Imagem de Tony Hawk's Pro Skater 5
Imagem de Tony Hawk's Pro Skater 5

Tony Hawk's Pro Skater 5

Nota do Voxel
30

A maior ofensa que um fã de Tony Hawk poderia receber

No começo dos anos 2000, fomos dominados por aquilo que seria uma das maiores febres no mundo dos games: a série Tony Hawk's Pro Skater. Agora, depois de mais de 15 anos, chega a vez de Tony Hawk Pro Skater 5 entrar na pista, pra alegria dos veteranos sedentos por um bom game e também pra surpresa de quem só ouviu falar da lendária série. Mas, a realidade é dura como o concreto e o tombo aqui é dolorido.

Antes de começar, quero deixar claro que sempre fui um grande fã da série Tony Hawk. Joguei tantos jogos que até comecei a andar de skate, assim como boa parte do pessoal que também viveu a época. Minha prova de amor me fez comprar versões para portáteis e nunca aceitar que RIDE e Shred eram um completo lixo.

Sim, quando Skate, da EA, chegou, fiquei feliz e adorei a experiência, mas meu coraçãozinho sempre foi do "Toninho Falcão". Hoje, essa relação, cheia de altos e baixos, mas que resistiu ao tempo, chega ao fim. E da pior maneira possível.

O motivo? Desde que a Neversoft largou a franquia, ninguém mais acertou aquele jogo digno de combo de um milhão de pontos. A situação piorou quando Robomodo assumiu a série e fez aqueles dois jogos que usavam uma espécie shape de plástico pra controlar o jogo.

Óbvio que a tentativa de aproveitar a onda de Guitar Hero não deu certo e os caras fracassaram miseravelmente. A redenção veio com com Tony Hawk HD, uma releitura dos clássicos que parecia finalmente levar a franquia de volta para o caminho certo.

Enfim, quando anunciado, a promessa pra Tony Hawk 5 foi resgatar os velhos tempos. Todos os fãs, incluindo eu, ficaram felizes. Afinal, se a Robomodo havia feito um jogo para download que estava no caminho certo, o investimento e o nome de peso de Tony Hawk 5 com certeza iria permitir que a ambição fosse ainda mais longe. Mas, como dizem por aí: quanto maior o salto, maior a queda.

Queda rápida

Tony Hawk 5 é uma espécie de Tony Hawk 2 de uma dimensão paralela, em que a finada Neversoft largou o projeto e deixou pra que uma desenvolvedora cuidasse de um jogo que ela nunca viu na vida e muito menos conhece os fãs. Se prepare para ficar deprimido.

Pra aliviar um pouco a tensão, vamos começar com alguns pontos “positivos”. Os veteranos da série vão notar que o esquema de controles está praticamente o mesmo, fazendo da jogabilidade algo instintivo. Os botões para salto (Ollie), Flips, Grabs, Manuals e Grinds continuam mapeados da mesma maneira.

Isso imediatamente desperta uma nostalgia, que condiciona nossa mente a eliminar quaisquer outros problemas em prol de uma experiência que resgate um pouco de épocas passadas. Mas, não demora muito para perceber que uma nova mecânica, chamada Stomp, é o suficiente para voltarmos à realidade da maneira mais brusca possível.

Essa mecânica faz com que o jogador pouse mais rápido no chão, sendo rapidamente sugado para a superfície. Para acioná-la, você usa o mesmo botão que usa para deslizar nos corrimões e, sendo assim, há uma quebra enorme na estrutura que era tão consolidada.

Várias vezes você vai acabar pousando antes no chão quando, na realidade, mirava num corrimão. Qualquer veterano vai sofrer bastante com esta nova mecânica. Além disso, várias vezes ela retorce tanto a estrutura do jogo que acaba causando bugs e quebrando totalmente a experiência. Ou seja, até mesmo quem está chegando agora na franquia vai estranhar o tal recurso.

Removendo rodinhas

Fora isso, vários outros recursos de jogabilidade que vimos em jogos como Tony Hawk’s Pro Skater 3 e seus sucessores foram simplesmente arrancados da mecânica base.

É como se o jogo fosse um intermediário entre o primeiro e o segundo jogo da série, quando na realidade ele deveria evoluir tudo o que já tínhamos visto, trazendo uma proposta mais completa do que os anteriores. Isso sempre aconteceu e, se estivéssemos falando de uma versão HD de um jogo antigo, seria tolerável, mas, nesse caso, não é.

