Imagem de The Last of Us: Left Behind
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The Last of Us: Left Behind

Nota do Voxel
100

Adeus, dias de paz

Havia muito tempo que eu não me envolvia tanto com um jogo como aconteceu com The Last of Us. Tudo na saga de Joel e Ellie funcionou tão bem que eu devo ser uma das únicas pessoas que não via a necessidade de uma expansão, sequência ou prequel. É uma obra que se completa nela mesma e qualquer tentativa de ir além disso poderia estragar aquilo que beirava a perfeição. Só que a Naughty Dog conseguiu provar o quanto eu estava errado.

Com o DLC Left Behind, o estúdio retorna ao mundo pós-apocalíptico tomado pela infecção de Cordyceps para nos contar uma história tão tocante quanto aquela que vimos no ano passado. Deixando a luta pela sobrevivência em segundo plano, a produtora reforça a importância das relações humanas e o quanto ela pode ser corrompida em um mundo tão podre quanto este. É uma história singela sobre amizade e a perda da inocência; um adeus aos tranquilos dias de paz.

Mais do que tudo isso, é uma das coisas mais lindas que já passou pelos consoles.

Flashback

A narrativa de Left Behind se passa em dois momentos distintos da cronologia. O primeiro deles é focado no presente, mais especificamente após Joel se ferir na luta contra os homens de David, no inverno. Controlando Ellie, o jogador deve correr contra o tempo para encontrar medicamentos para estancar o sangramento de seu companheiro.

Contudo, essa não é a parte mais interessante deste DLC. O que realmente chama a atenção são os flashbacks de Ellie que nos mostram um pouco mais de sua história. E, se o passado de Joel era aquele soco no estômago, o da garota é um nó na garganta.

Isso porque a trama é centrada exatamente na relação com Riley, sua melhor amiga. E isso é muito interessante, pois é possível ver o conflito existente entre os dilemas comuns de uma adolescente de 15 anos e os desafios de encarar uma realidade completamente destruída. Como ser normal quando o mundo ao seu redor não é?

Essa parte de Left Behind se destaca exatamente por isso. Acostumamo-nos a ver uma Ellie durona e já calejada — como seu discurso final na campanha bem evidencia —, mas o DLC nos apresenta quando ela ainda era uma garotinha inocente que não sabia o quanto a vida podia ser cruel.

E é muito duro ver isso acontecer, uma experiência angustiante do começo ao fim. Você sabe o que vai acontecer e, ainda assim, torce, se anima e se desespera à medida que as coisas acontecem. Assim como na campanha, o envolvimento é inevitável. Você crê que aqueles personagens são reais, pois suas emoções também são.

É aqui que sentimos o verdadeiro peso da narrativa. Esses flashbacks são inteiramente contemplativos e baseados nos diálogos e na exploração do cenário. Left Behind não precisa de nada mais do que isso para que o jogador se envolva com Ellie e Riley, deixando de ser apenas um espectador e fazendo parte daquele mesmo drama.

Para isso, a Naughty Dog optou por deixar a ação apenas para as cenas do presente, usando as memórias como uma forma de aprofundar a relação entre as duas jovens. E isso é tão bem feito que é muito mais interessante acompanhar as conversas do que enfrentar zumbis e caçadores. Se ele fosse lançado como um pequeno curta-metragem, ainda seria ótimo.

Contraponto

Por outro lado, o presente também tem sua importância. Além de ser a parcela mais agitada do DLC, é ele que faz o contraponto com aquilo que vimos nos flashbacks. Se o passado nos traz uma Ellie ainda inocente, reencontrá-la no contexto “clássico” nos mostra o quanto esse mundo apodrecido mexeu com ela.

É curioso você ver a mesma menina que se encanta ao andar em um carrossel pela primeira vez jogar infectados sobre caçadores para abrir caminho até seu objetivo. O meio determina o homem, ainda mais em situações tão críticas quanto estas. E Left Behind deixa esta transformação bem clara ao nos jogar nesses dois momentos, evidenciando o contraste.

Isso tudo casa muito bem com o discurso que ela faz para Joel na cena final de The Last of Us. Sua fala sobre a espera do pior, sobre o quanto a vida lhe tirou e tudo o mais é resumido muito bem neste DLC. Se você compreendeu o que ela quis dizer na época, chegou a hora de sentir  tudo isso.

Para completar, temos a excelente trilha sonora de Gustavo Santaolalla para coroar essa belíssima história com melodias que combinam muito bem que o espírito geral do extra. Se você não for capaz de se emocionar com tudo isso, é porque você deve estar morto por dentro.

Estendendo a jogatina

Para saciar a vontade dos fãs de permanecer neste mundo por mais tempo, a Naughty Dog trouxe pequenos desafios que vão fazê-lo revisitar essa história mais de uma vez. Além dos diferentes níveis de dificuldade, temos uma longa lista de colecionáveis e outros elementos escondidos pelos cenários. Pensou que ia se ver livre das conversas opcionais?

O detalhe aqui fica por conta dos relatórios que Ellie encontra. Assim como a história de Ishi em The Last of Us, o destino de outro grupo de sobreviventes é apresentado em fragmentos e que, mais uma vez, convida o jogador a mergulhar nessa pequena história. É uma forma interessante de se engajar na busca por esses itens secundários.

Já nos combates, não há muita diferença em relação ao original. O ponto é que Left Behind se revela um pouco mais difícil por conta da falta de recursos, principalmente nas dificuldades mais elevadas. Isso valoriza muito a utilização de estratégias, já que você nunca vai poder contar por muito tempo com suas armas para sobreviver.

O único porém encontrado neste aspecto diz respeito à inteligência artificial, que foi levemente alterada para aumentar o desafio e foge um pouco daquilo que vimos anteriormente. É frustrante ser atacado por um Estalador — que são cegos e só poderiam encontrá-lo caso você fizesse algum barulho — quando a personagem está completamente imóvel e em silêncio. Ainda assim, é algo tão pontual e insignificante que em nada afeta a experiência geral do DLC.

Goodbye, Halcyon Days

Por fim, é impossível não se emocionar com o excelente trabalho da Naughty Dog em Left Behind. O DLC resume muito bem aquilo que há de melhor em The Last of Us, valorizando as relações humanas e o quanto um contexto crítico é capaz de transformar uma pessoa. Vimos isso acontecer com Joel e agora chegou a hora de olhar as cicatrizes deixadas em Ellie.

E o mais incrível é que tudo isso é apresentado de maneira muito sutil na narrativa. Trata-se de algo tão bem construído que é impossível não se envolver e se sentir dentro daquele universo. A produtora já havia demonstrado ser capaz de criar uma história incrível e agora ela vai além e traz algo ainda mais sensível, por mais curta que ela seja. Left Behind leva uma média de duas horas para ser finalizado e você acaba querendo muito mais daquilo, por mais sofrível que seja aquela realidade.

Continuo achando que não há a necessidade de um The Last of Us 2, mas a chegada deste DLC me provou que não há com o que se preocupar. A Naughty Dog conseguiu me convencer de que há maneiras de expandir este universo, apresentar novas camadas de seus personagens e, ainda assim, nos surpreender como da primeira vez.

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Pontos Positivos
  • Narrativa envolvente do começo ao fim
  • Aprofunda no passado de personagens importantes
  • Poder jogar The Last of Us de volta