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Jessica Jones: a personalização das mulheres que não aguentam mais

schedule24/03/2018, às 13:54

ATENÇÃO: Contém spoilers da 1ª e da 2ª temporada de Jessica Jones.

A estreia da segunda temporada deJessica Jones na Netflix trouxe de volta uma das heroínas da Marvel que mais fizeram sucesso nas telinhas recentemente — e não apenas por conta dos seus superpoderes.

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Depois de derrubar seu grande abusador, Kilgrave, a investigadora é devolvida ao público tendo que lidar com tudo o que vem depois do enfrentamento.

São anos, décadas, talvez séculos sendo retratadas de maneira simplista e equivocada. "Mulheres são fáceis de entender: elas só precisam de uma casa, um marido e filhos para criar". Essa ideia completamente errônea sobre a constituição feminina finalmente vem mudando nas últimas décadas, e as protagonistas e coadjuvantes complexas, imperfeitas e difíceis de entender aos poucos estão deixando de ser exceção.

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Produções como Jessica Jones têm um grande papel nessa transformação do olhar sobre os verdadeiros dramas femininos destes e de todos os outros tempos. A série aborda como poucas o que sentem mulheres que passaram por situações de abuso e de trauma: a confusão psicológica, a dificuldade de buscar ajuda, a raiva, a necessidade de sobreviver.

Não é fácil lidar com o abuso e, em muitos casos, há a falsa ideia de que encarar a pessoa que cometeu esses abusos vai trazer a redenção de que você precisa. Por mais catártica que tenha sido para Jessica (Krysten Ritter) a experiência de torcer o pescoço de Kilgrave (David Tennant), isso nem de longe dá à heroína a paz da qual ela precisa.

Com grandes poderes vêm grandes doenças mentais

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A showrunner Melissa Rosenberg, criadora da série, forneceu recentemente uma entrevista ao site Thrillist, na qual fala justamente sobre isso. Depois de ter dedicado sua vida primeiro a fugir, depois a combater Kilgrave, ela finalmente se vê livre dessa ameaça — porém, sem aquilo que até então, apesar de problematicamente, vinha dando sentido à sua vida.

Sem Kilgrave para depositar sua energia, Jessica fica confusa, perdida, precisando se reencontrar e não sente nem um pouco de alívio em toda a raiva que já acumulava. E agora? Mais violenta do que nunca, entregue à bebedeira, Jessica quase perde completamente o controle e vai parar na prisão, o que a leva a uma sentença de terapia de controle de raiva.

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Grande parte das produções televisivas sobre mulheres — especialmente da categoria de super-heroínas — acaba sendo superficial demais. Por isso, ver uma personagem como Jessica tendo que refletir sobre o que sobrou dela mesma depois de tantas lutas, de seu acidente de carro, de seu sequestro mental por parte de Kilgrave e de matá-lo é algo incrível.

"Eu tenho toda essa raiva, foi nisso que eles me transformaram? Isso faz de mim um monstro? É o que Jessica se pergunta. Seus problemas envolvem a raiva, mas também o medo que ela sente dessa raiva, que, ultimamente, ela acabou abraçando como algo seu", explicou a showrunner.

De bônus, a série também nos premia com outras grandes mulheres lidando com seus próprios confrontos: Trish Walker (Rachael Taylor) e Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss), cada uma à sua forma enfrentando seus demônios, dando complexidade a diferentes vozes femininas.

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Essa linha narrativa difere muito da maneira como a história da personagem se desdobra nos quadrinhos — e isso não é por acaso. Nas HQs, a história de Jessica termina quando ela, grávida de Luke Cage, acaba apaziguando seus humores graças a essa vida de amor, casamento, filhos etc. Convencional demais para o momento que estamos vivendo, concorda?

Em tempos nos quais as mulheres clamam por uma representatividade mais justa e fidedigna nos produtos de ficção, com movimentos como o #MeToo, não há mais como se firmar nesse universo sem dar ao público um pouco do que ele — e ela! — quer ver.

Este texto foi escrito por Lu Belin via n-Experts.

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