Imagem de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin
Imagem de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin

Nota do Voxel
90

Stranger of Paradise Final Fantasy Origin: a fantasia iconoclasta

Como eternizado na voz de Tony Bennett, Jack Garland nos faz um convite logo no começo de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin: "Pegue a minha mão. Eu sou um estranho no paraíso, totalmente perdido em uma terra de maravilhas. Sou um estranho no paraíso..."

Assim como o protagonista se sente deslocado ao chegar no mundo do clássico Final Fantasy I sem memórias e sentindo apenas uma vontade incontrolável de matar o Chaos, o jogador também pode encontrar-se com sentimentos conflituosos conforme mergulha na mesma estranheza. Afinal, temos aqui um jogo diferente de tudo que a Square Enix já tinha feito com a franquia até agora.

Sem o risco de soar hiperbólico, esse game certamente é diferente de qualquer coisa que você já viu! Subversivo ao extremo, Stranger of Paradise me lembrou um pouco a experiência que tive no cinema assistindo ao delicioso Matrix Resurrections: é engraçado ver uma empresa bancar a produção de algo que tira um grande sarro do próprio produto. Em um mar de obras enlatadas pautadas por algoritmos e por ordens de engravatados, tamanha liberdade artística é algo digno de se comemorar!

"Eu fiz tudo do meu jeito"

Humor é um tema naturalmente subjetivo, e pode muito bem ser que você não ache a menor graça de ver os clichês e tradições da série sendo subvertidos sem parar. Independente da real intenção dos criadores — o que importa pouco ou nada na hora de avaliar o funcionamento da coisa toda —, é fácil tomar por constrangedores ou amadores os diálogos do game.

Mas fazer isso é não enxergar o quadro maior e, no processo, perder uma das maiores sacadas da geração! Veja bem, o já citado Jack tem basicamente o nome mais americano e genérico possível, chega ao mundo de Final Fantasy vestindo uma camiseta social desbotoada, ouve músicas em seu smartphone (e faz questão que todos ao seu redor ouçam também), gosta de sentar o soco na cara de todos os inimigos em seu caminho e, para todos os efeitos, tem mais cara de protagonista de Call of Duty. É basicamente a pior pessoa possível para estar lá, e ele frequentemente demonstra o seu descaso completo até mesmo cortando os monólogos dos vilões!

Como o primeiro jogo da série foi inicialmente disponibilizado apenas no nintendinho, o jogo "homenageia" isso fazendo com que todos ao seu redor conversem com falas que mais parecem saídas diretamente dos 8 bits. Em um dos momentos mais engraçados do início da aventura, o rei de Cornelia faz um pomposo discurso sobre os quatro heróis da luz enquanto a marcante música tema ressoa ao fundo, apenas para ser cortado por um impaciente Jack, que confessa:

"Eu só quero matar o Chaos"

Memes e piadas à parte, é extremamente adequado que a personalidade de Jack seja limitada às suas frases de efeito saídas diretamente do cinema de ação dos anos 1980. Esqueça o JRPG e sistemas intrincados, pois ainda que haja bastante menus para os interessados em customizações fuçarem, o grosso do gameplay de Stranger of Paradise gira ao redor da ação eletrizante e incessante.

E aqui não precisamos fazer quaisquer rodeios ou pensar fora da caixinha para apreciar o sistema: a ação de Stranger of Paradise é legitimamente boa em todos os ângulos de análise imagináveis. Pense nos tempos áureos de Ninja Gaiden ou nos mais empolgantes jogos da Platinum Games e você terá alguma ideia do que esperar desse lançamento!

O melhor de tudo é que o jogo é estruturado em um sistema de dezenas de fases, que costumam ter entre 20 e 40 minutos de duração — a depender do seu ritmo de exploração e dos atalhos que você encontra — culminando em um confronto com um chefão, o que é deliciosamente old-school e esperto em seu design.

Leia isso no tom mais elogioso possível, mas Stranger of Paradise frequentemente me passou uma sensação similar a de descobrir um ótimo jogo de PlayStation 2 ou Gamecube, aqueles tempos mais simples quando a diversão toda era mais imediatista e sem enrolação. Às vezes tudo o que você quer da vida é uma overdose de testosterona, e esse jogo sabe entregar isso muito bem, obrigado.

O grande looter de Final Fantasy

Entre uma luta e outra contra os chefões tradicionais de Final Fantasy, o que inclui embates épicos contra Tiamat e um Great Marlboro, você dá um pulinho no menu de mapa do mundo, uma imagem estática bem organizada com opções simples. Ele possui poucos, mas gratos recursos, e a sua objetividade e clareza é uma benção.

Por lá você pode conversar com NPCs de todas áreas já visitadas clicando em seus nomes para ver um pouquinho mais de comédia, selecionar qual fase quer visitar a seguir e ver o nível recomendado de cada uma (você pode até revisitar cenários já superados para upar um pouco os heróis se quiser), ou então visitar o ferreiro para dar uma tunada nos seus itens.

