Viver Duas Vezes comove com road movie sensitivo (crítica)

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Os "road movies" geralmente se propõem a apresentar transformações de pessoas no decorrer das contingências de uma viagem, podendo recair sobre a velha máxima de “a jornada ser mais importante que o destino”. Inseridos em um drama (ou melodrama mesmo), então, não escondem sua intenção em acionar gatilhos para o lado emocional do espectador. Apesar de não ser novidade, o estilo é bem-vindo e tem sua consolidação em filmes memoráveis como A Pequena Miss SunshineLivreSem Destino, entre muitos outros. O espanhol Viver Duas Vezes, por sua vez, pega uma curta e despretensiosa carona nessa estrada conhecida do público, mas não sem deixar suas próprias marcas no asfalto, abordando com ternura um tema tão delicado.

Emilio é um carrancudo professor de matemática aposentado e avesso ao uso de tecnologia que vive um dia de cada vez, na companhia de seu inseparável Sudoku. Tudo isso chega ao fim quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Preocupado em esquecer um amor de infância, Emilio acaba mobilizando sua família a partir em busca da amada. A diretora espanhola Maria Ripoll pode não ser tão conhecida por aqui, mas é responsável por filmes prestigiados em seu país de origem. Rastros de Sándal Tua Vida Em 65' são apenas alguns deles. Já na obra exclusiva da Netflix, Ripoll não procura reinventar o gênero estradeiro e exibe uma “dramédia” que funciona no tom certo e convence com excelentes personagens.

Apesar de ser um road movie, Viver Duas Vezes não se passa inteiramente em solo distante. Parte do longa é rodado nas casas, apartamentos e locações iniciais, havendo um certo desalinhamento com sua proposta temática. Também é possível notar exageros nos perfis dos personagens. Por exemplo, enquanto Emilio parece viver no inteiramente no século passado — indiferente a smartphones e televisões —, sua neta, Blanca, é a pré-adolescente estereotipada que não desgruda o olho do celular e esquece que existe um mundo em sua volta. É claro que há um propósito nesses contrastes, que visa resultar em um eventual entendimento entre eles. Pitadas agridoces de drama e comédia são desmedidamente atiradas o tempo todo, mas funcionam. Mesmo sob revés, a trama sabe abordar o Alzheimer de forma coerente, sentimental e emocionante. É uma visão cheia sensibilidade sobre uma doença tão devastadora.

O elenco tem uma química incrível. Oscar Martínez, de Relatos Selvagens, está espetacular e entrega um ex-docente bronco, sistemático, rebelde, mas não desalmado. O ator consegue muito bem escalonar a evolução da doença de modo que a deixe crível e realista. Sua neta, encenada por Mafalda Carbonell, esbanja carisma e sagacidade, além de acrescentar muito na relação entre os dois, tornando esses elos muito mais cativantes. Já Inma Custa é a filha/mãe resiliente e evolutiva que precisa ajudar um pai debilitado ao passo que enfrenta uma turbulência no casamento com o seu marido, vivido por Nacho López: um esquecível coach que pouco tem a fazer na trama.

Viver Duas Vezes é uma despretensiosa produção espanhola que subutiliza clichês dos road movies e tem lá seus desproporções. Todavia, Maria Ripoll demonstra uma sensibilidade incrível com o Alzheimer e consegue despertar emoção e delicadeza, sem lançar mão de um tom cuidadoso para abordar um assunto que exige prudência. Nada disso funcionaria sem um elenco carismático que consegue nos colocar em uma verdadeira montanha-russa de emoções. Excelente pedida da Netflix para assistir com a família em uma tarde de domingo, talvez.

Este texto foi escrito por Fabrício Calixto de Oliveira via nexperts.

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