Ciência

Tela flexível ultrafina pode ficar de qualquer cor e ser usada como roupa

Desenvolvida por um grupo de cientistas de uma universidade dos EUA, a tecnologia pode revolucionar não somente o mercado de displays, mas também as camuflagens e itens de vestimenta

Avatar do(a) autor(a): Leonardo Rocha

25/06/2015, às 09:07

Basta lembrarmos das vestimentas especiais usadas pelo personagem Old Snake em Metal Gear Solid 4, jogo lançado em 2008, para termos ideia que não é de hoje que imaginamos um material capaz de mudar de cor e ao mesmo tempo permanecer flexível o suficiente para servir de roupa. Uma tecnologia dessas seria útil não somente para soldados que precisam alterar sua camuflagem, mas também para pessoas que desejam se manter sempre com um estilo único.

Agora, uma invenção de uma equipe de pesquisadores da University of Central Florida pode permitir que essa possibilidade esteja mais perto de se tornar algo real. Liderado por Debashis Chanda, o time desenvolveu uma nova técnica para criar o primeiro display reflexivo totalmente colorido, ultrafino e flexível.

undefinedChanda demonstrou as capacidades do material recriando uma famosa foto do National Geographic

Os estudiosos conseguem mudar a cor da superfície com alteração de uma voltagem aplicada sobre uma fina cama de cristal líquido, que fica espremida acima de uma nanoestrutura com um formato similar ao de uma cartela de ovos microscópica. O método permite a absorção dos cumprimentos de onda de algumas luzes ao mesmo tempo que reflete outras, usando a iluminação ambiente para exibir cores específicas sem precisar de uma fonte luminosa.

Aprendendo com a natureza

A novidade divulgada por Chanda representa um salto considerável na área, já que trabalhos anteriores conseguiam produzir apenas uma pequena variação de tonalidades. Além disso, a “tela” criada possui apenas alguns micrômetros de espessura no total, o que permite sua aplicação junto a materiais flexíveis, como plástico e tecidos sintéticos. Para efeitos de comparação, os fios de cabelo humano possuem em média uma espessura de 100 micrômetros.

O trabalho foi inspirado pelas capacidades de mudança de cor da pele de animais como camaleões e cefalópodes, que conseguem mudar suas tonalidades instantaneamente mesmo sem possuírem fontes internas de luz. “Os displays feitos pelos homens – LCD, LED, CRT – costumam ser rígidos, quebradiços e volumosos. Mas um polvo consegue criar core na própria pele, que cobre um contorno corporal complexo e é flexível e pode ser esticada”, compara.

undefinedPolvos conseguem se camuflar mesmo sem possuírem fontes de luz própria

Guarda-roupas de uma peça só

Não é difícil pensar nas aplicações da invenção em tecnologias existentes, como as telas de TVs, monitores de computador e dispositivos móveis. Comparados com a novidade, visores que hoje consideramos finos seriam vistos como tecnologias extremamente volumosas. Além disso, o maior impacto pode vir com a criação de uma categoria totalmente nova de displays.

“Nossas camuflagens, roupas, itens de moda... Tudo isso poderia mudar. Para que eu precisaria ter 50 camisetas no meu armário se eu pudesse mudar a cor e os desenhos em uma?”, questiona Chanda. Usando uma técnica simples e barata de nanoestampagem, os estudiosos conseguem produzir grandes áreas com a superfície reflexiva capaz de reproduzir todas as cores.

O trabalho dos cientistas parece ter potencial para uma grande quantidade de aplicações interessantes, mas ainda não passa de uma pesquisa realizada em laboratório. Se a novidade vai ter força o suficiente para ser adotada por empresas interessadas e chegar a produtos lançados no mercado, somente o tempo dirá.



Jornalista, apresentador e editor com mais de 12 anos de experiência no TecMundo.