Especial: na mente de um pro gamer de Cross Fire, com Keyd Stars

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Video games são video games desde que nos conhecemos por gente. No entanto, quando falamos de cheques ambiciosos e troféus platinados, a situação é muito diferente: até mesmo os mais simples jogos são territórios de mineração profunda de estratégias e detalhes que definem o campeão mundial.

Uma tática vencedora ou um tiro final não surgem por acaso — eles são fruto de uma intensa análise e de treinamento árduo sobre as dinâmicas de qualquer jogo.

Com anos acompanhando e competindo em esportes e eSports, é fácil notar o quão complexo um cenário competitivo pode se tornar. Sejam as decisões rápidas de uma partida de Street Fighter ou as lentas e calculadas rotações em equipe de League of Legends, os games demonstram um potencial incrível para surpreender o atleta e a plateia das mais diversas formas.

Surpresas, decepções, raiva, alívio — você já sentiu isso vendo uma partida de futebol.

Aquele jogador não está simplesmente jogando, ele está avançando em níveis cada vez mais profundos de uma batalha mental dentro de um espaço virtual que se expande quase infinitamente. Eles buscam realizar a parte mais desafiadora de qualquer jogador de video game: vencer o oponente, mas no seu caso ele também é um dos melhores do mundo.

No entanto, avançar pela mente de um jogador profissional é algo muito ambicioso. Milhões de decisões são tomadas em questões de segundos naqueles quadriláteros espelhados e vigiados pela multidão de fãs, e não temos como traçar fórmulas precisas sobre o comportamento de uma equipe ou de um atleta sobre um determinado momento.

Tentar explicar esse mundo complexo é a maneira mais correta de um simples redator querer mostrar o lado fantástico dos eSports. Como funcionam as mecânicas do jogo e como os profissionais usam elas em sua vantagem? Porque ele fez aquilo e não aquela outra coisa?

Responder com exatidão todas as perguntas seria massacrar o seu foco em paredes imensas de caracteres, mas guiá-los pelos aspectos mais simples é uma forma de mostrar o quão profundo um determinado jogo pode se tornar.

Apesar disso, a parte mais saborosa desse bolo — aquela em que você só saboreia mergulhando fundo no recheio — nós vamos deixar na vitrine após a matéria. Ela estará lá, pronta para que você levante seu garfo para experimentar. Mas seja alertado do seguinte: nem mesmo os melhores do mundo conseguem comer este doce de uma vez só. É uma degustação lenta e precisa ser aproveitada ao máximo até que você se torne o campeão.

E por onde vamos começar essa jornada? Vamos para Seul, na Coréia do Sul, diretamente para as grandes finais da CF Stars 2014, o campeonato mundial de Cross Fire que o BJ teve a oportunidade de acompanhar diretamente do templo dos eSport.

O início: Cross Fire e a competição

Ao olho casual, uma partida de Cross Fire não parece muito diferente de uma de Counter-Strike. Vemos gráficos tão simples como aqueles que estiverem presentes nas suas inúmeras jogatinas na lan house —aquelas madrugadas recheadas por tiros e granadas voando por mapas pixelados.

Embora essa casca superficial possa ser alvo de preconceitos de inúmeros jogadores, ela esconde um cenário competitivo muito rico. Eu poderia compará-lo com qualquer jogo de tabuleiro, e acho que o de trilhas seria o mais adequado, mas aqui as peças dão tiros na cabeça uma das outras e querem explodir com todo o tabuleiro.

Isso mesmo, explodir: este é o objetivo principal. Uma equipe de cinco jogadores precisa plantar a C4 em um dos dois pontos específicos do mapa e outra precisa defender, e os times trocam de lado depois de um número de rodadas. Você não viu muitas diferenças até aqui, mas calma, vamos em frente.

Um tiro, uma morte

No início de cada rodada, os jogadores podem escolher seus kits de armas, podendo levar consigo um armamento de assalto ou de tiro a distância. Aqui as opções começam a se estender: as equipes precisam coordenar suas escolhas para a tática que vão usar.

Se uma equipe quiser focar em um local, será uma escolha interessante ter mais de um “sniper” para cuidar dos pontos importantes e de maior risco. No entanto, o tiro único e lento dessa arma diminui o potencial de batalhas à curta distância.

“Nós percebemos que o sniper é uma função cada vez mais importante nos torneios, e é por isso que os times asiáticos gostam tanto dela pela habilidade que precisa ter pra jogar”, explicou o jogador da Keyd Stars, Carlos “castiel” Henrique.

