Por que não veremos carros elétricos populares no Brasil tão cedo?

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Está se tornando cada vez mais comum vermos notícias sobre o lançamento de veículos elétricos ou híbridos no mercado norte-americano. Empresas como a Tesla e a Ford investem bastante nesse nicho do mercado, sendo que a primeira ainda é especializada em carros que utilizam somente a energia limpa para a locomoção. Mas será que o Brasil vai receber esse tipo de produto algum dia?

É bem possível que sim, mas precisamos saber que isso vai demorar bem mais do que você está esperando. Existe uma série de desafios para o início da comercialização mais popular destes veículos, principalmente no que diz respeito às taxas de importação e dificuldades de abastecimento. Está curioso para saber mais detalhes sobre tudo isso? Então confira agora mesmo o que nós separamos para explicar essas limitações.

Carros no Brasil são muito caros

As taxas que envolvem a produção de um carro aqui no Brasil são muito altas — e mesmo assim não barram o crescimento do setor —, fazendo com que os veículos se tornem bem mais caros do que em diversos outros países, mesmo quando comparamos modelos idênticos. Se isso já acontece com modelos que possuem ampla saída das lojas, você pode imaginar que com produtos de nicho há ainda mais influência.

Como você deve saber, qualquer produção em larga escala consegue ser mais barata do que produções em menor número. Além do valor das peças — existem outros fatores, como o “custo de oportunidade” — que pesam muito no final das contas. Somando tudo o que influencia nesse cálculo, não fica difícil entender o que faz os veículos de menor saída serem tão mais caros do que os populares.

Quando pensamos na importação, também há uma série destes fatores. A importação de peças individuais é cara por causa do transporte, dos riscos e dos impostos básicos. A importação de carros montados é mais cara ainda porque, além de tudo isso, passa por taxas de importação mais complexas. Vale lembrar que, quando falamos de veículos, não existe nenhum tipo de incentivo fiscal para a trazida deles ao Brasil.

Não é viável ter um carro elétrico por aqui

Em uma suposição absurda: você encarou todas as taxas de importação e assumiu os riscos de comprar um veículo elétrico dos Estados Unidos, mesmo sabendo que não existem assistências técnicas autorizadas no Brasil. Mesmo que ele nunca apresente qualquer problema, é bem provável que vai haver um momento em que você vai precisar de um “abastecimento” emergencial.

Onde você poderá encontrar um “posto de energia elétrica” na sua cidade? Quanto tempo você dispõe para deixar o carro tendo as baterias recarregadas? Nos Estados Unidos, a Tesla possui centros de recarga rápida em que os motoristas podem até mesmo trocar de bateria para que possam desfrutar de toda a autonomia novamente. Isso torna a utilização muito mais viável.

Por falar em baterias, é preciso dizer o quanto elas podem custar para o consumidor brasileiro. Segundo o que foi publicado no Estadão, estima-se que uma bateria para um veículo popular poderia chegar a custar R$ 100 mil ao ser importada para o Brasil. Além de isso ir de encontro ao que falamos no primeiro tópico deste texto, também mostra que a manutenção de um carro elétrico e das peças dele é bastante inviável.

Um dos maiores empresários do ramo automotivo disse ao UOL que não existem incentivos nem mesmo à produção dos carros elétricos. Sérgio Habib revela que os incentivos fiscais à produção do etanol acabam sendo proibitivos para os veículos que usam energia elétrica. Similar ao que acontece nos Estados Unidos, onde o petróleo influencia muito as decisões políticas, por aqui o etanol também acaba causando atrasos à chegada da energia limpa.

E lá fora?

Nós falamos sobre os altos custos de um veículo elétrico no Brasil, mas é preciso dizer que nos Estados Unidos eles também são mais caros do que carros de combustão. Um Volkswagen Golf, por exemplo, custa perto dos US$ 22 mil na versão comum e cerca de US$ 35 mil na versão elétrica. Esses US$ 13 mil de diferença é que fazem os carros sem emissão de poluentes se tornarem um mercado de nicho.

Fizemos uma rápida seleção com os preços dos principais modelos elétricos dos Estados Unidos e também trouxemos informações sobre a autonomia de bateria de cada um deles. Será que você conseguiria realizar tudo o que faz diariamente com apenas uma carga da bateria dos seus veículos?

  • Tesla Model S: R$ 180 mil (nos EUA) / 426 quilômetros
  • Mercedes B-Class: R$ 94 mil (nos EUA) / 200 quilômetros
  • Kia Soul: R$ 90 mil (nos EUA) / 200 quilômetros
  • Volkswagen e-Golf: R$ 78 mil (nos EUA) / 190 quilômetros
  • Toyota RAV4: R$ 112 mil (nos EUA) / 165 quilômetros
  • BMW i3: R$ 94 mil (nos EUA) / 160 quilômetros
  • Fiat 500e: R$ 69 mil (nos EUA) / 140 quilômetros
  • Nissan LEAF: R$ 65 mil / 135 quilômetros
  • Chevrolet Spark: R$ 58 mil / 130 quilômetros
  • Honda Fit EV: R$ 583 (leasing mensal, nos EUA) / 130 quilômetros

Como você pode ver, um dos grandes desafios das montadoras ainda está em fazer com que os carros elétricos se tornem uma boa opção para quem precisa percorrer grandes distâncias — com exceção do Tesla Model S, que se equipara a um veículo a combustão em quesito de autonomia. Mas é claro que as fabricantes continuam procurando formas de melhorar isso.

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Você já imaginava que esses eram os principais fatores pelos quais o Brasil ainda não se tornou um bom mercado para os veículos elétricos? E será que imaginar que eles poderão ser popularizados na próxima década é sonhar alto demais?

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