Demolidor: 5 destaques (bons e ruins) da 2ª temporada da série

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Atenção! A matéria a seguir discute a segunda temporada de Demolidor e contém detalhes sobre a narrativa, sendo aconselhada a leitura do texto apenas por espectadores que já terminaram de assistir aos novos episódios do programa.

A estreia da primeira temporada de Demolidor, no ano passado, redefiniu o conceito de adaptação dos quadrinhos e rapidamente se tornou um padrão que deveria ser seguido por outras séries e programas baseados em HQs.

Com grande liberdade de criação e sem as amarras do formato televisivo, Demolidor encontrou na Netflix o seu espaço ideal. O personagem pôde ser apresentado sem pressa ao longo dos episódios, explorando temas e conflitos morais do herói, ao mesmo tempo que ganhava cenas caprichadas de lutas e de violência – algo impensável na TV aberta.

Com o modelo de distribuição da Netflix, no qual todos os episódios são disponibilizados de uma só vez, Demolidor também se livrou da fórmula episódica à qual todos os programas estão sujeitos – e o resultado parece, na verdade, um grande filme dividido em 13 partes.

O sucesso da primeira temporada, praticamente unânime entre crítica, fãs e público, estabeleceu um novo patamar de qualidade para títulos baseados em quadrinhos; algo que foi honrado, em grande estilo, por Jessica Jones (segunda série da parceria entre a Marvel e a Netflix).

Porém, a segunda temporada de Demolidor sofre de alguns problemas e parece inferior ao primeiro ano em comparação. A troca da equipe criativa (com a saída do showrunner Steven S. DeKnight, que foi cuidar de outros projetos) parece ter prejudicado um pouco o programa.

Há diversas falhas de roteiro no decorrer desta segunda temporada, às vezes com diálogos pouco inspirados, outras vezes com motivações de personagens mal explicadas, sem falar que algumas tramas ficam sem um encerramento, deixando verdadeiros buracos na história.

Nem tudo é ruim, claro. Há vários atrativos e acertos neste segundo ano. Karen Page, por exemplo, ganha bastante destaque e é a personagem que mais se desenvolve ao longo dos episódios (e a atriz Deborah Ann Woll brilha no papel). Jon Bernthal prova que é a escolha certa para o Justiceiro, criando um personagem multifacetado, complexo e que faz todo mundo (inclusive nós, espectadores) refletir sobre sua moral.

Apesar disso, a sensação é que queríamos ou esperávamos mais. A própria estrutura desta segunda temporada parece um retrocesso em relação à do primeiro ano, com uma narrativa dividida em blocos que lembra os programas tradicionais de TV: primeiro apresentando o Justiceiro, depois a Elektra, e por fim combatendo o Tentáculo (traduzido para A Mão pela Netflix, em referência literal ao original The Hand).

O problema é que as passagens entre esses blocos narrativos não ocorrem de forma orgânica e natural, e o roteiro sofre de solavancos, deixando muitos fios soltos no percurso, sem esclarecer alguns temas e sem justificar decisões tomadas por personagens.

Abaixo, selecionamos 5 destaques para comentar e exemplificar o que há de bom e de ruim nesta segunda temporada. Confira:

Atenção: grandes spoilers a seguir!

Origens: Justiceiro e Elektra

A expectativa era grande para conferir a intepretação de novos atores nos papéis de Justiceiro e Elektra, agora sob o comando da Marvel. E, em geral, Jon Bernthal e Elodie Yung não decepcionam.

Justiceiro e Elektra

O Justiceiro tem ótimas cenas ao longo da temporada, em especial em sua passagem pela prisão e nas interações com Karen Page. Já Elektra funciona bem ao lado do Demolidor, especialmente nas cenas de luta e ação.

A narrativa, porém, deixa a desejar na maneira como conta a origem desses personagens. A intenção de fragmentar o passado do Justiceiro, contando em pedaços o que aconteceu a Frank Castle, é boa – mas, no fim, muito ainda não se explicou sobre Blacksmith e a operação policial que acabou levando sua família à morte. O final deixa claramente um caminho aberto para uma série própria do personagem.

Elektra, por sua vez, tem seu passado contado em flashbacks, mostrando seu treinamento com Stick e a missão que tinha em corromper Matt. Apesar disso, o roteiro inventa de última hora que Elektra era a “Chuva Negra”, a pessoa lendária que daria mais poderes ao Tentáculo (ou a Mão), fazendo-a questionar suas alianças e o plano de Stick – tudo fica extremamente mal explicado, e há um momento em que Elektra cogita se aliar a Tentáculo, que chega a ser risível (Elektra parece uma tola, sem personalidade e sem opinião formada, que não sabe o quer).

Participações especiais

Diversos personagens coadjuvantes estão de volta, mas duas participações em especial se destacam nesta temporada: o Rei do Crime Wilson Fisk e a advogada Jeri Hogarth.