Não existe a possibilidade de realizar as chamadas “Flat Tricks”, restringindo somente ao Manual convencional. Nos corrimões, os Grinds não podem serem ajustados durante as manobras, como acontecia nos jogos anteriores. Deitar no skate, pegar carona em carros ou descer da prancha são também alguns outros exemplos que não existem mais.

Realizar manobras especiais, algo adorado pelos fãs pelo fato de aumentar a dificuldade dos combos e também a pontuação, também é algo que está diferente e mais simplório. Agora, você ativa o modo especial ao pressionar o L1 (LB no Xbox One) e, a partir daí, qualquer Grind, Flip, Grab e Manual se torna uma manobra especial.

Em suma, as possibilidades em Tony Hawk 5 estão muito mais restritas, o que é lamentável. Mesmo sendo um jogo que faz referência aos clássicos, não faz sentido eliminar recursos dos próprios clássicos e também de seus sucessores, que, esses sim, conseguiram manter a base adorada pelos fãs e ainda adicionaram vários elementos interessantes.

Um modo campanha vergonhoso

A pobreza também se aplica à campanha do game, que chega a ser uma ofensa para os fãs e para qualquer gamer que tenha comprado um jogo pelo preço de um título de grande produção — os famosos “AAA”. A jornada é praticamente inexistente em termos de contexto, interação com outros personagens ou qualquer guia narrativa. Em vez disso, você tem uma dezena de fases pequenas e totalmente sem inspiração em que você faz missões genéricas e repetitivas.

Com exceção de alguns desafios classificados como Pro, o restante sequer usa os recursos de um jogo de skate, deixando de lado qualquer teste de habilidade para optar por missões com bolas gigantes e anéis ao melhor estilo Superman 64, conhecido por muitos como um dos piores jogos já feitos.

Esqueça as interações com NPCs e as conversas de Tony Hawk 4, aqui, você só navega por menus atrás de menus e observa loadings após loadings para realizar suas missões. O jogo é tão mal feito, que, uma vez em uma missão, você simplesmente não pode sair dela até terminá-la. Não existe uma opção “Deixar missão” no menu de pausa.

Menus e mais menus

O design geral do jogo e a estrutura de menus são extremamente truncados, frustrando o jogador várias vezes pela incompetência da desenvolvedora em criar uma experiência fluida.

Trocar de personagem, por exemplo, exige que você saia do game e acesse a opção “Customize Skater”. Ali, você escolhe um dos 12 skatistas, que incluem nomes de peso, como Nyjah Houston, Ishod Wair, Riley Hawk, que é filho de Tony e a brasileira Letícia Bufoni.

A única maneira de adicionar seus pontos de Stats adquiridos durante o jogo é neste menu, já que o game simplesmente não permite que você evolua seu personagem durante a jogatina. E detalhe: os stats de todos os atletas são iguais, tirando aquela noção que tínhamos antes sobre qual skatista tinha mais desenvoltura no Manual, nos Grabs ou em Flips.

Provando mais uma vez a confusão no design de interface, temos a personalização dos atletas. Você não pode criar um personagem seu, que antes aparecia como "Custom Skater". Em vez disso, você tem de personalizar um atleta já disponível e isso faz com que Tony Hawk, por exemplo, vire um robô ou um cara com um saco de papel na cabeça.

Não dá pra entender porque os caras não colocaram as opções que aparecem ali para um modelo genérico para ser personalizado pelo jogador. Pra fechar e pra você ter noção de como o jogo é incompleto e mal acabado, o jogo não exibe notificações nem mesmo quando novas fases são liberadas, obrigando você a voltar pro menu constantemente pra conferir.

Outra promessa que despertou a atenção dos fãs de longa data é o retorno do modo Create-a-Park. O sistema de criação traz várias opções diferentes, principalmente se compararmos com a ausência de recursos que virou padrão no jogo. Você pode escolher planos de fundo, o tamanho de sua pista de skate e ir montando tudo peça por peça, colocando rampas, corrimões e até poderes que alteram a jogabilidade — os famosos Power-Ups.

