Coffee & Kareem é constrangedor do início ao fim (CRÍTICA)
O cenário de 2020 continua castigando o mundo com a pandemia do novo coronavírus e o confinamento domiciliar. Fica cada vez mais difícil encontrar motivos para sorrir em meio a tantas notícias ruins e um cenário ditado pela incerteza.
Então, por que não apostar em produções de comédia para esquecer o mundão lá fora? Coffee & Kareem, novo filme original da Netflix, é mais um título que vem confrontar o “politicamente correto” e traz todo o rol de um genuíno escatológico, amado e odiado pelo público. Todavia é possível adiantar que estamos diante de um completo nonsense, isento de qualquer autenticidade.
James Coffee é um dedicado policial de Detroit alvo de ciúmes de Kareem, filho da sua namorada. Por este motivo, o adolescente decide assustá-lo armando uma emboscada envolvendo gangsters do bairro, mas as coisas fogem do controle e o acaso acaba formando essa dupla inesperada, ao melhor estilo buddy cop movie.
O canadense Michael Dowser, de Preacher e Os Brutamontes, é quem conduz a direção do longa, mas parece não saber direito o que fez aqui.
Deixando os quesitos técnicos de lado, que ainda oferecem alguma coerência, Coffee & Kareem é uma experiência desgastante e de puro mau gosto. São 88 minutos inteiramente dedicados a palavrões gratuitos, reviravoltas estúpidas, relações exasperantes, tentativas sórdidas de fazer críticas sociais ao racismo e à masculinidade frágil, e por aí vai.
Talvez o conjunto se saísse melhor se o longa se assumisse trash, mas é notável que houve uma intenção em glamourizá-lo como comédia de primeiro linha.
Pode soar birrento avaliar a obra deste modo. Entretanto, espectadores veteranos do gênero que já puderam contemplar obras como Top Gun, Todo Mundo em Pânico, Se Beber não Case — além de algumas pérolas policiais oitentistas —, certamente sairão frustrados pela falta de criatividade e aborrecimento alheio. Sim, não se pode levar a sério sob hipótese alguma, mas tem que ter graça, certo?
Ed Helms, cujo o currículo em comédia beira o invejável, está desperdiçado em um papel tolo e abstrato. O ator de Se Beber não Case, The Office e Arrested Development encena um personagem tacanho, forçado, excessivamente hiperbólico e medíocre como um todo.
Algumas dessas atribuições podem ser feitas ao novato Terrence Little Gardenhigh, que dá vida a um Kareem limitado a papagaiar palavrões de forma ininterrupta, e é só isso mesmo, sem quaisquer camadas.
Vale ressaltar que a química entre os dois é essencialmente disfuncional e atrapalhada. Não diverte. O único rosto que se salva aqui é de Taraji P. Henson, de Empire e Estrelas Além do Tempo, que vive a mãe badass Vanessa, ostentando algumas das cenas mais divertidas (ou menos piores) do longa, sobretudo no último ato. A vilã de Betty Gilpin dá arrepios só de lembrar.
Trazendo uma premissa de buddy cop movie, ora interessante e subaproveitada, como pode ser visto, Coffee & Kareem é genérico, enfadonho e tem a capacidade de constranger do início ao fim. Não acerta nas críticas que se propõe a fazer, muito menos na escatologia, que peca na engenhosidade e descamba para a infâmia.
O isolamento social do assinante da Netflix merece coisa melhor.
Texto escrito por Fabrício Calixto de Oliveira via Nexperts.
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