O Telefone Preto: um filme para assistir sem grandes expectativas (Crítica)

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Um serial killer de crianças que usa uma máscara assustadora, dois irmãos com dons sobrenaturais e uma pitadinha mínima de drama. Bata tudo isso em um liquidificador e você terá o filme O Telefone Preto (The Black Phone), lançamento de terror da Universal Pictures e um dos filmes de terror mais esperados de 2022.

Ok, confesso logo de cara que eu não estava tão empolgado assim para assistir O Telefone Preto, ainda mais depois de ter visto o trailer do filme, que, por sinal, entrega alguns spoilers pesados e completamente desnecessários.

Contudo, como eu vi que a recepção do filme, de maneira geral, foi muito boa, resolvi conferir. E a verdade é que, infelizmente (ou não), eu não estava tão errado em ficar com um pé atrás em relação a O Telefone Preto. 

Não que o filme seja horrível, impossível de assistir ou coisa do tipo. Absolutamente nada disso. Mesmo. Mas o lançamento de terror acaba deixando a desejar um pouco quando o assunto é profundidade narrativa, com arcos e personagens um tanto quanto superficiais e pouco explorados.

E, agora, chegou a hora de eu te contar tudo sobre O Telefone Preto, e fazer aquela análise narrativa e crítica do filme, com tudo o que eu encontrei de positivo e negativo no longa!

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O que é O Telefone Preto? (SEM SPOILERS)

O Telefone Preto (The Black Phone) é um filme de terror lançado em 2022, dirigido por Scott Derrickson e roteirizado por C. Robert Cargill. Obra, aliás que já se tornou uma das maiores bilheterias do gênero neste ano, passando da marca de US$ 100 milhões em arrecadação em apenas três semanas desde sua estreia.

Agora, partindo para a trama, o filme se passa no finzinho da década de 1970 e acompanha o protagonista Finney Shaw, um garoto bem tímido de 13 anos que vive com a irmã mais nova, a espirituosa Gwen, e o pai, que tem problemas com alcoolismo, chamado Terrence.

Logo no início da história, nós já percebemos que a família composta pelos três é um pouco problemática, com o pai bêbado e autoritário aterrorizando as crianças sempre que possível, e os irmãos sofrendo bullying na escola, tendo que se defender de alguns valentões e buscando seus espaços nessa fase tão conturbada da vida, que é a da infância/pré-adolescência.

E aí vem a cereja do bolo: além de todas essas dificuldades, há um sequestrador de crianças, chamado The Grabber, solto pela cidade em que eles vivem, e alguns dos conhecidos do Finney e da Gwen têm sumido repentinamente.

Então, há um clima bem pesado permeando a narrativa, com todos se sentindo muito inseguros e vulneráveis. Especialmente as crianças, que são os alvos do tal sequestrador.

E adivinha só? Em um (não tão) belo dia, o Finney também é sequestrado pelo criminoso, que é interpretado pelo ótimo Ethan Hawke (Antes do Amanhecer, Cavaleiro da Lua), e que aqui se passa por um mágico, vagando pela cidade todo caracterizado em uma van preta, cheia de balões pretos dentro.

Um pouco suspeito, não é mesmo? Pois é, só um pouquinho…

A partir daí, o garoto é levado para uma espécie de cativeiro à prova de som, onde ele é mantido refém pelo assassino. Lá, todavia, além de um colchão, um vaso sanitário e uma janela minúscula, há um item bem curioso, diga-se de passagem.

Sim, é o tal telefone preto, que não deveria funcionar, de acordo com o sequestrador. Mas, surpresa, surpresa, ele funciona. Só não da maneira que você está imaginando.

Explico: quem liga para o Finney durante seu cativeiro não são pessoas comuns, mas, sim, as vítimas anteriores do serial killer, que começam a passar dicas para o menino a fim de que ele consiga escapar daquele tormento antes que seja tarde demais.

ATENÇÃO: A PARTIR DE AGORA, ESTE TEXTO TERÁ SPOILERS DO FILME O TELEFONE PRETO. NÃO CONTINUE SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU.

Análise narrativa e crítica de O Telefone Preto (COM SPOILERS)

Estrutura

Bem, vamos começar a desconstruir um pouco a narrativa e os arcos de O Telefone Preto.

Primeiramente, eu posso dizer que os três atos do filme são bem definidos e bem fáceis de identificar. Inclusive, eles são bem padrões e seguem à risca a fórmula que já estamos acostumados a ver por aí em outras porduções.

