DLCs nos jogos: melhorias ou máquinas caça-níqueis?

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Call of Duty: Black Ops (Fonte da imagem: Divulgação/Activision)

Alguns anos atrás, se você dissesse a um jogador que ele precisaria pagar para adquirir uma nova espada ou uma montaria mais veloz, ele provavelmente diria: “ok, vou cortar mais mato e matar mais alguns monstros genéricos para acumular moedas de ouro [ou qualquer outro formato que representasse a moeda corrente]”.

Você, por sua vez, insistiria: “não, amigo. Trata-se de dinheiro real... De ‘faz-me rir’”. Após emitir uma sonora gargalhada, o sujeito simplesmente chegaria à conclusão bastante razoável de que você, afinal, não compreende muito bem o funcionamento de um jogo de video game. Aqui talvez caiba a pergunta: em que momento nós fomos catequizados com a ideia de que, afinal, é razoável gastar mais dinheiro por algo que, estritamente falando, já foi adquirido?

Não, não me entenda mal. Não se trata aqui de “jogar a criança com a água do banho”. DLCs (conteúdos para dowload), expansões e patches certamente representaram um marco dos mais significativos para a indústria do entretenimento eletrônico. Afinal, hoje é possível expandir a sua experiência de jogo, corrigir bugs — que antigamente acompanhariam o jogo em caráter definitivo, do lançamento à loja de usados — e adicionar algo capaz de maximizar a diversão de um título.

Naturalmente, trata-se de um recurso que tem beneficiado tanto a indústria quanto o usuário final do jogo... O problema é que nem sempre em igual medida. Sim, as possibilidades de “di$ponibilizar” conteúdos pós-lançamento trazem consigo um belo discurso vanguardista: o melhor conteúdo para o jogador!

O problema é que, do ponto de vista da indústria, a qualidade do produto final ainda é apenas um “mal necessário”. Em outras palavras, apenas uma melhoria geral da qualidade dos jogos oferecidos não seria o suficiente para garantir a continuidade do novo formato — quer dizer, a que produtora/desenvolvedora, em sã consciência, agradaria a ideia de trabalhar mais, após o lançamento, para lucrar exatamente a mesma quantia? Vale aqui se lembrar de certa armadura equina... Entre outros exemplos:

  • “Adquira aqui uma bela armadura para a sua montaria!”

Lá pelos idos de 2006, a Bethesda Game Studios resolveu tentar a sorte com o mecanismo ainda incipiente das vendas de conteúdos descarregáveis. A escolha do título foi natural: The Elder Scrolls IV: Oblivion. Eis o negócio da china: uma armadura para a sua montaria. Ou, colocado em linhas mais comercialmente atraentes, “proteja o seu cavalo do perigo com esta bela armadura artesanal”.

The Elder Scrolls IV: Oblivion (Fonte da imagem: Divulgação/Bethesda)

Bem, ocorre que, no frigir dos ovos, o adereço não significava lá grande coisa para o andamento geral do game... Entretanto, não, a Bethesda não haveria de ressarcir os US$ 2,50 (algo em torno de R$ 5) gastos em um conteúdo extra que, convenhamos, provavelmente combinaria mais com My Little Pony.

  • “Uma Lancer roxa, por favor”

Muitos tons pastel em seu Gears of War 3? Gostaria de colocar um pouco de cor para, sabe como é, animar as coisas em um mundo superlotado de Locust assassinos? Ok, a Microsoft tem a solução para os seus problemas... Por um preço, é claro. Pela bagatela de 3.600 MS Points (aproximadamente R$ 80!) você “leva” para casa um maravilhoso pacote com skins para as suas armas.

(Fonte da imagem: Divulgação/Microsoft)Embora a própria ideia de pagar semelhante absurdo por um pacote absolutamente cosmético já faça qualquer jogador com um mínimo de senso crítico levantar a sobrancelha, há ainda algo que pode ser acrescentado: não se trata de nenhuma mudança no formato da arma... É só a cor! Quer mais?

Experimente entrar em um modo multiplayer ostentando uma Lancer cor-de-rosa ou roxa — em um ambiente em que tudo compartilha tons semelhantes —, e repare quanto tempo demora até que algum inimigo perceba que você está na moda...

  • Do tempo em que zumbis eram oferecidos gratuitamente

Call of Duty: World at War possuía um modo bastante curioso — embora não propriamente inovador. Caso estivesse cansado de matar japoneses... Você poderia tentar a sorte também com alguns zumbis, sem pagar nenhum tostão adicional por isso.

E então, tem saudades dessa época? Ok, também é possível despachar alguns comedores de  cérebro no relativamente recente CoD: Black Ops. A diferença? O que antes era gratuito agora vai tornar o seu bolso US$ 15 (coisa de R$ 30) mais leve. E o mais curioso: quatro dos cinco mapas são oriundos do “modo zumbi” de World at War.

  • Avatares e jogadas marqueteiras afins

Provavelmente seria difícil imaginar um gasto mais inútil de dinheiro real em um mundo virtual. Miis, avatares e afins representam o que há de mais escancaradamente abusivo por parte da indústria de games — a prova cabal de que a boa nova anunciada pela conectividade é hoje explorada sem qualquer tipo de escrúpulo.

(Fonte da imagem: Divulgação/Microsoft)

Gastos com programação? Ah, faça-me um favor! Quanto tempo a equipe de design da Microsoft poderia demorar para colocar um novo penteado para a sua cópia virtual rechonchuda? Além disso, não seria simplesmente aceitável distribuir itens semelhantes gratuitamente para usuários que já gastam fortunas apenas para poder jogar online? Enfim.

Nós estamos nos acostumando com a ideia de pagar mais?

Sim, é verdade que o descaramento da Bethesda com a armadura “artesanal” para cavalos foi imediatamente percebido pelos jogadores da época. O problema é que, ao que parece, medidas semelhantes tem causado cada vez menos espanto entre os jogadores.

(Fonte da imagem: Divulgação/Namco)De fato, nos sentimos hoje cada vez mais confortáveis ao comprar dinheiro falso em The Godfather, ou em trocar dólares por níveis em Tales of Vesperia. Mesmo a tradicionalista Nintendo finalmente resolveu entrar na dança. Trata-se de um formato que, para o bem ou para o mal, parece ter vindo para ficar.

Entretanto, fica a dúvida, sobretudo no caso de DLCs: nós estamos mesmo expandindo a experiência daquele título favorito, ou serão os nossos jogos de hoje construídos em prestações cada vez mais onerosas? Caso você defenda com unhas e dentes a primeira opção, eu tenho aqui uma fabulosa espada mágica +10 que gostaria de lhe vender por alguns reais... Uma verdadeira pechincha, eu garanto.

Via BJ

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