Testamos o Steam OS, o novo sistema operacional da Valve [vídeo]

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Baseado na distribuição Debian do Linux, o Steam OS é um sistema operacional com uma proposta ambiciosa. O novo produto da Valve não somente pretende acabar com o domínio do Windows no universo dos jogos para PC, como também quer se mostrar uma alternativa viável aos consoles de nova geração como o PlayStation 4 e o Xbox One.

Para isso, a companhia investe em uma versão aprimorada do sistema Big Picture (interface que serve como base para a plataforma) e em um novo controle misterioso, que aposta no fim dos direcionais analógicos como forma de unir as experiências de uso encontradas em computadores e video games tradicionais.

Além de priorizar hardwares próprios (as já famosas Steam Machines, desenvolvidas junto a diversos parceiros), a Valve também pretende permitir que os consumidores montem suas próprias máquinas. Para isso, foi disponibilizado gratuitamente o download do Steam OS — produto atualmente em fase Beta cuja análise você confere neste artigo.

Teste que não é para qualquer um

Conforme a desenvolvedora deixou claro ao anunciar o lançamento da versão Beta do Steam, a instalação do sistema operacional nesse momento não é para qualquer pessoa. Isso porque, além de estar restrita a hardwares equipados com placas de vídeo da NVIDIA (deixando de fora a AMD), a instalação se mostra um processo ligeiramente complicado e que exige a formatação completa do disco rígido (embora seja possível utilizar máquinas virtuais para escapar dessa exigência).

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Um requisito do qual não é possível fugir é a necessidade de possuir uma placa-mãe capaz de fazer boot através do sistema UEFI. Para completar, é necessário possuir certo conhecimento dos comandos de terminal do Linux, especialmente caso você decida seguir o segundo processo de instalação listado no site oficial da Valve (o único que conseguimos fazer funcionar).

Cumpridas esses requisitos mínimos e seguidas as etapas listadas pela empresa, foram necessários aproximadamente 30 minutos para realizar a instalação, que resultou em uma tela de login na qual era possível registrar um perfil ou fazer o login em uma conta pré-existente. Para a realização dos testes, utilizamos uma máquina com o seguinte hardware:

  • Processador Intel Core i5-2310 de 2,9 GHz;
  • 8 GB de memória RAM DDR3;
  • Placa de vídeo NVIDIA GeForce GTX 660 com 2 GB de RAM;
  • HD de 1 TB.

Bem-vindo ao Big Picture

Ao entrar no sistema operacional em si, não é preciso utilizá-lo durante muito tempo para perceber que ele se trata simplesmente do modo Big Picture, já disponível na versão Windows da plataforma de distribuição digital. A principal diferença, no caso, é que não é preciso passar por outro ambiente para acessá-lo, já que o boot do sistema leva você diretamente à interface aprimorada para o uso de gamepads tradicionais (embora seja possível navegar por ela usando o mouse e o teclado).

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No entanto, mesmo que conserve as opções de navegação básicas já vistas anteriormente, essa versão específica do sistema deixa a desejar em alguns sentidos. Exemplo disso é o fato de que não é possível acessar a configuração dos monitores utilizados, o que faz com que muitas vezes você fique preso em uma resolução com a qual não quer trabalhar (aspecto definido automaticamente pelo sistema operacional).

Além disso, não é uma boa ideia trabalhar com o sistema operacional utilizando múltiplos monitores, já que a plataforma define arbitrariamente qual deles será o principal. Além disso, também é preciso ficar atento ao fato de que, caso você não possua uma placa de vídeo com conexão HDMI, simplesmente não será possível escutar o som de seus jogos — por padrão, a saída sonora está definida para depender de um cabo do tipo.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Apesar dessas restrições, a experiência em geral se mostra satisfatória, mesmo que um pouco reduzida. Acessar a biblioteca de games disponível é um processo fácil, tal qual abrir a lista de downloads ativos ou conferir e comprar as novidades que a empresa oferece em sua loja online.

Outro aspecto positivo é a transição entre a interface e os jogos, que acontece de maneira quase imediata na maioria dos casos. Também chama a atenção a integração que a maioria dos games disponíveis possui com a nuvem, algo que permite inclusive baixar saves das versões para outras plataformas que, na maioria dos casos, funcionam perfeitamente no sistema baseado em Linux.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No entanto, a Valve ainda precisa ajustar alguns pontos para a experiência se mostrar realmente competente. Além de ser impossível navegar por todas as áreas do sistema enquanto um jogo está em segundo plano (somente a lista de amigos está disponível), algumas áreas como o gerenciamento de inventário não estão adaptadas ao Big Picture, o que faz com que uma versão web da interface convencional seja acionada na hora de realizar determinadas tarefas — algo que quebra a ideia de oferecer ao consumidor uma experiência de uso coerente em todos os pontos.