No primeiro ato, temos as apresentações dos personagens, das relações entre eles, do universo do filme como um todo e, claro, do problema, que é a presença do serial killer.

É neste ponto, também, que descobrimos os dons sobrenaturais da Gwen, a irmã mais nova do Finney, que tem algumas visões e revelações através de sonhos. Dons, aliás, que teriam sido herdados da mãe, que tirou a própria vida justamente por não lidar muito bem com eles (de acordo com uma explicação breve dada pela própria narrativa).

O ponto de virada para o segundo ato é o sequestro do melhor amigo do Finney, chamado Robin, aquele garoto brigão que defende o protagonista em alguns momentos. Provavelmente, você vai lembrar dele.

Esse acontecimento gera uma instabilidade emocional nos personagens e, logo depois, Finney também é sequestrado, passando ele agora a lutar pela própria vida durante o todo o desenvolvimento do longa.

Já o ponto de virada paro o terceiro ato acontece também com a participação do Robin, que liga para Finney através do telefone preto para dizer que ele (Finney) precisa se impor e se defender antes que seja muito tarde.

A partir daí, o garoto bola todo aquele plano mirabolante para enfrentar o assassino e sair vitorioso no final das contas, dando fim ao filme.

Enfim, uma estrutura bem padronizada, sem grandes surpresas ou plot twists, mas que faz bem seu papel em contar a história de O Telefone Preto de uma maneira linear e simples de entender, apesar da falta de ousadia do roteiro.

O Telefone PretoO Telefone Preto (Universal Pictures/Reprodução)

Direção e narrativa

Sobre a direção de O Telefone Preto, é inegável que ela é bem competente e não influencia, de maneira alguma, negativamente na narrativa. Todavia, também não produz nada que salte muito aos olhos ou que acrescente tanto assim à obra.

A fotografia mais fria e escura, típica de filmes de terror modernos, ajuda na composição da atmosfera soturna do longa, o que é um acerto. Especialmente aquele filtro de sépia, que pinta o filme todo e que condiz muito com o período em que O Telefone Preto se passa, que é os anos 70.

Contudo, o grande problema de O Telefone Preto, como um todo, está em sua falta de criatividade e ousadia. Narrativamente, o filme me passou a seguinte sensação: “não se preocupe, estamos seguindo a cartilha”.

Faltou um pouquinho de esforço e ousadia para que O Telefone Preto se destacasse mais e se transformasse em uma obra mais memorável dentro desse gênero, que já explorou tantas e tantas ideias.

Mas, como eu disse anteriormente, O Telefone Preto não é um filme terrível ou algo do tipo.

Há uma cena, por exemplo, que é incrível, que é aquela em que o Finney sai de seu cativeiro, em uma armadilha criada pelo próprio sequestrador, que deixa a porta aberta de propósito, e tenta fugir enquanto o assassino acaba dormindo em uma cadeira.

Essa cena cria tensão de uma maneira bem interessante, porque trabalha com elementos que, quando bem utilizados, dão um tom assustador a filmes de terror e suspense São eles:

Imprevisibilidade, já que o assassino pode acordar a qualquer momento; Escassez de tempo, porque o Finney tem que acertar a combinação do cadeado que abre a porta o quanto antes e o tempo está se esgotando; Medo, claro, já que não há como não nos sentirmos aterrorizados com a possibilidade do criminoso acordar e matar o garoto.

E tudo isso é muito bem retratado nesse corte, inclusive, com um movimento de câmera bem legal, em que vemos o Finney em primeiro plano e o assassino dormindo na cadeira logo em segundo. Então, o foco da câmera vai trocando entre um e outro, criando esse clima bem nervoso, até que o menino escapa, estourando aquela bolha de tensão em que estávamos imersos.

Porém, o garoto é capturado novamente logo depois, fazendo com que voltemos lá para o início da fila para começar tudo de novo, quebrando totalmente a expectativa do espectador.

Enfim, essa foi, de longe, a minha cena favorita de O Telefone Preto e mostra como até havia potencial dentro da obra, caso mais momentos como esse fossem explorados.

Porque, a verdade é que, na maior parte do filme, eu não me senti mais como eu me senti nessa cena específica, em que eu fui do céu ao inferno em questão de alguns segundos. Algo que é sempre muito-bem vindo em produções de terror e suspense.

