Open banking: meus dados, minhas regras

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Imagem: Adobe Stock

Mais de 2 anos depois da divulgação das primeiras diretrizes para adoção do open banking no Brasil pelo nosso Banco Central, muita gente ainda não sabe do que se trata. Foi o que revelou uma pesquisa realizada pelo C6 Bank em parceria com o Ipec.

Apesar de impactar a vida de quase toda a população (e de estarmos chegando à segunda etapa de implementação), 56% dos entrevistados com acesso à internet afirmaram não conhecer o modelo e, quando apresentados a alternativas para defini-lo, 37% disse tratar-se de um novo banco digital, 23% não soube responder, 12% apontou agências bancárias abertas 24 horas por dia e (pasmem) 1% supôs ser um evento com comida e bebida liberadas.

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Não é bem por aí. Aliás, não é nada por aí. Recapitulando: o open banking é um modelo para inovar o sistema financeiro do Brasil ao permitir que bancos e prestadores de serviços compartilhem entre si dados de seus usuários, desde que estes autorizem a troca de tais informações. E por que isso é tão importante? Estamos na era da informação e, acredite, ela não só "impera como vale ouro".

Monetização de dados

O próprio presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, chegou a afirmar que a atual disputa na indústria financeira está relacionada a três fatores: conteúdo, canal de pagamento e serviços de mensageria.

Isso significa que as instituições estão criando formas de monetizar os dados que detêm — até porque, pensem comigo, esse é um ativo valioso e que, de quebra, não gera encargos. É o mesmo que acontece em redes sociais e buscadores, que usam a análise de dados para ganhar dinheiro ao apresentar ofertas personalizadas para o usuário por meio de anúncios e conteúdo patrocinado.

Porém, não precisa se desesperar achando que você vai receber um monte de banners na tela toda vez que acessar sua conta. Pelo contrário, a expectativa é que o open banking amplie a concorrência entre as instituições, incentivando a criação de novos produtos e serviços, cada vez mais customizados.

Além disso, no Brasil, ele está protegido pela Lei do Sigilo Bancário (Lei Complementar n° 105/2001) e precisa cumprir as regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Cada instituição financeira pode reforçar a proteção de dados de seus usuários diante da adoção de mecanismos de segurança, como individualizar a coleta de dados, criptografar e encriptar dados sensíveis, capturar os logs de operações e ações, entre outros.

Além disso, a experiência estrangeira, principalmente na Europa, mostra-nos que as instituições financeiras que já adotaram o sistema têm obtido enorme sucesso na implementação de soluções, e os clientes cada vez mais se conscientizam da importância de proteger seus dados e sua privacidade.

A segunda (e demais) fases

É preciso ressaltar que o open banking será implementado de forma gradual no Brasil, em 4 fases. A 2ª delas, que começa no próximo dia 15 de julho, é provavelmente a que vai trazer mais inovação aos consumidores. Isso porque as instituições poderão passar a compartilhar dados de cadastro e transações de clientes (pessoas físicas ou jurídicas)relativos a canais de atendimento e aquisição de produtos ou serviços, incluindo as transações bancárias.

Já a 3ª fase deve começar a ser implementada no final de agosto e vai permitir o compartilhamento de dados referentes a serviços de iniciação de pagamentos (transferências) via Pix. Por fim, a fase 4 deve começar em meados de dezembro e engloba o compartilhamento de dados de instituições sobre demais operações, como câmbio, investimentos, seguros e previdência. Ela foi dividida em etapas que estão divididas até o dia 30 de setembro de 2022, com o compartilhamento de débito em conta, entre outros.

As empresas que lutem

A lógica é simples: criar concorrência é empoderar os consumidores. Então, aqui quero deixar claro que o open banking não vai só forçar as instituições financeiras a se esforçarem mais para conseguir novos clientes como também para manter os antigos.

São muitas as possibilidades de uso dos dados bancários, já que, com base neles, é possível entender o comportamento de determinado perfil (seja de pessoas, seja de empresas) e apresentar-lhe melhores experiências em sua jornada de cliente. Imagine só: entender como um determinado consumidor realiza o pagamento de determinadas despesas, como a de provedoras de internet, permite que operadoras concorrentes ofereçam seus serviços com preços mais adequados à realidade do cliente.

Desde que as instituições estejam em compliance com as leis e normas previstas, o que o open banking tem a oferecer é o puro “power to the people”.

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Paulo David é fundador e CEO da Grafeno, fintech que oferece contas digitais e infraestrutura de registros eletrônicos para empresas e credores; é sócio do SPC Brasil na construção de infraestrutura para o mercado financeiro. Antes da Grafeno, fundou a Biva, primeira plataforma de empréstimos peer to peer do Brasil, que foi adquirida pela PagSeguro, empresa de meios de pagamentos. Foi superintendente do Sofisa Direto, a divisão digital do banco Sofisa. Atuou na equipe do Pinheiro Neto Advogados e na equipe da gestora de investimentos KPTL (ex-Inseed Investimentos). É investidor anjo em fintechs no Brasil e na Europa.

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