Wilson Fisk: o Rei do Crime

O grande vilão da primeira temporada, interpretado magistralmente pelo ator Vincent D’Onofrio, aparece na prisão onde tem um plano para o Justiceiro. A interação dos personagens na cadeia é um dos pontos altos desta nova temporada, levando o Justiceiro a estraçalhar diversos detentos; sem falar que a subsequente fuga de Castle obriga Matt Murdock a fazer uma visita a Fisk – resultando num bate-boca deliciosamente violento.

Já no finalzinho da temporada, quem aparece de surpresa é a advogada Jeri Hogarth, personagem que foi apresentada na série Jessica Jones, com interpretação de Carrie-Anne Moss. Hogarth chega para convidar Foggy para fazer parte de sua empresa, especializada cada vez mais em casos envolvendo vigilantes!

Essas participações especiais certamente agradam, mas também evidenciam os problemas desta segunda temporada. Afinal, quando Fisk aparece em cena, ele nos faz lembrar a maravilhosa construção da primeira temporada – e nos deixa com saudades daquela trama. Já Hogarth faz pensar se não seria legal uma participação de outro personagem do Universo Marvel, com um dos Defensores (Jessica Jones ou Luke Cage) ou quem sabe até um dos Vingadores (o que custa sonhar, não é mesmo?).

Cenas de luta

Não faltam cenas de luta na segunda temporada de Demolidor. Seja contra o Justiceiro, contra motoqueiros da Dogs of Hell ou contra ninjas da Tentáculo (A Mão), o Homem Sem Medo não tem descanso neste segundo ano.

A equipe promoveu bastante uma sequência em especial do final do terceiro episódio em que o personagem combate os motoqueiros que estão atrás de Castle através de corredores e escadas estreitas. O resultado é certamente interessante e um dos destaques da temporada – mas será que supera aquela cena sem cortes de pancadaria do segundo episódio da primeira temporada?

Verdade é que nem todas as sequências de ação e de luta funcionam tão bem. Às vezes, cenas noturnas atrapalham a leitura dos movimentos, outras vezes as escolhas de direção e de posicionamento de câmera não ajudam.

Apesar da insistência da equipe em falar sobre as lutas do Demolidor, quem se destacou em combate mesmo foi o Justiceiro, especialmente no seu confronto contra vários detentos da prisão.

Karen e Matt

A segunda temporada passou tanto tempo com o Demolidor quanto passou com Matt Murdock, explorando as relações sociais do personagem, em seu traje civil, ao mesmo tempo em que mostrou mais do seu trabalho como advogado.

Matt Murdock e Karen Page

Um dos desenvolvimentos mais interessantes da temporada foi a aproximação de Matt e Karen Page, sua grande paixão nos quadrinhos. O relacionamento é bastante tumultuado devido à identidade secreta de Murdock como o Demolidor, que o obriga a inventar mil desculpas e mentiras; e a situação se agrava ainda mais com a chegada de Elektra.

Matt fica muito dividido entre as duas mulheres ao longo da temporada, em um conflito que potencializa a discussão moral do personagem nesta temporada, problematizando o conceito de bondade de Matt (Elektra é uma assassina, mas Karen acredita no modo de operação do Justiceiro).

No fim, Matt corre para salvar Karen quando ela é raptada pela Tentáculo (a Mão), em uma clara demonstração de afeto e amor (o toque no rosto evidenciou isto). Mas, em seguida, o herói fala para Elektra que fugiria com ela para qualquer lugar do mundo – algo que soa bem estranho naquele momento da narrativa.

Como Elektra morre no ataque final de Nobu, Matt decide reparar a relação com Karen contando que é o Demolidor. É muito bom ver o personagem contando a verdade para Karen, mas é uma pena que os motivos que o levaram de volta até ela sejam errados.

Buracos narrativos

Além de deixar a expectativa sobre a relação de Karen e Matt para uma próxima temporada, este segundo ano de Demolidor acabou com muitas perguntas no ar – sem falar em diversos buracos de roteiro que não sabemos se um dia serão respondidos.

Pôster da segunda temporada de Demolidor

A narrativa com mais problemas é aquela que envolve a Tentáculo (ou A Mão, na tradução da Netflix). Há poucas e esparsas explicações sobre a atividade dos ninjas místicos que supostamente estão dominando o tráfico de heroína (e terra?) em Hell’s Kitchen.

Vemos que os membros da organização sequestram pessoas e estão drenando seus corpos para alimentar algo ou alguém em um caixão como parte de um ritual de ressurreição. Nobu teria passado por esse processo, e Elektra é a próxima (e deve retornar como uma assassina da Tentáculo em uma futura temporada) –, mas pouco se explica sobre esse ritual e sobre quem já passou por ali.

Outro detalhe que fica mal justificado é o enorme buraco (de exagerados 40 andares) aberto no chão no meio de Manhattan – exatamente para quê? O vão acaba sendo significativo desta temporada, com um roteiro cheio de buracos narrativos.

Muitas dessas perguntas devem ser respondidas no futuro da série, mas é inegável que deixam um gostinho de insatisfação com esta temporada de Demolidor e certamente passam a impressão de que este segundo ano é inferior e menos caprichado que o anterior.

E você, o que achou da segunda temporada de Demolidor? Deixe abaixo a sua opinião!

Via Minha Série.

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