É imperativo passar por lá de vez em quando, já que ao natural você vai colher uma quantidade insana de itens em cada fase. Pense na quantidade de itens de Diablo e multiplique-os por dois ou três e você terá uma ideia de quanto drop você vai colher automaticamente só por lutar entre os pântanos, castelos e cavernas do game.

Os itens são divididos em tiers de raridade e você encontrará múltiplas coleções para montar, o que é especialmente legal pela forma como o sistema de Jobs foi bem implementado em Stranger of Paradise. O tempo todo Jack pode alternar entre quaisquer dois jobs que ficam ativos através de atalhos, ou então trocá-los por outros jobs no menu principal.

Cada estilo de jogo possui as suas próprias habilidades e pontos fortes, então vale a pena experimentar bastante! Eu acabei gostando muito de jogar como Lancer, já que as armas possuem um longo alcance e o seu ataque especial ainda permite fazer disparos de longe, mas o Ronin também é legal para punir os inimigos de perto. Além disso, é claro que você também pode experimentar ser monge, mago, e muito mais!

Os seus aliados também possuem Jobs e são surpreendentemente úteis na maior parte do tempo! Eles possuem uma das melhores IAs que já vi em títulos do gênero, e consistentemente o ajudam a dar dano nos inimigos e chefes, até atraindo a sua atenção para você poder se curar um pouquinho usando as poções. Elas, por sua vez, são recarregadas sempre que você chega a uma fogueira — quer dizer, em um dos vários cubos de cada fase, que servem para recarregar sua vida e poções, ao custo de fazer todos os inimigos já derrotados voltarem à fase. Onde eu já vi isso antes? Hmm...

Desafio sem frescura

Apesar de a média de dificuldade dos jogos de videogame ter sido reduzida drasticamente a cada geração, por alguma razão em 2022 as polêmicas sobre inclusão de modo fácil ainda repercutem bastante nas redes. Felizmente, Stranger of Paradise é um jogo bem hardcore que sabe como honrar as suas origens sem deixar de abraçar algumas conveniências da modernidade.

Como alguém que cresceu jogando os títulos de Nintendinho nos anos 1980, me senti bastante à vontade jogando de cara no nível Hard, no qual o dano dos inimigos é maior. Precisar de cinco ou seis tentativas e memorização de padrões para passar dos chefes mais apelões garantiu ótimos minutos de nostalgia e é a recomendação que eu faria para todos que compartilham desse perfil.

Para os demais, é possível reduzir o nível de desafio em qualquer checkpoint caso as coisas se compliquem demais, então todo mundo deve se sentir satisfeito dessa vez. Ainda assim, recomendo jogar no nível mais alto possível para poder curtir todas as nuances do sistema de batalha, que inclui uma divertida mecânica de poder absorver certos golpes e atirá-los de volta nos inimigos.

De forma um tanto similar ao que já vimos no ótimo Sekiro, os inimigos possuem não apenas uma barra de vida, mas também um medidor de quebra de defesa, então você pode se focar em drenar qualquer um dos dois em sua ofensiva. Se você conseguir fazer a cobra, poderá realizar um abate imediato nos inimigos mais fracos, ou tirar um grande pedaço da vida dos chefões principais.

Se essa imagem não te faz rir e não dá vontade de jogar Stranger of Paradise, provavelmente você não deveria jogar mesmoSe essa imagem não te faz rir e não dá vontade de jogar Stranger of Paradise, provavelmente você não deveria jogar mesmoFonte:  Twitter 

Entre as poucas decepções de Stranger of Paradise, são dignas de nota apenas a falta de localização para português, e uma otimização problemática até mesmo no poderoso PlayStation 5, a máquina que usamos em nossos testes para review. Em alguns momentos acontecem pequenas engasgadas que param tudo por centésimos de segundo, algo bem estranho considerando que os gráficos não são lá a oitava maravilha do mundo, abusando das texturas simples em alguns pontos. Fica a torcida para patches resolverem essa questão.

Veredito

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um caso raríssimo nesse mercado sucateado por grandes produções milionárias e avessas ao risco. Se você não aguenta mais as pretensões de transformar os videogames em blockbuster e sente falta dos tempos mais simples da geração 128 bits, com jogos estruturados com fases e muita ação que não se leva nem um pouco a sério, é facílimo fazer vista grossa para os seus problemas técnicos e se apaixonar pelo elenco de personagens mais insano dos videogames. Mas se você não tiver senso de humor... faça como o Chaos e fique bem longe do Jack...

Nota Voxel: 90/100

Nota Jack: 1000/100

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um jogo hilário e com a melhor ação que vimos em anos!

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Pontos Positivos
  • Absurda e consistentemente hilário
  • Trama não se leva a sério por um segundo sequer
  • Combate empolgante de tirar o fôlego
  • Estrutura de fases curtas e chefões divertidos
  • Rico sistema de loot e jobs
  • Trilha sonora soberba
Pontos Negativos
  • Tanta subversão pode incomodar puristas
  • Pequenos problemas de performance
  • Gráficos datados
  • Sem localização para português