'Investimento do governo em defesa ciber é fraco', diz Comando de Defesa

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Desde 2016 sendo o cabeça do Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) do Brasil, o General Okamura é assistente do Exército do Comando da Escola Superior de Guerra e foi assessor especial para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, que aconteceram no ano passado.

Okamura, que trabalha em Brasília (DF), veio até São Paulo para palestrar no Mind the Sec, evento de segurança corporativa. O TecMundo aproveitou a passagem do general para trocar algumas palavras. Conversamos sobre as atuações do ComDCiber, alguns casos que ocorreram durantes as Olimpíadas de 2016 e também sobre investimentos do governo federal.

A entrevista com o General Okamura você confere aqui embaixo.

general okamura defesa ciberGeneral Okamura (esq.)

TecMundo: Como você explicaria o que o comando faz?

General Okamura: "O comando é um órgão que eu chamo de auditor. Então, em todo o mundo, quem gerencia redes, ele não pode ser responsável por fazer só a auditoria, porque ele nunca vai enxergar o que precisa enxergar. Hoje, essa nossa estrutura é auditora das Forças Armadas para verificação das redes. Além disso, são profissionais preparados para dar apoio, para que soluções possam ser encontradas, como soluções de mitigação de problemas que aconteceram etc.

Eu não tenho condições de fazer muitas coisas, isso porque eu tenho apenas 150 pessoas sob o meu comando — e nem todos são técnicos. Essa é, mais ou menos, a missão que nós temos.

Somos um órgão que de certa forma integra, nem digo coordena, integramos iniciativas, distribuímos soluções e avisamos as pessoas de problemas que tenhamos descoberto."

O aeroporto começou a ter problema no tráfego de controle aéreo. Isso é um perigo, imagina?

TecMundo: Mas como funciona essa auditoria?

Okamura: "Existe um problema seriíssimo de egos de gerentes de rede — e isso não é só no exército. Então, o gerente de rede é um cara que acha que a rede dele é maravilhosa. Acontece, por exemplo, o seguinte: você constrói uma casa maravilhosa e linda, então eu viro para você e falo 'olha, alguém pode entrar pela janela do banheiro'. Você pode pensar 'esse cara está se metendo'. É mais ou menos isso que acontece. O auditor quer ajudar, apenas isso."

TecMundo: E o Tribunal Superior Eleitoral? Vocês ajudam, por exemplo, na questão das urnas?

Okamura: "Desde que for solicitado. Ou, quando temos a obrigação de realizar defesa. Por que saímos nos Jogos Olímpicos Rio 2016 para fazer auditorias dentro dos aeroportos, de Angra dos Reis, na refinaria da Petrobrás. Uma das nossas missões é a defesa de infraestruturas críticas. Depois que se definiu o que é essa estrutura, defenderemos os seus ativos de informática.

Mas a gente não mexe, apenas se for solicitado. Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, teve um aeroporto que não quis. Então não fomos."

TecMundo: Era exatamente isso que iríamos comentar, sobre a dificuldade de trabalho nas Olimpíadas no ano passado...

Okamura: "Então, quando o ativo não é aberto para você tentar ajudar, você não tem como ajudar."

TecMundo: Mas vocês esbarraram em algumas empresas ou prefeitura?

Okamura: "Um dos aeroportos não quis. Aí eles descobriram que outro aeroporto estava contando com o Comando de Defesa Cibernética e perceberam que também estavam sendo invadidos."

TecMundo: E houve muitas tentativas de invasão no aeroporto em questão?

Okamura: "O aeroporto começou a ter problema no tráfego de controle aéreo. Isso é um perigo, imagina? Como o outro aeroporto estava aberto e rodando conosco, na realidade, 70% dos problemas da área cibernética é comportamental. Segurança orgânica de pessoas."

Nós estamos pensando em fazer um grande evento no ano que vem para motivar lideranças políticas a mostrar essa necessidade

TecMundo: São muitos jovens que atuam na área de cibersegurança. Além disso, os cibercriminosos são cada vez mais jovens. Como o Comando se atualiza para conter a ação dessa molecada?

Okamura: "Nós temos uma área que se preocupa com a capacitação de pessoal. Existe um instituto a nível internacional, o SANS, que é nosso parceiro e nos capacita. Temos feito trabalhos com outros institutos, como o espanhol INOVA. Estamos nos ligando aos centros de capacitação e temos também contato com outros países, nações amigas, que nos oferecem cursos ou possibilidade de capacitação em congressos e seminários, o que melhora o nível técnico de nosso pessoal."

TecMundo: O governo federal investe o suficiente na defesa cibernética do Brasil?

Okamura: "Não. É fraco. Nós estamos pensando em fazer um grande evento no ano que vem para motivar lideranças políticas a mostrar essa necessidade, até para dar uma segurança para o próprio governo. Vamos fazer um evento para movimentar o cenário político de Brasília."

TecMundo: E o investimento na infraestrutura brasileira?

Okamura: "Na realidade, nós estamos crescendo. Mas São Paulo está fora da realidade, vocês estão conectados ao 4G, e daqui entra uma outra tecnologia e vocês vão acompanhar. Eu vim do Rio de Janeiro de ontem para hoje, deu uma mudança absurda no meu celular com a internet móvel, por exemplo. Estamos vivendo uma diferença absurda de tecnologia. São Paulo não é referência de Brasil, vocês estão à frente quando falamos em tecnologia da informação."

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