa ela poderá se quebrar a qualquer momento.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Apesar de seguir à risca o design dos modelos aos quais já estamos acostumados, o controle do Ouya não é tão ergonômico quanto os modelos desenvolvidos pela Sony e pela Microsoft. A “pegada” é um pouco desajustada, pelo menos até se acostumar com ele.

Os botões também são ruins. Por diversas vezes eles “travaram” apertados durante as partidas, e foi preciso puxá-los para fora para continuar jogando; isso é comum em joysticks “piratas” de baixa qualidade, mas não em produtos “originais".

Outro problema do controle é a ausência de uma tecla “Start”. Isso porque o botão principal — na maioria dos games — é utilizado para fechar o aplicativo e retornar à tela inicial do console. A falta de uma tecla Start padrão faz com que os desenvolvedores precisem incluir as funções de pausa ou menus de contexto nos botões de ataque.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Pela falta de padronização, em alguns jogos essas funções ficam no botão Y, em outros é na tecla R1. Cabe aos criadores do console estabelecer a ordem para evitar a confusão entre os jogadores.

O touch é bastante funcional e responde bem aos comandos, porém ainda não existem games que utilizem o recurso. Até o momento, a maior utilidade dele é a navegação pelos menus e aplicativos do sistema.

Entretanto, o pior problema de todos é o tempo de resposta do controle. Ele apresenta uma latência muito alta em alguns momentos e, em diversas ocasiões — durante os jogos ou não —, ocorreram atrasos na comunicação entre joystick e console. Dentro de um jogo de ação em que os comandos precisam ser executados rapidamente, esse tipo de problema pode tornar-se bastante incômodo.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Para evitar essa situação, é possível conectar um controle de PlayStation 3 ou Xbox 360 ao Ouya mas, nesse caso, a proposta do console se perde um pouco por não ser algo muito prático, ainda mais se você não possuir nenhum desses dispositivos em casa.

Interface

A interface do Ouya é relativamente simples, o que é muito bom. Assim que você liga o console pela primeira vez, precisa criar uma conta Ouya. Sem essa conta, você não pode ter acesso a nenhum aplicativo desenvolvido para o console, pois, apesar de trabalhar com o Android, a plataforma não utiliza a Google Play, a loja oficial da Google.

Isso significa que, caso você já possua algum game para Android e queira jogar no seu novo console, precisará adquirir o título novamente na loja do Ouya. Isso é necessário porque a plataforma utiliza uma versão customizada do SO e, para que os games sejam completamente compatíveis, é preciso que os desenvolvedores criem uma pequena “conversão” antes que eles possam ser disponibilizados no sistema.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

A interface traz quatro opções principais: Play, Discover, Make e Manage, veja o que faz cada uma delas:

  • Play: permite a você acessar a sua coleção de jogos e aplicativos instalados;
  • Discover: é a loja Ouya onde você pode navegar pelas categorias e escolher o que deseja instalar;
  • Make: essa categoria é reservada aos desenvolvedores (e curiosos). Aqui estão as ferramentas de desenvolvimento e um navegador, que permite a você navegar na internet e instalar aplicativos não oficiais no console;
  • Manage: aqui é possível ter acesso às configurações mais avançadas do sistema, como conta, controles e armazenamento.

Apesar de bem organizada, a interface da loja ainda precisa de mais ferramentas de filtragem. Até o momento, todos os itens são exibidos separados por gêneros e categorias e são retratados por imagens em miniatura. Como a biblioteca é extensa, fica um pouco confuso encontrar o que se deseja por lá, mesmo que você possa buscar os títulos por palavras-chave.

A sua biblioteca de jogos local utiliza a mesma interface, porém sem a divisão por gêneros. Navegar pelos inúmeros títulos instalados pode ser um pouco cansativo sem uma ferramenta que permita uma melhor ordenação dos títulos.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Felizmente esses problemas podem ser corrigidos com uma simples atualização do sistema.

