Entenda por que a Samsung não é mais responsável pela linha Nexus da Google

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Nexus 10 da Samsung (Fonte da imagem: Divulgação/Google)

No dia 9 de agosto, a Google revelou ao mundo que a ASUS vai ser a responsável pela produção da nova versão do tablet Nexus 10, até então fabricado pela Samsung. A notícia não chegou a causar espanto, visto a popularidade obtida pelo Nexus 7, produto que combinava hardware potente com preço acessível.

Porém, é preciso notar que a decisão da Gigante das Buscas não se deve meramente ao histórico entre as empresas ou à oferta de preços feita pela ASUS. A mudança tem como objetivo não só renovar a imagem pública do produto como assegurar a manutenção do mercado de dispositivos Android como o conhecemos.

Neste artigo, explicamos por que a decisão da Google pode servir como uma forma de equilibrar o mercado e assegurar a sobrevivência de uma divisão importante da empresa. Confira nossas explicações e, após finalizar a leitura, não se esqueça de deixar sua opinião sobre o assunto em nossa seção de comentários.

Preservando a competitividade

Durante o primeiro trimestre fiscal de 2013, 95% do lucro de US$ 5,3 bilhões obtido pelo mercado de smartphones Android foi para os cofres da Samsung, segundo dados da Strategy Analitcs. Em segundo lugar aparece a LG, com uma participação de mercado de 2,5%, enquanto as demais fabricantes somadas dividem o resto desse dinheiro.

(Fonte da imagem: Reprodução/VentureBeat)
Embora isso seja excelente para a fabricante sul-coreana, essa disparidade entre ela e outras empresas não é algo atrativo para a Google. Isso porque, na visão da desenvolvedora do sistema operacional portátil, não é interessante que uma única companhia (que não seja ela) tenha controle sobre o mercado.

O domínio que a Samsung exerce sobre o mundo Android, que até o momento não é rivalizado por qualquer empresa, dá a ela um imenso poder de barganha. Dominando 50% do tráfego de informações que passam pela plataforma, é estranho que até o momento a companhia não tenha tomado a iniciativa de requerer uma participação nos lucros que a Google ganha com anúncios publicitários no meio mobile.

Caso isso ocorra, dificilmente a Gigante das Buscas terá escolha a não ser ceder parte de seus lucros para a companhia sul-coreana. Afinal, ou ela faz isso ou se verá sem uma representante de peso capaz de manter viva a popularidade de sua plataforma portátil — algo que nem mesmo todas as demais fabricantes somadas conseguiriam compensar facilmente neste momento.

(Fonte da imagem: Reprodução/The Wall Street Journal)

“A Samsung possui um poder de mercado forte e pode usar sua posição para influenciar a direção futura do ecossistema Android”, afirma o analista Neil Mawston. “Por exemplo, ela pode exigir receber atualizações exclusivas ou requisitar que novas versões do Android sejam liberadas para ela antes que outros vendedores de hardware a recebam”.

Sinais ameaçadores

Embora não tenha agido de forma direta no que diz respeito a abocanhar parte do lucro que a Google tem com publicidade, a Samsung está bastante ciente do poder que tem no momento. Prova disso é o fato de a empresa estar investindo cada vez mais no desenvolvimento de um sistema proprietário de vendas de aplicativos, conhecido como “Samsung Recommends”.

Embora esse serviço ainda funcione de forma discreta, não é impossível imaginar um futuro próximo no qual ele rivalize o Google Play. Mesmo que atualmente poucos aplicativos estejam disponíveis na loja online, a influência (e o poder monetário) da empresa pode servir como incentivo para que mais desenvolvedores decidam disponibilizar seus softwares por lá.

(Fonte da imagem: Divulgação/Samsung)

Outro ponto que deixa evidente o fato de que a Samsung quer criar uma imagem própria desassociada do Android “puro” é o grande investimento que ela dá a funções e interfaces proprietárias. O maior exemplo disso é o Galaxy S4, que possui tantos programas e funções únicas que a experiência de uso fornecida pelo aparelho se mostra completamente diferente daquela proporcionada pela versão básica do sistema operacional.

Diante desse cenário, é normal que a Google queira se distanciar da fabricante sul-coreana, priorizando empresas que podem assegurar uma maior competitividade ao mercado. Além de ter feito a parceria com a ASUS, a companhia pretende investir US$ 500 milhões na promoção do Moto X como forma de assegurar o sucesso do smartphone entre os consumidores — algo que, se der certo, pode ajudar a diminuir a influência da Samsung sobre esse mercado.

Samsung: em busca de um caminho individual

Ao deixar grande parte do mercado Android nas mãos da Samsung, a Google corre o risco de ver uma fatia de seu mercado consumidor desaparecer de um dia para outro. Isso porque, frente ao público em geral, o nome “Galaxy S” carrega em si muito mais peso do que o próprio sistema operacional que acompanha os aparelhos pertencentes a esta linha.

Esse “golpe” pode acontecer de diversas formas, sendo que a mais evidente delas responde pelo nome “Tizen”. Desenvolvido em parceria com a Intel, a nova plataforma mobile baseada no Linux deve fazer sua estreia em questão de pouco tempo em alguns aparelhos da companhia sul-coreana.

(Fonte da imagem: Reprodução/Tizen Project)

Embora a empresa tenha falhado em chamar a atenção do público com o Bada OS, a aposta no Tizen mostra que ela está tentando abandonar as amarras impostas pela Google. Afinal, ao controlar o sistema operacional que acompanha seus aparelhos, a Samsung também tem a chance de lucrar com todas as transações feitas por seus usuários sem ter que dar nenhuma fatia de seus ganhos a outras organizações.

Caso a aposta da empresa em sua nova plataforma não renda os frutos esperados, ela também pode decidir seguir um rumo semelhante ao da Amazon. Embora ainda utilize o Android como uma base para seus produtos, a companhia de Jeff Bezos modificou o software a ponto de ele se tornar um produto completamente diferente e que possui um ecossistema de aplicativos próprio que não depende da Google Play para sobreviver.

Caso a Samsung decida seguir o mesmo caminho, isso pode significar um grande problema para a Google, que veria seus planos de dominar o mercado mobile ir por água abaixo. Não só ela perderia grande parte de seus consumidores, como se veria forçada a lidar com um adversário com um poder comercial imenso.

Os méritos da ASUS

Apesar de o poder exagerado que a Samsung tem sobre o mercado Android ser um dos principais motivos pelos quais ela não é mais responsável pelo Nexus 10, não é possível deixar de lado os méritos da ASUS. Como já mencionamos anteriormente, a empresa conseguiu fazer um ótimo trabalho com o Nexus 7, dispositivo que não só possui um hardware relativamente poderoso, como também apresenta um preço de venda bastante atraente.

Nexus 7 da ASUS (Fonte da imagem: Divulgação/Google)

Caso a empresa consiga combinar novamente esses dois elementos, a nova versão do tablet que está sob sua responsabilidade tem tudo para ser um sucesso. Quando se leva em consideração que a companhia decidiu abandonar recentemente o desenvolvimento de produtos com o Windows RT, isso significa que ela atualmente conta com energia de sobra para gastar no desenvolvimento do novo produto.

Conhecida principalmente pelas suas placas-mães e componentes para computadores, a ASUS tem diversificado suas atividades nos últimos anos. Além de fabricar produtos para outras companhias, a organização vem apostando cada vez mais em gadgets que carregam sua marca própria, em uma lista que incluiu dispositivos como o Nexus 7 e o FonePad.

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