Transportes

Filmar o sensor LiDAR de um carro pode estragar a câmera do meu celular?

Experimentos nas redes sociais mostram os riscos de gravar o componente de um veículo responsável pelo mapeamento de um ambiente usando série de lasers

Avatar do(a) autor(a): Nilton Cesar Monastier Kleina

03/06/2025, às 14:00

Carros com algum nível de autonomia estão se tornando cada vez mais difundidos, embora ainda longe de se tornarem populares. E o LiDAR é um dos formatos de sensor de mapeamento mais utilizados nessa tecnologia, seja para condução autônoma ou assistentes de direção e estacionamento.

Porém, nos últimos meses um problema em potencial começou a ser relatado com alguma frequência por donos desses veículos ou criadores de conteúdo sobre tecnologia e automóveis. A gravação desse componente chave do carro a partir do celular, aparentemente, pode danificar parcialmente ou até inutilizar por completo a câmera do aparelho.

A explicação por trás desse fenômeno é bastante simples e envolve o encontro entre duas tecnologias que, teoricamente, não deveriam mesmo se cruzar diretamente.

O que é e como funciona o LiDAR

  • Sigla para Light Detection and Ranging (ou Detector de Luz e Distância, em tradução livre para o português) é um sensor de mapeamento dos arredores que é utilizado em aparelhos que precisam saber a composição de um ambiente para funcionar;
  • Na prática, o LiDAR emite uma série de feixes infravermelho, ou lasers, que são direcionadas para todas as direções possíveis. Parte deles "bate" em obstáculos e é recapturado pelo sensor, indicando que há algo ou não no caminho e qual é a distância do objeto para o emissor dessas luzes;
  • Essas informações são usadas pelo sistema para formar uma imagem tridimensional do ambiente na frente do sensor, constantemente atualizando esses dados na medida em que um carro se move, por exemplo. Dessa forma, o veículo detecta pessoas, placas, muros e outros automóveis;
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O mapeamento por arredores do LiDAR detecta objetos e a distância para eles. (Imagem: Reprodução/NVIDIA)
  • Para além de ajudar carros autônomos, o LiDAR pode ser usado em setores como agricultura, exploração espacial, construção civil, mineração e até entretenimento, como em controles por movimento e realidade aumentada (AR);
  • Por envolver feixes de laser, o sensor não é afetado por condições de iluminação, operando normalmente durante a noite. Certos fenômenos climáticos como neblina, neve e chuva forte, porém, podem dificultar a leitura dos dados;
  • Cada modelo de LiDAR tem suas características próprias, incluindo o alcance dos feixes e a intensidade deles. Além disso, o posicionamento também pode variar: originalmente, o módulo era grande e pesado, posicionado no topo do veículo. Em versões mais atuais, ele é bastante discreto, posicionado na dianteira e acima do vidro frontal;
  • Nem todos os veículos ou sistemas autônomos dependem dessa tecnologia. A Tesla, por exemplo, utiliza uma combinação de câmeras e outros sensores para realizar o mapeamento de proximidades — o empresário Elon Musk é um crítico de longa data do LiDAR;

O que acontece quando você filma o LiDAR?

Ao filmar um sensor LiDAR, você corre mesmo o risco de perder a câmera do seu aparelho, em especial se ele for um smartphone ou uma câmera de pequeno porte.

Isso acontece porque o sensor eletrônico da câmera (CMOS) — que é responsável por capturar a luz do ambiente, amplifica esse "sinal" e converte tudo isso em dados — pode ser danificado ao entrar em contato direto e contínuo com os feixes de luz infravermelha.

O pulso do LiDAR pode causar danos variados, incluindo o surgimento de pixels mortos em pontos da tela, linhas horizontais ou verticais permanentes na câmera e até o surgimento de uma coloração diferente, como deixar a tela (e o resultado de fotos e vídeos) com aspecto em verde ou roxo. O youtuber Out of Spec BITS fez esse teste com um iPhone moderno — veja aos 15 minutos do vídeo abaixo o sensor sendo danificado em tempo real. 

Isso é especialmente possível em sensores LiDAR de alta intensidade, como em carros premium e modernos, e se você filmar com uma lente teleobjetiva ou com o zoom ligado. Se o veículo estiver desligado ou sem o sensor operante, não há problemas em apontar a câmera para ele.

O resultado não é uma fórmula exata e nem todos os casos de filmagem direta do LiDAR resultam em uma câmera estragada — filmadoras ou câmeras profissionais podem durar mais tempo filmando o sensor, por terem componentes maiores e mais potentes. O ideal, porém, é não arriscar e evitar qualquer gravação dessa tecnologia em funcionamento. No caso do olho humano, o contato casual com esse tipo de laser é inofensivo e os feixes são invisíveis a olho nu.

O que dizem as montadoras?

A Volvo é uma das poucas montadoras que já se manifestou oficialmente sobre esse risco. No site oficial, a marca lista o dano em câmeras como um risco em potencial caso o sensor do modelo EX90 seja filmado de perto.

"Não aponte uma câmera diretamente para o LiDAR. O LiDAR, sendo um sistema baseado em laser, usa luzes de ondas infravermelhas que podem causar danos para certos dispositivos com câmeras. Isso pode incluir smartphones ou telefones em geral equipados com uma câmera", diz a página de suporte da montadora.

o lidar em um carro da volvo

Caso você não possa evitar ou precise filmar um equipamento com LiDAR usando uma câmera de qualquer tipo, a recomendação é utilizar filtros na lente que protejam o sensor do aparelho

Você conhece a história dos carros autônomos, da origem até a evolução dessa tecnologia? Saiba tudo sobre o tema nesse vídeo especial do TecMundo!


Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.