Uma teoria apresentada por astrofísicos da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, pode explicar a razão de o Universo não ter se aniquilado pouco depois do Big Bang – evento que, segundo o consenso atual entre os cientistas, teria dado origem ao cosmos e, eventualmente, a tudo o que existe nele –, além de ajudar a responder um dos maiores mistérios da cosmologia.
Paradoxo
De acordo com a teoria, logo após o Big Bang, o Universo sofreu uma dramática expansão e esse processo levou à transformação de energia em matéria. No entanto, segundo acreditam os cientistas, a mesma quantidade de matéria e antimatéria teria se formado nessa fase da evolução do cosmos e, como você deve saber, as duas se destroem mutuamente quando se encontram.
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Isso significa que, há bilhões e bilhões anos, quando o Universo ainda era um bebê, a matéria e a antimatéria deveriam ter desaparecido – antes de que galáxias, estrelas, planetas e tudo mais que existe no cosmos surgirem. Aliás, seguindo esse mesmo raciocínio, o próprio espaço deveria ter entrado em colapso e se aniquilado.
Só que não foi isso o que aconteceu, obviamente, uma vez que o Universo abriga uma quantidade absurda de corpos – incluindo nós, humanos! – e, apesar de a antimatéria estar presente no cosmos, até onde se sabe, existe muitíssimo mais matéria convencional. Mas, por quê? E mais: o que provocou esse desequilíbrio entre as duas e onde a antimatéria que havia foi parar, se não topou com a matéria e se aniquilou com ela?
Filamentos
A matéria e a antimatéria se destroem mutuamente porque, apesar de serem idênticas, elas possuem cargas elétricas opostas. O mesmo pode ser dito a respeito de outras partículas fundamentais descritas no Modelo Padrão, como é o caso dos pares (ou seria melhor chamá-los de “antipares”?) elétron/pósitron e próton/antipróton, por exemplo. Mas também existem partículas com carga neutra que, de acordo com as teorias – e dependendo das condições –, poderiam se comportar como suas próprias antipartículas.
Um exemplo são os neutrinos, partículas descritas teoricamente pelo físico austríaco Wolfgang Pauli na década de 30 e observadas diretamente nos anos 50 por meio do Experimento Cowan-Reines. Pois os astrofísicos acreditam que os neutrinos podem ter tido algo a ver com o mistério sobre a diferença entre a quantidade de matéria e antimatéria no Universo.
Segundo propõe o time, alguns milhões de anos após o Big Bang, o cosmos sofreu um forte resfriamento e passou pelo que os cientistas chamam de “Fase de Transição” – algo parecido com o que ocorre quando a água congela e passa do estado líquido para o sólido. Acontece que algumas partículas, quando são submetidas a determinadas temperaturas, mudam de comportamento, e o que os astrofísicos sugerem é que essa fase de transição fez com que surgissem tubos feitos de campos magnéticos ou filamentos cósmicos. Aproveitando a analogia do congelamento da água, pense nas fissuras que aparecem no gelo em determinadas situações. Bem, algo assim.
Conforme defendem algumas teorias, esses filamentos permeiam o cosmos – e são parte integrante da Teoria das Cordas –, e os astrofísicos pensam que foram eles, juntamente com o resfriamento que aconteceu durante a fase de transição, o que levou os neutrinos a mudarem de comportamento, adotarem carga positiva e se “bandearem” para o lado da matéria, deixando a antimatéria em desvantagem.
Desafio cósmico
A dificuldade é que, para provar que a teoria está certa, os pesquisadores teriam que demonstrá-la, e os observatórios e telescópios espaciais em uso hoje só permitem que os cientistas consigam “bisbilhotar” o passado do Universo até determinado ponto. Entretanto, o time acredita que os filamentos criados durante a fase de transição criaram pequenas ondulações no tecido-espaço tempo e, se eles estiverem corretos, pode ser que eles encontrem uma maneira de detectá-las.
Na realidade, os astrofísicos acreditam que as perturbações serão incrivelmente discretas, mas pode ser que a tecnologia usada atualmente para detectar as ondas gravitacionais – que se formam quando ocorre o choque entre estrelas massivas ou a fusão de buracos negros, por exemplo – possa ser aprimorada para identificar as ondulações deixadas pelos filamentos. Além disso, existem diversos observatórios, telescópios e outros equipamentos em desenvolvimento que logo entrarão em atividade e, quem sabe, ser usados na busca das ondinhas. E se elas forem mesmo descobertas, os astrofísicos terão encontrado a resposta para um dos maiores mistérios da cosmologia e poderão focar em desvendar outros.
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