A navegação na interface do console é relativamente rápida, salvo alguns momentos isolados em que realizamos muitas tarefas simultaneamente (downloads, navegação) e o sistema pode dar algumas engasgadas.

Um dos pontos positivos do Ouya é a rapidez com que se tem acesso aos aplicativos. Você perderá poucos segundos desde ligar a máquina até estar jogando; algo raro nos consoles atuais, que devido ao número de funções e recursos acabaram se tornando muito “burocráticos”.

Hackers, sejam bem-vindos

O Ouya foi concebido com um propósito em mente: ser uma plataforma aberta aos “hackers” ou a qualquer um disposto a criar modificações para o aparelho, seja via software ou até mesmo hardware.

Quando a empresa iniciou a sua campanha no Kickstarter, a promessa era de que seria extremamente fácil acessar o console em modo root e até mesmo criar e desenvolver periféricos compatíveis com o sistema. O incentivo é tanto que a empresa fornece até mesmo o design do hardware do console para quem quiser.

(Fonte da imagem: Reprodução/iFixit)

O design — tanto do console quanto do joystick — colabora com essa política: todos os parafusos utilizados são comuns e posicionados em locais de fácil acesso, permitindo que os mais curiosos desmontem os dispositivos com facilidade.

Biblioteca de jogos

Uma das promessas do Ouya é a grande quantidade de games disponíveis. E a empresa não mentiu. Mal o console foi lançado e já existem mais de 300 títulos disponíveis para a plataforma. É claro que é preciso levar em conta que muitos desses jogos são versões remodeladas de títulos já lançados para o Android, mas mesmo assim o número impressiona.

Existe até mesmo um contador no site oficial do Ouya que mostra a quantidade de jogos disponíveis para o sistema. Até o momento em que este texto é produzido, o contador marcava um total de 308 games — mas que já deverá estar muito maior no momento em que você estiver lendo.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Caso ache interessante, você poderá testar todos os jogos gratuitamente antes de comprar, e isso é um bom negócio, pois, apesar da grande quantidade, os títulos de qualidade ainda são escassos na biblioteca do console. A facilidade em se criar aplicativos sem muitos critérios acaba gerando muitos games desinteressantes, exatamente como acontece no Android e no iOS. Dessa forma, testar os produtos antes de comprar ajuda você a decidir pela aquisição do título ou não.

Shadowgun (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Entre alguns dos títulos mais conhecidos do Ouya estão games como Final Fantasy 3, Shadowgun e Canabalt, jogos que fizeram sucesso nos dispositivos móveis. Quem é fã de ação também vai se interessar por Chronoblade, um Hack ´n Slash com elementos de RPG e uma ótima jogabilidade. Ittle Dew traz gráficos bonitos, bom humor e um estilo de jogo que lembra muito The Legend of Zelda: A Link to the Past.

Iddle Dew (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

O multiplayer local também não foi deixado de lado na plataforma, e games desenvolvidos para esse propósito já começam a aparecet na biblioteca do console. Um exemplo disso é TowerFall, um game de ação simples, mas muito divertido, que pode proporcionar muitas horas de diversão para você e seus amigos.

TowerFall (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

O multiplayer online existe no Ouya, mas o console não traz uma rede dedicada como a Live ou a PSN. O aparelho, pelo menos por enquanto, também não oferece suporte à Google Play Games.

A loja oficial também traz diversos emuladores, das mais variadas plataformas. É possível rodar games de Nintendo 64, Super Nintendo, Mega Drive e outros consoles clássicos com relativa facilidade no Ouya.

Emulador de Super Nintendo. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Aplicativos diversos

O Ouya vai além dos games e oferece uma boa quantidade de aplicativos com finalidades das mais variadas, como players de música, vídeo, entre outros. O console ainda não recebeu uma versão oficial do Netflix, um dos serviços de streaming de vídeos mais utilizados no mundo; entretanto, existem outros aplicativos semelhantes na loja oficial.

