Por que não existe um 'smartphone perfeito'?

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Uma das perguntas que mais nos enviam aqui no TecMundo é: por que nenhuma empresa fabrica o “smartphone perfeito”, um celular com tudo do bom e do melhor? Esse aparelho teria o processador mais poderoso, as memórias mais rápidas que existem, a tela com mais resolução, com as melhores cores e taxa de atualização elevada, as câmeras mais variadas e de melhor qualidade, uma bateria gigantesca e com carregamento super-rápido e por aí vai.

Uma resposta considerada óbvia para essa questão é que um dispositivo desse calibre custaria caro demais e ninguém seria maluco o suficiente para comprar, mas a realidade não é tão simples assim. De fato, o fator do custo existe e é importante. Não adianta muito uma empresa investir milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento – e mais outros tantos na compra de componentes, montagem e distribuição – se o aparelho acabar custando tão caro que só uma quantidade ínfima de pessoas teria dinheiro para comprar.

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Ainda assim, se um estudo fosse feito e constatasse que a receita das vendas poderia pelo menos igualar esses custos todos, o empreendimento talvez até valesse a pena para garantir o status de ser “a empresa que faz o celular mais poderoso e perfeito do mundo”. Então por que ninguém faz?

Falta espaço

Um grande problema na hora de criar o “smartphone perfeito” é a limitação de espaço físico. Se você vai simplesmente colocando tudo o que quiser lá dentro, vai precisar que o smartphone tenha 7 polegadas na diagonal, mais de 1 cm de espessura e seja muito, mas muito pesado – isso tudo apenas para que os componentes caibam lá dentro. Viraria um verdadeiro tijolo, o que não seria nada prático de carregar por aí.

Relacionado a isso está o fato de que certas especificações estão diretamente conectadas a outras, ainda que essa ligação não seja imediatamente óbvia. Dessa forma, escolher incluir algo em um celular acaba forçando a adição de mais alguma outra coisa que toma ainda mais espaço. Surge aí uma bola de neve que acaba impedindo a inclusão de outros elementos que seriam considerados ideais, mas que acabam não cabendo em algo que não seja um bloco massivo.

Montando o “smartphone perfeito”

Para ilustrar um pouco melhor, vamos fazer um exercício de imaginação e pensar em como seria o “smartphone perfeito” com as tecnologias de hoje – e é importante ressaltar que estamos em abril de 2020 devido à velocidade da evolução tecnológica. Um exemplo é este nosso artigo de 2012 imaginando como seria o celular ideal, e o resultado chega a soar engraçado hoje em dia porque não seria bom nem para um dispositivo de entrada atual dos mais básicos. Similarmente, uma pesquisa feita na China ano passado pediu que os participantes votassem nas especificações que queriam ver no aparelho perfeito.

Dito isso, vamos montar o nosso monstrinho. Primeiro, é importante que o software seja bem otimizado, mas no fim das contas isso vai depender do gosto de cada um. Nesse caso, imaginamos que existe uma versão do nosso smartphone que foi feita por cada fabricante, e você pode escolher o modelo que preferir. Pode ser com o iOS da Apple, o Android direto da Google ou a interface da Samsung, Motorola, LG, ASUS, Xiaomi... enfim, o que você quiser.

A tela teria que ser uma variação de OLED ou AMOLED com suporte a HDR10+, além das melhores cores e o brilho mais intenso, uma taxa de atualização de 120 Hz e leitura de toques em 240 Hz para mais fluidez e o melhor resultado no games. A resolução seria a maior possível que já vimos em um smartphone, o que quer dizer 4K. Tudo isso sem qualquer notch ou furo para dar uma experiência mais imersiva. Escolhemos 6,4 polegadas para o tamanho do display porque, se o celular for quase sem bordas – e o nosso seria –, isso basta para uma ótima experiência multimídia sem tornar o aparelho muito grande. Pode imaginá-lo mais compacto, caso prefira.

O processador seria o A13 Bionic na versão da Apple e o Snapdragon 865 nas demais, acompanhado por 16 GB de RAM LPDDR5 e por 1 TB de armazenamento UFS3.0, tudo isso para garantir o desempenho mais incrível possível. Incluímos ainda um slot microSD para quem achar que 1 TB é pouco. Na conectividade, o aparelho deve ser compatível com o WiFi 6 e contar com as melhores antenas possíveis, ter acesso a redes 4G e 5G tanto no padrão mmWave, de maior capacidade, quanto no Sub-6 GHz, que tem mais alcance. Bluetooth e NFC também são obrigatórios para o uso de qualquer acessório com facilidade.

Câmeras, bateria e extras

Para garantir que as selfies vão mostrar até os seus poros se você quiser, a câmera frontal deve ter 48 MP, uma boa abertura e vir acompanhada por um sensor Time of Flight para acertar sem falhas a profundidade dos retratos. Flash frontal não é necessário porque a tela já serve bem essa função. Como não pode haver notch ou furo e a tecnologia de câmera sob a tela ainda não permite a qualidade que desejamos, o conjunto precisa estar em um sistema motorizado que abre quanto você ativa a câmera. A durabilidade sobre ser uma preocupação nesse caso, mas por enquanto não sabemos de grandes problemas com aparelhos que apostaram nisso.

Na traseira, buscamos os maiores sensores possíveis e tudo o que há de melhor para cada situação, então a lente principal teria 108 MP com sistema de juntar 9 pontos em 1 para melhorar exposição, mas que permita usar a resolução máxima quando você quiser e faça vídeos em 8K. Uma ultrawide de 48 MP para as melhores fotos de paisagens, monumentos e grupos grandes de pessoas. Um sistema periscópico também de 48 MP para fotos com zoom de até 100x. Um Time of Flight para deixar os retratos perfeitos, uma macro de 12 MP e um flash dos bons.

