Crítica: Novo Homem-Aranha leva 'Sessão da Tarde' para os filmes Marvel

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O Amigo da Vizinhança finalmente está totalmente integrado ao universo cinematográfico Marvel (ou Marvel Cinematic Universe — MCU). “Homem-Aranha: Volta ao Lar” estreia nesta semana no circuito brasileiro e reinicia a trajetória de Peter Parker nas telonas. O aracnídeo promove uma aventura leve e divertida, uma verdadeira “Sessão da Tarde” para toda a família, cortesia da parceria entre Sony/Columbia e Marvel Studios.

Aventura mostra os primeiros dias de Peter como um vigilante e aspirante a Vingador

A trama reúne elementos dos filmes dos Vingadores — desde a invasão alienígena em Nova York, passando pelos Tratados de Sokovia de “A Era de Ultron”, até “Capitão América: Guerra Civil” — e mostra o Homem-Aranha (Tom Holland) nos seus primeiros dias como vigilante, tentando impressionar o Homem de Ferro/Tony Stark (Robert Downey Jr.) para integrar a equipe dos Maiores Heróis da Terra.

Enquanto se esforça para esconder seu segredo da bela Tia May (Marisa Tomei), Peter precisa enfrentar a ameaça emergente do Abutre (Michael Keaton), tirar boas notas no colégio e ainda conquistar o coração de seu crush, Liz (Laura Harrier).

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O melhor Homem-Aranha

Estamos falando do mais interessante aracnídeo dos cinemas. Tudo bem que Tobey Maguire fez um excelente Peter Parker e Andrew Garfield era divertido como Homem-Aranha, mas essa versão ainda não consome seu lado trágico nem é o experiente herói das revistas. O personagem de Tom Holland é mais “pé no chão”, um típico adolescente new yorker do Queens.

Versão é muito fiel aos primeiros dias do herói nos quadrinhos: nerd outsider e gênio escolar que sofre bullying no colégio 

Essa é uma decisão acertada; afinal, o personagem é tão querido por todos justamente porque é palpável: ele mora com a tia, sofre bullying no colégio, não consegue ficar com a gatinha popular, é pobre e salva todo mundo sem que ninguém possa saber. Ele é o nerd outsider, o gênio escolar do início de suas histórias nos quadrinhos e alguém que poderia estrelar qualquer um dos filmes de John Hughes nos anos 80.

Somado a tudo isso, ele tem uma motivação bem diferente do que a culpa “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, que o assombra em todas as suas adaptações: o fato de ele querer ser um Vingador muda tudo e deixa toda a experiência mais ensolarada. Aqui ele encarna o Peter “bipolar”, que é mais contido quando está com a cara nos livros, mas que se torna desinibido e aventureiro, livre, ao colocar a máscara.

Alta tecnologia e nerdices

Como é de praxe em todas as histórias do Homem-Aranha, ciência e tecnologia são itens constantes na aventura. Todas as armas e os aparatos dos vilões, especialmente do Abutre e de Shocker (Bokeem Woodbine), envolvem invenção e ficção científica.

O traje de Peter — cortesia das indústrias Stark — é cheio de truques e em boa parte da projeção é possível ver muitas dessas surpresas. A faceta nerdy da história também aparece nas sessões de laboratório e em uma competição matemática, entre outras passagens.

Coadjuvantes fazem a festa

Se Tom Holland por si só é uma atração como o Homem-Aranha, seus colegas de elenco também dão um show à parte. A já citada Tia May representa a família que o personagem sempre prezou e deixa para trás aquela imagem ultrapassada de uma velhinha inocente que fica impassível em seu apezinho. Seu melhor amigo, Ned Leeds (Jacob Batalon), funciona como um constante alívio cômico e é mais um “olhar humano” — a nossa visão — sobre todo esse universo heróico.

Tony Stark (Robert Downey Jr.) não rouba tanta atenção como muita gente pensava que ele iria

Muitos achavam que Tony Stark roubaria atenção demasiada, mas ele aparece somente quando é realmente necessário e oferece um bom contraste entre experiência e o aprendizado de Peter. Happy Hogan (Jon Favreau, diretor do primeiro Homem de Ferro e um dos responsáveis pela criação do MCU) garante momentos hilários.

Momentos entre Peter Parker e Happy Hogan são hilários

Pena que Michelle (Zendaya) não tenha mais tempo em cena, assim como Flash Thompson (Tony Revolori), pois as sequências desconcertantes que eles provocam ajudam a definir melhor a dualidade da personalidade de Peter/Aranha.

Um grande vilão

O Abutre de Michael Keaton talvez seja — juntamente ou até superior ao Loki de Tom Hiddleston — o melhor antagonista do MCU até o momento. Ele é bem construído e é resultado do próprio meio em que esse universo se tornou desde o primeiro Vingadores.

Em certo momento, é até possível sentir certa empatia pelo Abutre de Michael Keaton

Suas motivações são verossímeis, assim como seus atos e progressão. Vale destacar que a galeria de vilões do Homem-Aranha é tão trágica quanto o protagonista — e o fato de o Amigo da Vizinhança não se corromper, como acontece com seus oponentes — faz com que o herói brilhe mais ainda.

Em certo momento é possível até mesmo ter empatia pelo Abutre e suas prerrogativas, o que o torna um adversário ainda mais perigoso. E grande parte da culpa disso é a atuação de Keaton.

Muitos easter eggs

Do começo ao fim do filme é possível identificar inúmeras homenagens à Casa das Ideias e à cultura pop. Da visão mais mundana sobre o universo dos heróis em “Marvels”, de Kurt Busiek e Alex Ross, passando pelo título “Damage Control”, uma agência de controle de danos causados por brigas entre superseres, até zoeiras com a DC Comics e referências a John Hughes, “De Volta ao Lar” é um prato cheio para os fãs mais devotados.

O título "Damage Control", da Marvel Comics, é um dos easter eggs no longa

Além de duas cenas pós-créditos, muita gente vai notar que durante a própria história principal há vários ganchos a serem explorados, incluindo um bem discreto, que de certa forma confirma a presença de outro aracnídeo no MCU. Antes de ser acusado de cometer um spoiler, já adianto que isso é difícil de identificar e os leitores das revistas da linha Ultimate — extinto mundo paralelo da Marvel Comics — é que vão notar com mais facilidade.

Mas vale a pena?

O CEO do Marvel Studios, Kevin Feige, já havia adiantado que o diretor Jon Watts criaria algo como um “coming of an age movie”, ou seja, um filme que acompanha a evolução de um protagonista, da juventude à idade adulta — assim como a série “Anos Incríveis” ou a franquia “Harry Potter”, nas quais muita gente cresce junto com os atores e os personagens. E é isso que acontece aqui, “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” nasceu para ser um 8 e não um 10, porque o melhor claramente está por vir.

Esse é o começo da jornada, quando Peter Parker e seu alter-ego erram muito e precisam, mais do que nunca, do lado humano da história, da parte falível do herói. E isso é deliciosamente divertido, como as “Sessões da Tarde” — os “Ferris Buellers” e “Garotas de Rosa Shocking” — que marcaram a adolescência de muita gente. É um grande retorno. Bem-vindo ao lar, Amigo da Vizinhança.

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