O estrago que a pandemia está causando no transporte público

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Imagem: Luiz Costa /SMCS

O legado da pandemia para a mobilidade urbana vem sendo desenhado desde o ano passado. Por mais que ainda existam dúvidas sobre a duração e a efetividade de determinadas tendências, é certo que alguns modais e algumas formas de se locomover pelas cidades nunca mais serão os mesmos.

Podemos começar abordando o transporte coletivo, que se tornou um problema por promover a aglomeração de pessoas e perdeu passageiros. Um estudo em andamento realizado pelo WRI Brasil em parceria com o Centro de Excelência BRT+ (da Volvo) aponta que, em setembro e outubro de 2020, mais de 50% dos usuários de transporte público não estavam mais nas ruas.

A informação foi apresentada em reportagem da Automotive Business, que revela ainda que, neste início de ano, antes das restrições impostas por governos municipais e estaduais diante do aumento de infecções pela covid-19, o transporte coletivo atingiu apenas de 60% a 70% da demanda do período pré-pandemia, enquanto outros modais haviam voltado aos patamares anteriores.

Com a confiança baixa em ônibus, metrôs, trens e BRTs, o transporte individual foi a opção escolhida por 34% dos usuários para reduzir riscos de contaminação, segundo levantamento do Moovit no Brasil

Para Douglas Tokuno, head de parcerias da Waze Carpool para a América Latina, as pessoas que retomaram atividades e viagens fora do ambiente de home office preferiram fazê-lo utilizando um automóvel: “Os meios que costumavam ser opções de transporte eficientes e de baixo custo agora são vistos como ambientes desafiadores pelas dificuldades de manter o distanciamento social”.

Já os números que apontavam uma queda na busca por carros entre os mais jovens estão mudando com a pandemia. Isso amplifica velhos problemas de mobilidade, já que mais carros significam mais trânsito, acidentes e demora nos deslocamentos.

22% das profissões podem ser exercidas remotamente

Também precisamos falar sobre o home office: uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 22% das profissões podem ser exercidas remotamente, o que significa 22 milhões de postos de trabalho sendo alocados em domicílios no Brasil.

Ao mesmo tempo que se supõe um cenário com menos pessoas circulando nas ruas, a mobilidade urbana acaba sendo afetada pela chamada demanda induzida de trânsito: a grosso modo, é a ideia de que quanto mais vias estiverem abertas aos carros, maior será o trânsito. Porém, quanto mais compartilhamento de vias laterais e outros modais, menor o congestionamento. Isso se mostrou viável em metrópoles como a sul-coreana Seul.

Uso combinado de diferentes modais

Ainda segundo a Automotive Business, a principal tendência que desponta para o pós-pandemia é que o público opte pelo uso combinado de modais, com o crescimento das caronas compartilhadas e de viagens por aplicativos. “Pelo perfil de comportamento da geração Z, entendemos que esses motoristas mais jovens, que também estarão mais motorizados, serão os responsáveis por impulsionar o hábito da carona no pós-pandemia. Antes do surto da covid-19, já tínhamos começado a observar um aumento do comportamento da economia compartilhada”, explica Tokuno.

Podemos citar ainda algumas medidas práticas para melhorar o combalido sistema de transporte coletivo nas cidades, como aumento das faixas de ônibus, escalonamento de horários de entrada e saída por áreas e bairros da cidade, além de projetos de infraestrutura que estimulem o uso de bicicletas e patinetes e possibilitem caminhadas.

Transporte subterrâneo

E sempre vale lembrar do magnata Elon Musk: ele vem desenvolvendo um projeto de transporte subterrâneo para aeroportos que busca otimizar o deslocamento até as regiões centrais das cidades e manter o visual da superfície mais limpo, sem pistas ou trilhos aparentes.

O empresário projeta um tipo de van subterrânea para uso nos aeroportos da Califórnia, por meio da sua empresa de mobilidade, a The Boring Company. Segundo informações do Estadão, a empresa deve criar um túnel de 4,5 quilômetros saindo do aeroporto de Ontário, localizado a 64 quilômetros de Los Angeles. O túnel terá 4 metros de largura e 8 metros de profundidade.

boring companyTúneis de Elon Musk querem levar o grosso do transporte para o subterrâneo das cidades. (Reprodução/The Boring Company)

O projeto está sendo abraçado pelas autoridades em virtude de seu custo relativamente baixo e do menor tempo de execução. A expectativa é de que sejam investidos US$ 75 milhões e que a conclusão aconteça em cerca de 4 anos.

Projetos de mobilidade urbana

A mobilidade urbana é uma das frentes da maratona de desenvolvimento Curitiba Smart Hack, que o iCities está organizando com a Minsait, uma empresa Indra. As inscrições estão abertas no site para a participação de profissionais e estudantes, em equipes ou individualmente, com o desafio de criar propostas tecnológicas inovadoras capazes de apoiar a cidade em uma das seguintes frentes: mobilidade urbana, turismo inteligente e segurança.

Os critérios analisados para escolher o projeto vencedor envolvem criatividade, aplicabilidade do sistema para solucionar o problema proposto e viabilidade de execução real da solução desenvolvida. A equipe vencedora receberá um prêmio de R$ 10 mil. O hackathon será virtual e terá a duração de 42 horas entre 26 e 28 de março, dentro da agenda oficial de celebrações do 328º aniversário de Curitiba (PR), que é referência em smart cities no Brasil e na América Latina.

Para nós, do iCities, é um privilégio poder contribuir para o fomento do setor de inovação das cidades e para o desenvolvimento de soluções urbanas, envolvendo a massa crítica de todo o país.

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Beto Marcelino, colunista do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de projetos e soluções em cidades inteligentes que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre a temática com a chancela da FIRA Barcelona.

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