Crítica: “O Círculo” é uma analogia fraca ao Facebook e seus perigos

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As redes sociais mudaram o mundo de tal forma que as pessoas trocaram seus círculos sociais na vida real pelos clubinhos online. A praticidade tomou a vez da intimidade, a popularidade se tornou mais importante do que a verdade, e o sentimentalismo foi substituído pela frieza das interfaces digitais.

Isso não é novidade: há inúmeros artigos, livros, quadrinhos e filmes que apresentam críticas pesadas a essa mudança abrupta na vida das pessoas. Assim, pegando carona nessa onda e exagerando um pouco no tom da tecnologia, o escritor Dave Eggers resolveu relatar a sua versão sobre uma rede social perigosa.

O autor, conhecido por obras como “Os Monstros” e “Um Holograma para o Rei” (que serviram de base para os filmes “Onde Vivem os Montros” e “Negócio das Arábias”), apresenta aqui uma história um tanto óbvia, mas talvez bastante pontual para o momento em que o Facebook comemora a marca de 2 bilhões de usuários.

Em “O Círculo”, Eggers divide a escrita do roteiro com James Ponsoldt (esse que também assume o comando do filme na cadeira de diretor) e, juntos, contam a história de Mae (Emma Watson), que larga seu emprego medíocre para trabalhar na maior empresa de tecnologia do mundo: O Círculo (sim, a empresa dá nome à rede social e também ao filme).

A organização fundada por Eamon Bailey (Tom Hanks) já conquistou milhões de pessoas, mas está prestes a mudar tudo mais uma vez com um novo produto: o SeeChange, uma pequena câmera que permite aos usuários compartilhar detalhes de suas vidas com o mundo. Sim, existe aqui também uma crítica aos youtubers e à galerinha que está usando e abusando das lives no Facebook.

Apesar de entrar como estagiária, Mae logo vê uma oportunidade de crescer na companhia ao ser pioneira nos testes com o SeeChange. Em questão de dias, ela começa a documentar sua vida em tempo integral. Só que essa mudança em seu cotidiano pode ser perigosa, tanto para ela quanto para todos ao seu redor.

Isso é tão Facebook!

Quem vê o trailer de “O Círculo” logo faz uma comparação automática com a dominância da famosa rede social de Mark Zuckerberg e pensa em todas as questões que o filme pode abordar enquanto uma crítica às redes sociais. A contemporaneidade do tema é ideal para conversar com um público que vive conectado e que não vê problema nesse mundo virtual.

Todavia, o tropeço inicial nessa proposta é não conseguir desenvolver mais do que isso, o que pode cansar o público já nos primeiros minutos da trama. A demora em engatar no script principal também é um pouco prejudicial; além disso, a falta de novidades que mostrem mais do que o trailer exibiu impede que o filme decole em um drone cheio de ficção e imaginação.

Falando no elenco, é normal que esse filme atraia alguma atenção por conta de nomes como Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Bill Paxton e mais um ou outro perfil famoso. Acontece que só carinhas conhecidas não são capazes de manter uma história convincente ou atrativa por muito tempo.

Em um mundo em que todos usam o jargão “Isso é tão Black Mirror”, a obra estrelada por Emma Watson chega como um grande “Isso é tão Facebook”

Quer dizer, colocar Tom Hanks no papel de um CEO de uma rede social não é lá uma grande utilidade para o talento do astro, que já ganhou inúmeros prêmios. Além disso, o mau aproveitamento de Watson no papel principal só mostra que o filme realmente tem pouco a entregar com seus personagens parcamente desenvolvidos.

Youtuber da vida real

A sacada de pender o roteiro para o lado da onda de vídeos na internet talvez seja o viés mais relevante e interessante do filme. Contudo, ainda não é uma grande inovação, pois já vimos outras obras similares tratando de reality shows e diversas situações em que a pessoa tem sua vida exposta no mundo online.

É claro que a gente nem precisava de uma sinopse para saber que, de alguma forma, isso poderia “acabar em choro”. Só que o problema é a forma como o roteiro de “O Círculo” trata do tema. É tudo tão superficial, que o público nem se importa tanto com o desenrolar da coisa. Falta suspense, falta drama, falta coerência.

Talvez, o grande êxito nessa parte seja o futuro utópico da coisa, com tecnologias que realmente impressionam. A qualidade de imagem, os dispositivos avançados, os softwares com performance excepcional e todo esse background para a construção da rede social e do novo recurso de transmissão são os acertos de “O Círculo”.

No entanto, nem mesmo quando a produção acerta em algo, temos uma construção totalmente positiva. Há boas sacadas para muitas tecnologias, porém a forma como o filme mostra o feedback dos usuários da rede é simplesmente cansativa. São tantas caixinhas de comentários pulando na tela durante as cenas, que isso atrapalha bastante. É difícil fugir do óbvio, mas talvez o exagero nesse ponto é que acaba sendo prejudicial.

Vale a pena?

É muito difícil um filme sobre tecnologia conseguir agradar ao público, ainda mais quando essa obra não é capaz de fugir do óbvio ou apresentar novidades que deixam a plateia instigada por mais desse universo fictício.

Pois bem, “O Círculo” sofre de todos esses males e ainda tropeça de forma grave em algumas incoerências — não vem ao caso dar spoilers, mas é difícil de engolir alguns argumentos preguiçosos do roteiro.

Mesmo com um elenco de famosos e uma ou outra boa ideia, o título simplesmente é cansativo e pouco interessante, ainda mais que a crítica apresentada é pouco construtiva, isso para não dizer que é talvez confusa e sem propósito.

Enfim, se você ainda faz questão de ver “O Círculo” nos cinemas, é recomendado ir com as expectativas baixas, pois ele certamente não merece muitos likes.

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