Recurse: conheça a primeira música feita com IA generativa e computação quântica
Projeto envolveu composição de trechos originais e criação de faixa com reprodução "infinita"

09/05/2025, às 15:00

Uma mistura de trabalho humano e tecnológico gerou o que é provavelmente a primeira música com fins comerciais criada com ajuda da inteligência artificial (IA) generativa e da computação quântica ao mesmo tempo. O trabalho se chama “Recurse” e foi lançado no início deste mês.
A produção é uma parceria entre ILĀ, artista transgênero com vários trabalhos em produção musical e direção criativa, e a startup britânica MOTH. O resultado pode ser conferido de duas maneiras, sendo uma delas mais convencional. A faixa "Recurse" está disponível no perfil de ILĀ nas principais plataformas de streaming do mercado, inclusive via YouTube.
Porém, o projeto também envolveu um "mix infinito", uma canção que está em constante processo de criação e reprodução pela IA generativa quântica e não tem um fim previsto. Essa versão pode ser ouvida no site da companhia.
Como a música com IA generativa quântica foi criada
Apesar do marketing citar a importância da IA generativa e da computação quântica em todo o processo, a canção tem autoria, composição, produção e mixagem de ILĀ com esses títulos inclusive nos créditos, com a tecnologia citada como "colaboração" na criação.
Os processos que resultaram na criação de "Recurse" envolveram várias etapas entre artista e sistemas digitais:
- Em um estúdio, ILĀ gravou sequências musicais de composição própria;
- Esses trechos foram enviados para a MOTH, que gerou uma série de modelos computação quântica especializados nesse conteúdo;
- Ao contrário de outros serviços musicais de IA, aqui não há o treinamento com outras bases de dados ou a alimentação do algoritmo com materiais protegidos por direitos autorais;
- Rodando os padrões em um IQM Quantum Computer, a startup gerou novos segmentos de áudio com sugestões de baixo, sintetizadores e bateria que foram devolvidos para ILĀ;
- ILĀ editou e finalizou a canção final, além de aprovar a faixa infinita.
O resultado é uma música que parece desconexa e composta por vários segmentos independentes, mas que mantém o estilo musical de ILĀ. Nos materiais de divulgação e no making-of do projeto, a companhia cita esse como um "momento definitivo" para "o futuro da criatividade como um todo".
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Para além do trabalho de ILĀ, a plataforma quântica de software Archaeo, que é uma propriedade da MOTH, foi utilizada no processo para aprimorar o desempenho do algoritmo generativo e acelerar processos como identificação de padrões e geração de conteúdo.
O que é computação quântica?
A computação quântica é um segmento tecnológico que permite a construção de computadores de altíssima performance com a capacidade, por exemplo, de realizar cálculos instantâneos em uma quantidade maior até mesmo que de supercomputadores atuais.
Isso é possível graças ao uso de princípios da Física quântica, mais especificamente o estado de superposição dos Bits quânticos, ou qubits. Esse e outros princípios permitem o processamento de operações a um nível muito superior ao da computação convencional. Ações como aprendizagem de máquina, otimização de sistemas e geração de simulações são apenas algumas das aplicações práticas desses sistemas.
No caso da Google, que é uma das empresas mais envolvidas no tema, a previsão é pelo uso comercial dessa tecnologia em até 2030. Além disso, companhias como a Amazon já apresentaram chips próprios para servirem de núcleo desse tipo de equipamentos nos próximos anos.
Além disso, essas possibilidades quânticas são especialmente interessantes para melhorar o desempenho de IAs generativas, que podem aproveitar esse processamento em etapas como treinamento e compreensão de bases de dados.
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Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.