Em alguns momentos, é possível observar alguns times da China colocando até três jogadores nessa função em uma rodada, enquanto outras equipes não são tão maleáveis assim. “Nós chegamos a treinar com mais de um sniper”, nos contou castiel, reforçando que tudo vai depender da adaptação contra a equipe que você está enfrentando.

Adaptação: este é um dos principais pontos que cerca o mundo de Cross Fire. Saber onde o inimigo está é fundamental para garantir uma rodada importante em favor a sua equipe. O representante da Keyd Stars lembrou que, quando enfrentava a equipe do Vietnã, eles perceberam que os adversários passavam muito por um determinado ponto do mapa.

“A gente viu isso e conseguiu surpreender eles por causa dessa observação da nossa equipe”, explicou. Em outro momento, todos eles seguiram para um dos pontos em que nenhum vietnamita estava defendendo, surpreendo o outro time que achou que eles iam invadir pelo outro lado do mapa.

No entanto, identificar esses padrões é difícil, pois qualquer equipe profissional irá mudar constantemente a sua estratégia, bem como as funções e o local onde irão invadir.

Mas a habilidade faz a diferença também. Em um dos momentos, os jogadores da Keyd resolveram avançar pelo meio do mapa com a cobertura de uma smoke, mas apenas um dos jogadores da BEGIN conseguiu massacrar o avanço de três brasileiros.

“Nesse caso, não foi a tática que não deu certo”, relatou castiel. Foi uma mira mais precisa do adversário que sufocou a tática — afinal, as peças desse tabuleiro podem ganhar a força de quatro quando ela desperta o talento.

A hora do assalto

São dois minutos e trinta segundos que você precisa trabalhar seu tempo e explodir o tabuleiro. Você pode levar uma rodada com calma, matar alguém, recuar, ficar de olho nos pontos de avanço e pressionar o nervo dos seus oponentes; ou também pode sair com sua equipe correndo em direção ao local de explosão.

Quando a tática já fez seu trabalho, é hora dos jogadores concluírem seu objetivo. Jogar as granadas e limitar o campo de visão do adversário é algo fundamental para garantir vantagem. “Usar uma flashbang pra entrada do bombsite é algo importante”, lembrou o jogador da Keyd. Acertar os pontos certos onde o oponente estiver olhando é algo que precisa de prática... E previsão.

Até mesmo os segundos antes da partida mudam a estratégia. Em Cross Fire, uma equipe sempre vai nascer exatamente no mesmo lugar, mas, ao contrário dos servidores brasileiros, na Ásia e a formação de "respawn" será sempre a mesma durante a partida.

Detalhes mínimos como esses fazem diferença? “Isso permite que eles sempre saibam pra onde podem ir e quanto tempo vão demorar para chegar até lá”, explicou castiel. Milissegundos que podem definir quem estará mirando e quem estará na mira: algo fundamental para um jogo de tiro.

Profundidade na simplicidade

Cross Fire é simples graficamente, mas, como qualquer jogo, ele desenvolve suas próprias ambições competitivas. “A parte mais difícil é a evolução do time em si, fazer que os cinco joguem como um só”, nos relatou o representante da Keyd. Mas este game também esconde muitos outros desafios.

Tiros, previsões, coordenação de equipe, detalhes do cenário e da jogabilidade vão se fundindo em uma massa heterogênea de conhecimentos que um jogador profissional precisa dominar para se destacar entre os melhores do mundo. Para muitos, o prazer está além do simples jogo, se escondendo em pequenas superações e vitórias que vão te tornando melhor.

A perda dos brasileiros no campeonato não desmotivou a equipe em continuar competindo, afinal 2015 reserva muitas outras competições no Brasil e no mundo. Todos mostraram muito entusiasmo pela nova temporada oficial da Smilegate e do vindouro Cross Fire 2.

Isso significa que muitas outras previsões certeiras, tiros decisivos e táticas erradas podem vir pela frente, mas toda aquela cobertura do bolo continua a ser apreciada aos poucos pelos jogadores profissionais. E esperamos que pela plateia também, afinal os gritos de emoção ecoam muito mais do nosso lado.

Esta foi nossa rápida análise sobre o cenário competitivo de Cross Fire, e esperamos que tenha gostado. Se você tem interesse que exploremos o cenário competitivo de algum jogo, deixe seu comentário. Competições e oportunidades podem chegar, ainda mais em um universo que vai movimentando cada vez mais dinheiro pelo mundo.

O BJ viajou até Seul a convite da Smilegate.

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