Análise: caneta Inkling da Wacom

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Anunciado em 30 de agosto de 2011 e lançado no início deste ano, o Inkling mexeu com a cabeça de ilustradores pelo mundo inteiro. Também pudera: o produto consiste em uma caneta especial e um sensor de movimentos. Ou seja, bastaria você ter um papel em mãos para poder desenhar em qualquer lugar – para depois colocar no computador o rascunho criado.

No Brasil, o Inkling não é facilmente encontrado, fazendo com que muita gente largue o sonho de por as mãos nessa caneta mágica: o preço do produto chega a 1000 reais em terras tupiniquins (o original é 199 dólares). Apesar do valor salgado, a promessa de qualidade na captação dos traços faria desenhistas profissionais não pensarem duas vezes antes de comprá-lo. Mas será que esse é realmente um bom negócio?

Aprovado

Sensor prático

O sensor do Inkling apresenta funções muito interessantes que podem ser ativadas de maneiras extremamente simples. Caso você o aperte, ele abre o seu grampo e pode ser prendido a uma folha, movimento que também o faz criar um novo arquivo de desenho. O botão com o desenho de uma folha cria novas camadas, algo prático para quem está pensando em fazer animações a partir do rascunho. O último botão liga ou desliga o sensor.

Camadas de desenho

O melhor de tudo no Inkling é ele criar camadas já transparentes, o que poupa você do trabalho de ficar editando a figura no Photoshop e permite a sua coloração imediata. Além disso, os traços reconhecidos pelo sensor são transformados em vetores. Ou seja, há como editar os riscos do desenho usando o computador, algo ótimo para consertar pequenas falhas, mudar objetos de lugar e facilitar o trabalho de animação.

Desenho em andamento

Como o Inkling “filma” todo o processo de criação do seu desenho, ele apresenta uma guia no seu software de edição capaz de mostrar uma espécie de vídeo do desenho sendo feito “em tempo real”. Isso seria realmente interessante para você colocar no YouTube, por exemplo, para mostrar como usar determinada técnica. Porém, o programa não tem um recurso para exportar esse vídeo, podendo exibi-lo apenas internamente.

Estojo portátil

Embora tenha uma caixa de tamanho mediano, o Inkling possui um estojo capaz de carregar absolutamente todas as peças necessárias para usar o produto. Com ele, você consegue carregá-lo no bolso sem grandes dificuldades, levando consigo refis de tinta, cabo microUSB, sensor e caneta (com a bateria dentro).

Reprovado

Precisão ruim

Segundo os depoimentos dos ilustradores da NZN (cujos trabalhos você pode conferir na seção de Infográficos), que testaram extensivamente o produto, o veredito a respeito do Inkling foi unânime: a sua qualidade de captação de traços é horrível. Por exemplo: frequentemente alguns riscos não foram identificados, outros apareceram fora do lugar ou nem mesmo apareceram.

Isso é realmente uma pena, pois este é o principal fator que um ilustrador profissional busca ao avaliar um produto do gênero – além disso, também é uma surpresa, pois a Wacom é conhecida pela qualidade dos produtos. Então, como o Inkling não tem uma sensibilidade boa para identificar adequadamente desenhos mais detalhados, a solução é continuar usando um scanner ou desenhando diretamente no computador, por intermédio de pranchetas digitais.

Caneta estranha

De maneira geral, o Inkling não foi feito para você realizar a arte final de um desenho, apenas o “rascunho de um rascunho”. Afinal, a caneta que você é obrigado a usar possui uma ponta grossa demais, semelhante à de uma BIC. Além disso, o seu comprimento é muito grande e a bateria fica na ponta, adicionando um contrapeso estranho que atrapalha ainda mais na hora de desenhar.

Material limitado

O Inkling vem com um total de cinco refis de tinta (uma já na caneta), proporcionando algum tempo para você desenhar sem se preocupar com isso. Porém, o que fazer quando a tinta acabar? Como você é obrigado a usar apenas a sua caneta especial ao desenhar com o Inkling, é preciso descobrir uma maneira de arranjar novos refis – o que não é nada prático e envolve transações internacionais, mais o tempo de espera pelo frete.

Não apenas você vai sofrer tentando encontrar mais tinta para a sua caneta especial, como também vai passar dificuldades com o cabo microUSB – que está mais para “microcabo USB”. Afinal, ele não mede nem 10 centímetros, isto é: você não consegue conectá-lo à porta dianteira do computador e deixar o estojo sobre o gabinete, pois não há corda suficiente para isso (obrigando você a deixá-lo pendurado, dependendo do seu PC).

Software irrelevante

As ilustrações feitas usando o Inkling são salvas no formato WPI, o qual pode ser aberto apenas pelo Inkling Sketch Manager. Isso não seria um problema caso ele oferecesse opções realmente relevantes para a edição das figuras, mas esse não é o caso. De proveitoso do programa, você consegue apenas as funções de exportação dos desenhos para o Photoshop ou para o Illustrator. A única opção boa não é bem aproveitada, como já foi mencionado acima.

Vale a pena?

Não. O único quesito positivo necessário para fazer o produto compensar o preço altíssimo (derivado de conversão cambial, impostos pesados, margem de lucro e taxa de risco de importação) e cumprir a promessa de qualidade seria uma precisão decente, mas este não é o caso no Inkling.

Embora as suas demais ferramentas e funcionalidades sejam boas e ajudem bastante no trabalho de um ilustrador, o simples fato de não haver uma precisão confiável já torna o produto completamente inútil, pois não serve para profissionais, muito menos para desenhistas casuais ou amadores (ainda mais se você levar em conta que o Inkling  custa a “bagatela” de 1000 reais).

Entretanto, considerando o histórico da Wacom de lançar produtos com qualidade elevada para desenhistas, talvez haja a chance de, um dia, o Inkling ganhar uma versão com captação de movimentos aprimorada. Caso isso aconteça, provavelmente será o início de uma nova era de praticidade para a classe dos ilustradores. Hoje, porém, resta apenas a frustração de um produto que prometeu muito, mas acabou não cumprindo nada.

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