‘IA e nuvem são as armas do século 21’, diz manifestante pró-palestina ao TecMundo
O TecMundo, que também está nos EUA, conversou com um dos manifestantes que protestava contra as big techs em frente ao centro de convenções da Microsoft Build
19/05/2025, às 20:40
Atualizado em 19/05/2025, às 22:54
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Manifestantes contrários a big techs como Microsoft, Google e Amazon protestaram contra a colaboração das companhias com o governo de Israel nesta segunda-feira (19). Cartazes e palavras de ordem citavam apoio à Palestina e Gaza durante o primeiro dia da conferência anual Microsoft Build.
A manifestação aconteceu depois do meio-dia em frente ao Centro de Convenções de Seattle, como reportado pelo The Seattle Times. A polícia local foi acionada para os ativistas, que teriam tentado entrar na conferência. De acordo com o veículo local, ao menos um manifestante parece ter sido detido.
Na abertura do evento, durante a fala do CEO da Microsoft Satya Nadella, um manifestante também interrompeu a conferência com protestos sobre os contratos de serviços de nuvem e IA da Microsoft com o governo israelense. Segundo o The Verge, trata-se do engenheiro de firmware Joe Lopez.
Estive no local, convidado pela Microsoft para participar da conferência, e aproveitei alguns momentos para ir atrás de um dos manifestantes em frente ao Centro de Convenções de Seattle.
Após toda a agitação com a presença da polícia local e uma tentativa de invasão ao Centro, passei por gradis que foram montados para separar atendentes e manifestantes. Na rua, encontrei Hossam Nasr, ex-engenheiro de software da Microsoft. Segundo ele, a organização No Azure for Apartheid exige “que a empresa pare de colaborar com o apartheid e o genocídio contra os palestinos”.
“Eu era funcionário da Microsoft e fui demitido em outubro de 2024 por organizar uma vigília no campus da empresa”, disse Nasr. Pergunto como, comparando a ocasião anterior com a de hoje, os protestos foram organizados:
“Não foi um protesto, foi simplesmente uma vigília para homenagear as vidas do povo palestino que foram mortas no genocídio em Gaza. E nós estávamos totalmente em conformidade com todas as políticas da Microsoft — fizemos isso de acordo com a campanha Microsoft Give, que é uma iniciativa que oferece aos funcionários a oportunidade de organizar eventos para arrecadar fundos para causas com as quais se importam. E esses fundos são igualados em 100% pela empresa”, disse Nasr.
Segundo o ex-funcionário, a Microsoft teria considerado “isso [a vigília de 2024] motivo suficiente para me demitir, junto com outro funcionário chamado Abdo Mohamed”. Abdo é de origem muçulmana, enquanto Nasr é de origem egípcia.
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“AI e nuvem são as armas do século 21”
Essa não é a primeira vez, nesse passado recente, em que funcionários ou ex-funcionários da Microsoft protestam em relação aos contratos da empresa com o governo israelense:
- Em abril, durante a comemoração dos 50 anos de Microsoft, uma funcionária interrompeu a apresentação de Mustafa Suleyman, CEO de IA da empresa, pedindo o "fim do uso de IA para o genocídio";
- Em outra ocasião, no início do mesmo mês, outra funcionária interrompeu uma roda de conversa entre Nadella, Steve Ballmer e Bill Gates (ex-CEOs da Microsoft) protestando a favor dos palestinos em Gaza.
O grupo de manifestantes, neste momento de nossa conversa, começava a se dispersar. Boa parte deles caminhava em direção ao outro lado do centro de convenções onde acontece o Microsoft Build.
Acompanhei Nasr por mais alguns momentos enquanto ele também se dirigia ao local. O homem relatou que mora nos EUA há cerca de 9 anos, trabalhou na Microsoft por três anos e, após ser demitido, juntou-se ao No Azure for Apartheid.
“Fazemos parte de um movimento mais amplo de trabalhadores da tecnologia e do público em geral que estão começando a reconhecer que a tecnologia — especialmente a IA e a nuvem — são as armas do século 21”, disse.
Nos cartazes, além da Microsoft, outras empresas como Google e Amazon são citadas. Para o grupo, de acordo com Nasr, “essas empresas são tão essenciais quanto os tanques, bombas e aviões [...] recusamos que nosso trabalho seja usado para alimentar o genocídio do nosso povo — recusamos ser cúmplices no holocausto do nosso tempo. E sentimos a obrigação de fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que isso pare imediatamente”.
O TecMundo entrou em contato com a Microsoft em busca de um posicionamento, mas a empresa não retornou com um posicionamento atual, apenas reforçou sua posição pública que foi entregue no dia 15 de maio:
“Nos últimos meses, ouvimos as preocupações de nossos funcionários e do público sobre relatos da mídia sobre o uso das tecnologias Azure e IA da Microsoft pelos militares israelenses para atingir civis ou causar danos no conflito em Gaza. Levamos essas preocupações a sério. Em resposta, conduzimos uma revisão interna e contratamos uma empresa externa para realizar apurações adicionais que nos ajudem a avaliar essas questões. Com base nessas revisões, incluindo entrevistas com dezenas de funcionários e análise de documentos, não encontramos nenhuma evidência até o momento de que as tecnologias Azure e IA da Microsoft tenham sido usadas para atingir ou causar danos a pessoas no conflito em Gaza”.
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O posicionamento completo pode ser lido aqui.