Para alimentar esse monstrinho, vamos colocar a maior bateria que lembramos de ter visto em um top de linha, que é de 6.000 mAh. Ela deve ter suporte a carregamento ultrarrápido de pelo menos 45W e a recarga wireless de 30W – e com isso dá para fazer recarga reversa também. Como extra, o dispositivo teria dois speakers frontais daqueles que ficam espremidos na borda de cima e de baixo para não as deixar muito grossas, um conector P2 com Quad DAC para agradar os audiófilos, certificação IP68 de resistência à água e a proteção do Gorilla Glass 6.

Especificações do “smartphone perfeito”

  • Software: o seu favorito!
  • Tela: AMOLED de 6,4 polegadas 4K e 120 Hz (sem notch ou furo)
  • Processador: A13 Bionic ou Snapdragon 865
  • RAM: 16 GB LPDDR5
  • Armazenamento: 1 TB UFS 3.0 + slot microSD
  • Conectividade: WiFi 6 + 4G + 5G (mmwave + sub-6 GHz) + Bluetooth 5.0 + NFC
  • Câmeras frontais: slider 48 MP com f/1.7 + sensor ToFCâmeras traseiras: principal de 108 MP com f/1.7, OIS, dual-PDAF e AF laser + ultrawide 120º de 48 MP com f/2.0 + periscópica de 48 MP com f/3.4, zoom híbrido de 100x e OIS + Macro de 12 MP + ToF + flash true-tone quad-LED
  • Bateria: 6.000 mAh com carregamento de 45W + recarga wireless de 30W
  • Extras: áudio estéreo frontal, conector P2 com Quad DAC, IP68, Gorilla Glass 6

Bola de neve em formação

Baita fera que criamos, certo? Agora, vamos explicar algumas daquelas interconexões que mencionamos. Mais do que o tamanho, a resolução da tela impacta diretamente a quantidade de energia que ela consome. Uma resolução 4K por conta própria já quer dizer que o aparelho tem muitos pixels para acender e apagar, e com a taxa de 120 Hz isso significa que i display vai consumir energia com o dobro de velocidade que um aparelho padrão teria na mesma qualidade de imagem. Só com isso, a bateria gigantesca já se tornou obrigatória.

Para que a tela não tenha notch ou furo, tivemos que colocar os sensores frontais em um mecanismo, o que vai ocupar um espaço considerável na parte superior do aparelho. Some a isso os sensores gigantescos e variados que colocamos na traseira. Dessa forma, como a bateria não tem como ser grande para cima, ela precisa ser mais grossa, o que já vai fazendo voltarmos para aquele problema de transformar o aparelho em um tijolo.

O suporte à recarga ultrarrápida exige que a química da bateria seja melhor trabalhada e mais barreiras de proteção sejam inseridas entre as células dela, o que aumenta ainda mais seu tamanho – e para ter a recarga rápida sem fios, acrescenta-se um sistema de bobinas que também torna o conjunto mais espesso. Sem pensar em mais nada, imaginamos que isso já nos forçaria a ou aumentar a altura e a largura do celular, transformando-o quase em um tablet, ou a passar de um centímetro de espessura. Talvez as duas coisas.

Mas isso não é tudo. Lembra do hardware superpoderoso, com as melhores memórias, as câmeras mais potentes, a tela de primeira linha e a conectividade mais avançada? Tudo isso vai fazer o celular trabalhar com bastante energia de uma vez só, e por mais que ele tenha capacidade para aguentar o tranco, isso vai gerar muito calor. Para evitar danos por superaquecimento, ou coisa pior, precisaríamos inserir um sistema de resfriamento por câmera de vapor, o que significa projetar espaços para tubos em pontos estratégicos e tudo mais. O resultado é mais espaço necessário – e a mesma coisa vale para que o aparelho tenha os alto-falantes frontais e o conector pra fones de ouvido.

Por fim, temos ainda que gastar mais dinheiro para vedar tudo contra água e poeira – inclusive a parte do motor das câmeras de selfie –, e para pagar a certificação IP e o uso da tecnologia Gorilla Glass. Isso não impacta muito o espaço interno usado, mas afeta bastante o preço final.

Um quebra-cabeças impossível

Resumindo de uma forma simplificada, produzir o smartphone perfeito com as tecnologias de hoje é como montar um quebra-cabeça impossível. Mesmo que você consiga o milagre de encaixar todas as peças, o resultado será um Frankenstein massivo que pouca gente gostaria de levar por aí, e que mesmo quem curtiria provavelmente não teria dinheiro suficiente para pagar.

Existem tecnologias em desenvolvimento que vão ajudar a levar o mercado um pouco mais perto do “ideal” que estabelecemos agora. Esse parece ser o caso do grafeno, por exemplo, que deve permitir baterias com muito mais capacidade e velocidade de recarga sem exigir tanto espaço. Ainda assim, essa não é uma tecnologia que já está pronta para uso em dispositivos com produção em massa.

Seja como for, o fato é que a tecnologia vai continuar evoluindo, então por mais que o nosso “smartphone perfeito” não seja viável hoje, talvez daqui a alguns anos ele se torne o padrão – e aí o conceito do que seria o aparelho ideal também vai mudar. Para acompanhar todas essas evoluções, continue ligado aqui no TecMundo.

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