Se você não encontrar o que deseja por lá, pode instalar softwares extraoficiais no aparelho. Esse é justamente um dos pontos-chave do Ouya: como a plataforma é aberta para qualquer um que quiser desenvolver, é possível baixar e instalar muitos programas na máquina.

Explorador de arquivos. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Apesar de não ser possível acessar a Google Play, existem muitos softwares desenvolvidos para dispositivos Android que são compatíveis com o Ouya. Na internet já possível encontrar listas de aplicativos que rodam no console.

Qualidade dos games

Ainda é cedo para estabelecer um padrão de qualidade para os games do Ouya, principalmente porque a maioria dos títulos são versões de games para Android convertidos para o console. Desse modo, ainda existem poucos títulos que realmente chamam a atenção do jogador.

Monocle Man (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No caso dos games convertidos, existe um problema com os gráficos: imagine um jogo desenvolvido para rodar em uma tela de 5 polegadas sendo executado em um televisor de 40. Por mais que a resolução do título seja Full HD (ou próximo disso), é possível encontrar algumas falhas nos gráficos. É claro que isso não acontece com todos os jogos, mas elas estão lá. No jogo Final Fantasy 3, por exemplo, é possível ver os pixels estourando na tela.

AmpliarFinal Fantasy 3. Clique para ampliar. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

É claro que a proposta do Ouya não é competir de frente com os gigantes dos consoles em termos de gráficos e tecnologia. Entretanto, quando você coloca o aparelho na mesma categoria — consoles de mesa —, é inevitável fazer esse tipo de comparação.

Além disso, como já citado anteriormente, a grande quantidade de títulos disponíveis não significa necessariamente qualidade. Muitos dos jogos ali presentes são extremamente simples ou sem graça. Alguns podem até ser interessantes em um smartphone ou tablet, por exemplo, que são dispositivos utilizados — na maioria das vezes — para jogatinas mais rápidas e descompromissadas.

A plataforma também não oferece, pelo menos por enquanto, aplicativos de mídia, como Netflix ou o Hulu. Uma das poucas alternativas é o Twitch TV.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Porém, novamente é preciso lembrar que o console acabou de ser lançado, e qualquer plataforma que chega ao mercado precisa de tempo para evoluir e encontrar o seu caminho, principalmente um produto que oferece uma proposta inovadora.

Vale a pena comprar um Ouya?

Essa pergunta é difícil responder, uma vez que cada pessoa possui perfil e necessidades diferentes. Antes de se decidir pela compra, é preciso considerar os pontos positivos e negativos do aparelho e ter em mente que ele é um console de mesa, mas não pertence à mesma categoria de dispositivos como o Wii U, o PlayStation 4 ou o Xbox One.

A biblioteca de games já é muito grande, contendo mais de 300 títulos já disponíveis, sendo que é possível jogar todos eles gratuitamente antes mesmo de comprá-los. O custo dos jogos é outra vantagem, já que a média de preço fica na casa dos 3 dólares, assim como acontece nos smartphones e tablets.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

O preço do console não deixa de ser atraente: você pode adquirir um Ouya por apenas US$ 99 (cerca de R$ 227, sem impostos). O preço é baixo para uma máquina bastante versátil e que oferece um bom potencial. Entretanto, fique atento ao fato de que o console ficará defasado em apenas um ano.

O joystick é um dos maiores problemas da plataforma. O tempo de resposta realmente atrapalha na hora de jogar, principalmente em momentos de ação em que os comandos precisam ser executados rapidamente.

O aparelho ainda parece sofrer com uma crise de identidade, ficando entre um console de mesa tradicional e um smartphone, mas não realizando tão bem nenhuma das tarefas a que se propõe quanto esses dispositivos.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Apesar dos problemas, é importante notar que a plataforma ainda é muito recente no mercado e, como todo novo produto, o começo pode ser uma fase difícil. Os desenvolvedores estão descobrindo o sistema aos poucos e, em breve, deveremos ter títulos mais interessantes, além de novos recursos para a reprodução de vídeo e outras tarefas.

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