Infelizmente o editor tem alguns probleminhas, principalmente pelo fato de não exibir uma grade, o que faz com que constantemente os objetos fiquem desalinhados e torna a construção muito mais demorada.

Mesmo assim, a possibilidade de criar, compartilhar e jogar em pistas de outros jogadores é um recurso que funciona, embora acabe se tornando defasado graças à experiência do jogo em si.

Sem multiplayer em tela dividida

A grande decepção, principalmente pelo fato de que o jogo prometia o retorno aos tempos clássicos, é a ausência do multiplayer em tela dividida. Mais uma vez, por se tratar de uma grande produção e de uma sequência real na franquia, esperávamos mais recursos do que vimos em Tony Hawk HD, mas o multiplayer também não entrou aqui.

A parte mais marcante da experiência clássica foi trocada pelo modo online, que é totalmente irrelevante durante a campanha, onde até 20 jogadores aparecem perambulando pelo mapa. Não existe qualquer tipo de interação real neste hub interativo e, caso você queira jogar uma missão no modo cooperativo com algum deles, a parte burocrática retorna, obrigando você a ir no perfil do jogador desejado, dentro da rede de seu console, e então adicioná-lo como amigo.

Os modos competitivos existem e o clássico Trick Attack, a famosa briga por pontos, é um dos mais populares. Em nossa experiência, as partidas constantemente se iniciavam sem a presença de outro jogador e, como comentamos antes, não é possível sair do meio de uma missão sem sair do jogo. Os modos Horse e Graffiti, que foram intensamente solicitados pelos fãs, mais uma vez foram ignorados.

Visualmente, Tony Hawk 5 volta a decepcionar de maneiras inimagináveis. A sequência real e tão aguardada do que já foi a franquia mais lucrativa da Activision simplesmente se parece com um jogo do começo da vida do PlayStation 2.

Mesmo após a atualização do primeiro dia, que era quase duas vezes o tamanho do jogo, os gráficos continuam inexpressivos, com texturas chapadas, modelos com poucos polígonos e uma direção artística que está longe de criar os mapas memoráveis dos games anteriores.

As músicas se salvam!

Felizmente, a trilha sonora é o único grande acerto de Tony Hawk 5 que realmente honra o legado da franquia. O jogo traz mais de 30 músicas, todas de bandas que você provavelmente não conhecia e vai se apaixonar. Os gêneros variam desde Punk Rock, passando por Indie até Hip-Hop e tudo se encaixa perfeitamente com o ritmo frenético do game. Confira um exemplo abaixo:

Mas, o som também tem seus problemas. O capricho dos efeitos sonoros se foi, sem muitas variações de ruídos das rodinhas em terrenos diferentes, por exemplo, e sem a mesma intensidade dos jogos anteriores. Outro defeito grave é ausência de uma lista de músicas dentro do jogo, obrigando você a usar um aplicativo em seu celular pra descobrir o que está tocando.

Vale a pena?

Qualquer pessoa que tente encontrar aqui vestígios da experiência memorável dos jogos antigos com certeza vai se decepcionar imensamente. Eu mesmo, como fã, fiquei extremamente triste por ver uma das maiores franquias dos games e que impulsionou uma geração toda sendo maltratada deste jeito.

Reza a lenda que o contrato da Activision com o skatista Tony Hawk acabaria este ano e por isso tiveram que lançar um jogo às pressas. Poderia ter feito outra remasterização de um outro jogo da série, mas preferiram manchar a imagem da franquia de uma maneira sem precedentes, e olha que, ultimamente, o nome já não passava muita confiança.

Agora, o jeito é esperar pra que a EA tome isso como oportunidade para lançar Skate 4, mesmo que o estúdio responsável pelos jogos já não exista mais — e aí corremos o mesmo risco.

Enfim, não compre Tony Hawk 5 e prefira manter a distância pra que memórias distantes não sejam brutalizadas.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.
Pontos Positivos
  • A trilha sonora continua fenomenal
Pontos Negativos
  • O jogo parece totalmente incompleto
  • A mecânica Stomp atrapalha veteranos e novatos
  • Gráficos equivalentes ao início do PlayStation 2
  • Sem multiplayer local
  • A jogabilidade e a campanha estão capadas em relação aos clássicos
  • Design confuso e que obriga o jogador a passar por vários menus e loadings