Big Brother Brasil 23 vai mobilizar os “bisbilhoteiros” do país (crítica)

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Há 21 anos, iniciava-se uma espécie de tradição nacional: a de acompanhar, durante três meses de verão, a vida de pessoas que, por escolha própria, escolheram se isolar em uma mansão no Rio de Janeiro. Em troca daquilo que podem ganhar (que pode ser resumido em dois “valores” nacionais: dinheiro e fama), elas oferecem a sua própria intimidade, ou seja, o que costuma acontecer quando ninguém mais está olhando – e que, por isso mesmo, é tão atraente para quem observa.

É claro que falo aqui de Big Brother Brasil, o mais longevo e bem-sucedido reality show que foi consolidado neste país. Se, em outras nações, outros realities se instalaram bem melhor – como a competição Survivor, nos Estados Unidos -, a fórmula que parece mais adequada a nós, brasileiros, parece ser a que favorece a exibição daquilo que há de mais humano: as interações cotidianas.

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E é por isso que, há mais de duas décadas, continuamos viabilizando que a Globo invista uma verba gigantesca neste programa em que a grande atração é justamente a bisbilhotice, a fofoca sobre a vida alheia – termos que eu uso neste texto, para ficar bem claro, sem impregnar juízo de valor. E por que nós gostamos tanto de observar estas “miudezas” do dia a dia? Tentarei explicar a seguir.

Big Brother Brasil: uma “fábrica” de relações humanas

(Fonte: Gshow)(Fonte: Gshow)Fonte:  Gshow 

Nem todo mundo sabe, mas o programa engendrado pela produtora holandesa Endemol, e que foi vendido para a Globo em 2001 (apenas por curiosidade: o formato foi oferecido para Silvio Santos em 2000, que copiou a ideia no reality show Casa dos Artistas e o lançou antes que a Globo soltasse o primeiro BBB), foi mais bem-sucedido em nosso país do que qualquer outro.

Isto não quer dizer que a atração não tenha enfrentado altos e baixos ao longo destes anos. Desde o início, BBB foi associado à pecha de “programa sobre nada”, no sentido de simbolizar o que havia de mais raso e fútil na televisão aberta. A crítica apontava à ideia de que assistir ao cotidiano de pessoas que conviviam e criavam formas de interação, com conflitos, intrigas e fatos, era a maior prova que a TV havia definitivamente se tornado pura perda de tempo.

Mas ocorre que a atração se popularizou por aqui. Aos poucos, milhares de pessoas estavam vidradas acompanhando o que ocorria entre uma comunidade de sujeitos confinados – que, mesmo sabendo que estavam dentro de uma casa totalmente vigiada, acabavam, em algum momento, se esquecendo das câmeras e sendo “elas mesmas”.

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Destaco aqui o “ser a si mesmo” como a premissa mais valiosa do programa Big Brother Brasil. Qualquer um de nós que não for cínico irá assumir que ninguém sabe, ao menos com total convicção, quem se realmente é. Isto acontece porque todos nós, sem exceção, estamos "performando" em nossas interações sociais. Pegando carona na famosa premissa de William Shakespeare, é justo assumir que o mundo é como um palco e todos nós somos atrizes e atores que estamos atuando em diferentes papéis.

Por isso, o pulo do gato da Endemol foi oferecer à audiência um formato que explorasse a possibilidade de que, em algum momento, conseguimos espiar quem as pessoas realmente são – e, por consequência, “consumimos” aquilo que elas nos oferecerem de mais precioso.

Esses raros momentos de autenticidade transcorrem, por exemplo, no momento em que alguém se apaixona e baixa a sua guarda, em que tem um ataque de raiva ou quando reage de forma instintiva. Daria para dizer, inclusive, que os três meses em que o público acompanha o BBB se justificam por estes poucos momentos em que estas cenas vêm à tona.

Big Brother Brasil 23: o que esperar?

(Fonte: Gshow)(Fonte: Gshow)Fonte:  Gshow 

Mas o fato de que esta fórmula de sucesso tenha se adequado muito bem no Brasil não significa que o programa não tenha, desde então, enfrentado vários reveses. A popularização da internet doméstica (que mal existia no já longínquo ano de 2002) reconfigurou completamente a ideia deste reality show.

Isto ocorreu por várias razões. Uma delas é que a TV deixou de ter a centralidade que tinha na vida dos brasileiros. Hoje, há uma grande camada da população para quem a lógica de uma grade de programação televisiva nem faz mais sentido. São pessoas que muitas vezes dizem nem acompanhar TV – embora nem sempre se deem conta que o veículo segue presente em suas vidas por outros meios.

Daí surgiu uma nova sacada da produção de Big Brother Brasil: o programa soube se reinventar, pelo menos nos últimos quatro anos, para se tornar menos uma atração de TV e mais uma experiência. Quem assiste ao BBB ou torce para algum participante certamente faz isso de forma coletiva. A graça está justamente na mobilização em torno do programa que se dá nas diferentes redes sociais, como Twitter, TikTok e Instagram.

Mas há também os novos problemas. Dentre eles, está o fato de que a nação brasileira, pelo que se pode acompanhar, é sedenta pela fama, que é vista por boa parte da população como uma das poucas formas de ascender econômica e socialmente. E, para atingir o objetivo de ficar popular (não importa as tantas provas de pessoas que se arrependem de ter almejado isto), vale quase tudo.

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As consequências no programa envolvem uma dificuldade na seleção, pois quase todos os participantes do BBB (sejam anônimos ou famosos) já chegam “formatados”: eles se preparam para este grau de exposição e contratam equipes profissionais para gerenciar suas imagens. Tudo isto, claro, vai contra ao próprio princípio do reality show, cujo foco está exatamente em revelar o que há de mais genuíno – ou, em outras palavras, no que foge de qualquer controle.

A estreia do Big Brother Brasil 23 surge um embalo de alguma decadência, já que tivemos uma edição em 2022 relativamente fraca. Sem grandes personagens ou disputas, foi um BBB com desistência (Tiago Abravanel), com expulsão (Maria) e com um premiado sem carisma (Arthur Aguiar).

Mas, tal como uma maré, a “onda” de uma nova edição do Big Brother envolve sempre uma boa dose de imponderabilidade. E é justamente por isso que seguimos, fissurados, observando a casa mais vigiada no Brasil e bisbilhotando a intimidade de novas pessoas. Se esta será uma temporada marcante, só saberemos nos próximos três meses.

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