Seleção de games para os amantes do mundo indie

Dispondo atualmente de pouco mais de 300 títulos, o Steam OS possui uma oferta de títulos invejável frente ao que está disponível nas plataformas da nova geração. No entanto, o sistema operacional da Valve sofre em uma questão que, caso não seja resolvida, pode acabar determinando seu fracasso: a falta dos títulos denominados como “Triplo A”.

Embora empresas como a Double Fine e a própria Valve disponibilizem a maior parte de seu catálogo no sistema (com a sentida ausência de Portal 2, no caso da última empresa), a maioria dos títulos disponíveis no momento tem origem no mercado independente. Algo que não é exatamente ruim, vista a qualidade apresentada por games como Super Meat Boy, Starbound, Mark of the Ninja e Rogue Legacy.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No entanto, quem procura experimentar títulos de grande orçamento como Assassin’s Creed, Tomb Raider e BioShock Infinite vai ficar decepcionado. A maioria dos games feitos por grandes produtoras simplesmente não possuem versões para Linux, o que serve como desestímulo para muitos jogadores, especialmente aqueles que gostam de acompanhar séries consagradas.

Uma das exceções fica por conta de Metro: Last Light, game lançado em 4A Games em maio de 2013, que fez uma transição competente — embora imperfeita — para o Linux. A aventura completa foi transposta do DirectX para o OpenGL, processo que garantiu um melhor desempenho em relação à versão Windows.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No entanto, decepciona o fato de essa transformação ter deixado de lado muitos os efeitos visuais que tornavam a versão PC do jogo especialmente atrativa. Mesmo configurada para exibir o máximo de detalhes possível, a adaptação do FPS para o Steam OS possui texturas, efeitos de iluminação e efeitos de antialiasing visivelmente inferiores à sua encarnação no sistema operacional da Microsoft — algo que não pode ser explicado pelo uso do OpenGL que, em sua encarnação mais recente, está no mesmo nível do DirectX 11 em matéria de ferramentas de desenvolvimento.

Debian limitado

Caso você decida dar uma folga na jogatina e usar o computador para realizar outras tarefas, provavelmente se sentirá decepcionado com o que o Steam OS oferece. O modo desktop do sistema lembra muito uma versão simples do Linux que conta com alguns aplicativos pré-instalados e outros cujo processo de configuração deve ser feito de forma manual.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Entre as restrições impostas atualmente pela Valve, está o fato de que não é possível adicionar quase nenhum software extra ao computador, mesmo que ele seja compatível com a distribuição Debian. Em geral, o que temos em mão é uma plataforma bastante fechada e restrita, focada basicamente em oferecer as ferramentas do Steam — nem sequer é possível mudar o navegador-padrão disponível: o IceWeasel, versão simplificada do Mozilla Firefox.

Em geral, o acesso ao modo desktop só deve ser feito caso você precise entrar no terminal do Steam OS ou deseje realizar alguma configuração não disponibilizada através do próprio modo Big Picture. Dessa forma, recomendamos acessar essa área específica do sistema somente em caso de curiosidade ou em situações pontuais, visto as limitações apresentadas por ela atualmente (que provavelmente devem se manter na versão final do SteamOS).

Somente uma parte das Steam Machines

Infelizmente, no momento não é possível ter acesso ao componente responsável por complementar o que é oferecido pelo SteamOS e que deve se tornar o maior diferencial das Steam Machines: o novo controle da Valve. No entanto, mesmo sem essa peça-chave essencial, é possível dizer que, ao menos nesse momento inicial, a companhia parece estar seguindo um caminho promissor.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Apesar de o sistema operacional ainda ter diversas arestas que precisam ser ajustadas, a experiência de uso se mostra incrivelmente estável para um produto em fase Beta. Durante os testes realizados, nos deparamos com um único travamento do sistema (durante o gerenciamento de capturas de tela), e o desempenho geral dos games se provou bastante competente — mesmo que não tenha sido possível observar um aumento substancial de desempenho em relação ao que é oferecido no Windows.

O fato de o sistema se basear basicamente no que é oferecido pelo modo Big Picture deve ser tratado como algo positivo, visto que essa interface oferece acesso rápido e intuitivo às principais funções da plataforma: comprar e jogar games. O único aspecto que nos deixa preocupados é a falta de suporte a grandes títulos, algo com que a Valve terá que lidar rapidamente caso queira acabar com o domínio da Microsoft e estabelecer os PCs como uma alternativa viável para a sala de estar.

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