Mãe, o computador está me deixando burro!

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Google, você pode me ajudar?

Quantas vezes nos últimos dias, ao ser questionado por alguém ou ficar em dúvida sobre um determinado assunto, você abriu o navegador e pesquisou a resposta no Google? Se você se reconheceu na situação anterior, saiba que faz parte de um grupo predominante de usuários que se acostumaram a procurar todo e qualquer tipo de informação na web, antes mesmo de pensar ou refletir sobre o assunto em questão.

Mas quais as razões que levam os usuários a abrirem mão de pensarem por si próprios para confiar nas respostas prontas e nem sempre precisas disponíveis na web? Será que em tempos de multitarefa não estamos nos tornando mais generalistas e menos eficientes nos trabalhos que fazemos? Afinal, com mais informação estamos evoluindo ou regredindo?

Google: o oráculo

O que eu faço agora?

Para acessar uma determinada página na web você deve digitar a URL do endereço no navegador, certo? No entanto, para muitos usuários, parece mais fácil manter o Google como página inicial e digitar no campo de busca o nome do site desejado e, a partir dos resultados, acessá-lo.

Poupar o trabalho de digitar alguns caracteres, em tese, pode significar a economia de alguns segundos. Mas apenas em tese, já que no final das contas, ao criar um intermediário no processo, o tempo de busca e carregamento da página acabará sendo o mesmo, se não for maior.

O mesmo acontece com o nosso cérebro ao nos condicionarmos a depender de um determinado serviço para buscar por informações. Segundo estudos realizados em universidades norte-americanas, o ser humano busca sempre a adaptação à situação mais comum ou que lhe parece mais agradável.

Lembra-se daquelas pessoas com conhecimento enciclopédico, que sabiam de memória as capitais de todos os países? Elas são cada vez mais raras e hoje, na prática, qualquer um pode saber em questão de segundos essa informação, bastando para isso abrir uma página do navegador.

Mais informação significa mais conhecimento. Será mesmo?

Cérebro humano não consegue ser um eficiente multitarefa

Partindo desse princípio poderíamos chegar à conclusão de que quem tem acesso a mais informação também carrega mais conhecimento, certo? No entanto, nos esquecemos de que apenas ter acesso a um volume incontrolável de informações não quer dizer, necessariamente, ter maior capacidade de raciocínio ou de tomar decisões.

Vamos tomar como exemplo um executivo que trabalhe o dia todo diante de um computador. Além de um PC em sua sala, que pode ter uma ou duas telas, ele provavelmente também tem um notebook. Além disso, carrega consigo um smartphone. Tudo integrado e sincronizado, permitindo que ele acesse informações a partir de qualquer lugar.

Será mesmo que o fato de esse executivo ser multitarefa, respondendo emails, checando as cotações do dólar e ainda falando com sua esposa ao telefone ao mesmo tempo faz dele um profissional mais competente do que aquele que faz uma tarefa por vez, mas com mais foco e concentração? Provavelmente não.

Pesquisadores já comprovaram que, diferente dos sistemas operacionais, os seres humanos não são multitarefa. Mesmo quando você está fazendo duas atividades ao mesmo tempo, seu cérebro está focado predominantemente em uma delas, reduzindo a atenção daquela que julgar menos importante.

É como dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo. Enquanto faz isso você pode até ter a sensação de estar ganhando tempo. No entanto, no final das contas, você dispenderá o mesmo tempo ou até mais em função de possíveis correções ou mesmo compensações pelos momentos em que você prestou menos atenção em algo do que deveria.

140 caracteres de paciência. Está bom para você?

Usuários estão se afogando em meio a tanta informação

Como você fez a leitura deste texto até aqui? Se você chegou neste parágrafo lendo todos os outros 11 anteriores, você faz parte de uma minoria que se concentra em um texto que julga interessante e o lê do começo ao fim. Grande parte dos usuários da web analisa apenas o título e os subtítulos, se aprofundando na leitura apenas quando julgam a informação muito relevante.

O fenômeno de “menos leitura e mais informação” pode ser explicado, em parte, pela grande quantidade de informação que chega até nós todos os dias. Se você é usuário do Twitter, por exemplo, e segue pelo menos uma centena de amigos, recebe em média de 80 a 100 links por hora, excetuando-se os posts que são apenas comentários.

É natural que, em meio a tantas opções, pelo menos um deles chame mais a sua atenção e você clique nele e se distraia do trabalho. Some ao Twitter seus emails, mensagens em redes sociais, SMS e chamadas pelo celular e o resultado é um verdadeiro maremoto de informações diante dos seus olhos, tudo isso enquanto você deveria apenas estar lendo um texto ou redigindo um email.

Na década de 60, quando a televisão começava a se popularizar nos Estados Unidos, os usuários mais “viciados” chegavam a passar em média 5 horas por dia diante da tela. Hoje, segundo pesquisas realizadas por lá, é comum encontrar usuários que passam em média 12 horas diante da TV ou do computador.

O pecado capital: preguiça

Você espera que o computador faça tudo por você?

A grande quantidade de informações disponíveis e a certeza de que elas estarão ali sempre que você precisar faz também com que muita gente tenha preguiça até mesmo de procurar por uma resposta. Experimente entrar em uma comunidade qualquer do Orkut ou mesmo dar uma rápida olhada em sua timeline do Twitter.

Certamente lá você vai encontrar alguém fazendo alguma pergunta simples do tipo “onde é que eu encontro isso?” ou “como se escreve uma determinada palavra?". A resposta para essa pergunta, muitas vezes, pode ser facilmente encontrada com uma simples pesquisa na internet - ou com um pouquinho de reflexão para deduzir do que se trata -, mas ainda assim muitos acham mais cômodo perguntar antes mesmo de tentar encontrar a solução.

Fatos como esse são tão frequentes que até um serviço curioso foi criado em função disso. Trata-se do Let me Google that for you – ou, numa tradução direta, “Deixe-me buscar no Google por você”. Basta digitar um termo de busca para que o serviço retorne um link. Ao receber o link o usuário verá uma tela que simula o que ele poderia ter feito – digitado o termo no Google e aguardado pela resposta.

Afinal, a tecnologia está nos deixando menos inteligentes e mais preguiçosos?

Não se pode apontar a tecnologia como a única culpada nessa história. Se não fosse por ela, muito do que existe nos dias de hoje ainda seria impossível e provavelmente o seu trabalho demoraria o dobro do tempo. A questão que deve ser analisada é a maneira como nos relacionamos com ela.

De que adianta ter cinco ou seis gadgets conectados em tempo integral à internet se a sua capacidade de concentração permite que você apenas se dedique, satisfatoriamente, a uma tarefa de cada vez? Talvez o seu maior desafio seja lutar contra o comodismo e às facilidades que a internet proporciona, em prol do seu desenvolvimento intelectual.

Que tal da próxima vez que você tiver uma dúvida simples, de como se escreve uma determinada palavra ou como passar de uma determinada fase em jogo você pensar um pouco mais sobre o assunto antes de digitar o termo na caixa de pesquisa de um site de buscas?

Tentativa e erro são características importantes para o aprendizado de qualquer pessoa, mas com a agilidade proporcionada pela web, muitos usuários sequer tem a consciência de que são capazes, por si próprios, de encontrar respostas para muitas dúvidas cotidianas. Será que da próxima vez você vai conseguir resistir à tentação?

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Você se identificou com as situações apresentadas acima? Quais são os principais pontos que determinam que os usuários se tornem mais acomodados e consumam mais informação sem que isso signifique de fato um acréscimo de conhecimento? Participe deixando a sua opinião nos comentários.

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