Duas guerras mundiais ocorreram; a indústria de cinema hollywoodiano floresceu e se modificou dezenas de vezes; a Semana de Arte Moderna apresentou novos horizontes artísticos ao território tupiniquim. O mundo mudou drasticamente em 110 anos... E determinada lâmpada incandescente continua iluminando um canto da central do Corpo de Bombeiros de Livermore, na California.
E o desgaste do tempo não poderia ser mais compreensível. Aceso em 1901, o bulbo permaneceu ligado desde então, praticamente sem interrupções — à exceção de um período de 7 dias de reforma e de eventuais quedas de luz. A pequena lâmpada é também o aparelho elétrico mais velho em uso contínuo, conforme lembrou o site Quora. Não por acaso, foi apresentada como uma maravilha tecnológica à época.
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O suprassumo das lâmpadas incandescentes
Conta-se que o capitão dos bombeiros de Livermore reuniu seus homens em algum momento de 1901 para mostrar o novo epítome tecnológico adquirido pela corporação. Em vez do tradicional filamento em tungstênio, a nova lâmpada — adquirida por questões de segurança — garantia sua luminescência a partir de um fio muito mais parrudo de material baseado em carbono.
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Tratava-se, como era apresentada à época, de uma “Lâmpada Incandescente Melhorada”. A criação levava o nome do inventor Adolphe A. Chaillet e era fabricada pela Shelby Electric Company. A propaganda, à época, se baseava sobretudo na durabilidade do bulbo — atualmente, caso ainda existisse, a companhia certamente teria um belo slogan para comprovar essa proposta. De fato, isso fez com que o Corpo de Bombeiros recomendasse a compra da nova lâmpada para diversas de suas filiais nos EUA.
Genialidade perdida na História
A invenção de Chaillet acrescentava diversas melhorias ao projeto original de Thomas Edison. Naturalmente, o grande segredo do funcionamento — que, como se vê, pode chegar a impressionantes 40.150 dias — encontra-se no filamento do bulbo.
Além de sua espessura, o material baseado em carbono não esquenta tanto quanto o tungstênio para produzir níveis semelhantes de luminosidade. Além disso, o design da estrutura de vidro era tal que favorecia o melhor direcionamento dos raios luminosos no ambiente.
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Qual foi o processo exato para a composição do filamento? Eis algo que até hoje permanece um mistério. Embora Chaillet tenha legado à posteridade várias de suas patentes, em nenhuma delas o processo de confecção de sua lâmpada “miraculosa” é devidamente explicado.
As lâmpadas Shelby saem do mercado
A despeito da originalidade do projeto, as lâmpadas Shelby acabaram desaparecendo das prateleiras pouco tempo após o seu lançamento. Há quem diga que os bulbos possuíam limitações de luminosidade e potência.
Essa especulação, entretanto, foi desmentida, diante do fato de que havia, à época, lâmpadas Shelby de até 60 Watts — incluindo variações de tom que iam do mais amarelado até o francamente brilhante. E, é claro, a lâmpada residente no Corpo de Bombeiros de Livermore era muito mais brilhante quando foi ligada pela primeira vez.
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Mas há também quem afirme que as questões de “obsolescência programada” que entravam em vigor na indústria não podiam admitir uma lâmpada com tamanha durabilidade — afinal, você provavelmente legaria aos seus filhos as Shelby compradas para a casa. Só que mesmo essa teoria, um tanto mais respeitosa, acabou perdendo credibilidade ao longo dos anos.
Seja como for, fato é que a Shelby acabou vendida para a National Electric Lamp Association, uma divisão da General Electric Company — a qual, após um ano, retirou de circulação o bulbo de Chaillet. A velha lâmpada do Corpo de Bombeiros, entretanto, permanece como um atestado da capacidade individual de uma única mente iluminada (com o perdão do trocadilho)... Ou de que nem sempre as leis de mercado se guiam pelo que realmente é melhor.
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