O Telefone PretoO Telefone Preto (Universal Pictures/Reprodução)

Arcos de personagens

Também quero falar um pouco sobre alguns arcos de personagens em O Telefone Preto. Começando pelo The Grabber, vilão interpretado por Ethan Hawke, que eu achei pouquíssimo valorizado na narrativa.

Esse vilão deveria ser um dos grandes chamarizes do filme. Inclusive, boa parte do marketing da obra foi feita em cima dele.

Mas eu fiquei com a sensação de que ele está ali pelo simples fato de o filme precisar de um vilão, entende? Me pareceu que, se fosse qualquer outra figura maquiavélica ali, não faria muita diferença.

E eu digo isso porque, além de usar uma máscara bem assustadora, que o personagem vai trocando de acordo com o humor dele, e soar amedrontador, ameaçador e por aí vai, o que mais há nesse vilão que nos deixe, de fato, interessados nele?

Qual é a origem desse cara? Por que ele mata crianças? Por que ele não consegue jamais tirar a máscara e entra em desespero quando isso acontece? Ele já ouviu o telefone preto também? Quais são as motivações dele?

Nós só sabemos que ele se passa por mágico, anda em uma van, tem um irmão e cresceu na mesma casa em que aprisiona as crianças.

Enfim, nós não temos quase nada, narrativamente falando, que enriqueça esse vilão e grave ele em nossa memória. No fim, ele tem apenas um visual maneiro e nada muito além disso.

O Telefone PretoO Telefone Preto (Universal Pictures/Reprodução)

Por falar no vilão, me incomodou bastante o fato de o irmão dele, o Max, não fazer a mínima ideia do que está acontecendo e não desconfiar de absolutamente nada em relação ao familiar, sendo que ele (Max) dedica boa parte do seu tempo a, justamente, investigar os sequestros das crianças.

Ah, e detalhe, eles moram na mesma casa!

Portanto, a função narrativa desse irmão é praticamente nula e só serve para criar uma rachadura no roteiro. Não há bons motivos para esse personagem estar na trama, especialmente se considerarmos que o maior ato dele no filme é encontrar o Finney, apenas para ser assassinado pelo próprio irmão logo depois.

Por fim, encerro com a família principal. Gostei do papel do Terrence (o pai das crianças) durante o filme, porque ele não é, simplesmente, uma figura autoritária que está ali apenas para criar obstáculos para as crianças.

Pelo contrário, ele se mostra um homem bem triste, com traços até depressivos, provavelmente por conta da morte da mulher e por não conseguir criar uma conexão real com os filhos. É um personagem trágico, o que o torna muito mais interessante do que se ele representasse apenas mais um “problema” a ser resolvido.

Inclusive, em alguns momentos, ele se mostra um cara até bem vulnerável, e parece se arrepender dos seus atos no final do filme, quando pede perdão e chora em frente aos filhos.

Já os irmãos Finney e Gwen, assim como o sequestrador, também não apresentam arcos tão satisfatórios. E isso é um problema se pararmos para pensar que eles dividem o protagonismo da obra.

A Gwen termina o filme basicamente da mesma maneira que começou, com suas visões ajudando a encontrar o irmão. E, em relação a isso, é um pouco estranho como a polícia simplesmente acredita nela, sem questionar absolutamente nada ou demonstrar qualquer tipo de ceticismo.

É realmente difícil de acreditar que isso aconteceria tão facilmente e que a narrativa andaria do ponto A ao ponto B dessa maneira. Me soa um pouco preguiçoso, para ser honesto. Mas, claro, posso estar apenas sendo chato e detalhista (volta e meia, acontece).

E o Finney? Bem, o protagonista tem o clássico arco de herói à sua frente: um menino tímido e com problemas que supera as adversidades e se torna o grande herói no fim, após vencer a grande batalha contra o vilão.

Funciona? Funciona. Mas não surpreende muito e, por isso, fica até difícil ir muito além dessa curta análise, apesar da boa atuação do ator mirim Mason Thames.

Conclusão

O Telefone Preto, por fim, acaba sendo um filme mediano, bem comum e previsível, pouquíssimo ousado ou criativo, e com alguns arcos narrativos um pouco duvidosos. O que não significa que você não deva assistir ou que eu seja dono da razão.

Independente das opiniões que você encontra por aí, inclusive a minha, você precisa criar a sua própria também. E isso você só vai conseguir, finalmente, assistindo o filme.

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