Imagem de Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy
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Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy

Nota do Voxel
88

Take that! É hora de revisitar as origens da série Phoenix Wright

Quase 10 anos após fazer sua estreia no Ocidente, o advogado Phoenix Wright retorna às suas raízes por meio do Nintendo 3DS. Em Ace Attorney Trilogy, lançado exclusivamente pelo eShop, o jogador tem a oportunidade de reviver os capítulos que deram início à série — Ace Attorney, Justice for All e Trials and Tribulations — com gráficos e uma trilha sonora ligeiramente modificados.

Apesar das mudanças prometidas pelas Capcom, os três capítulos mantêm bastante das restrições impostas por sua plataforma original, o GameBoy Advance. Assim como aconteceu no momento em que eles foram adaptados para o Nintendo DS, a produtora tira pouco proveito da tela inferior do portátil, com a exceção de um momento específico relacionado ao primeiro jogo.

Promovendo uma verdadeira viagem pelo passado, Ace Attorney Trilogy é uma ótima oportunidade para aqueles que não conhecem o advogado finalmente poderem acompanhar sua história desde o princípio. No entanto, quem já está familiarizado com a série (seja através das plataformas da Nintendo ou dos lançamentos para iOS) dificilmente vai encontrar aqui algo que justifique o investimento de US$ 30 exigidos.

As raízes de um advogado

Apostando na simplicidade, Ace Attorney Trilogy apresenta a possibilidade de iniciar a jogatina por qualquer um dos games contidos no pacote. A quantidade de configurações trazidas pela Capcom é mínima, se atendo somente à possibilidade de jogar os games com os textos japoneses originais — algo que não é exatamente atraente para quem não possui domínio do idioma.

Independente do capítulo escolhido (e recomendamos escolher o primeiro, caso não faça ideia do que um jogo da série Phoenix Wright oferece), todos eles oferecem experiências trazem semelhantes. Pertencentes ao gênero “visual novel”, os três games exigem uma carga pesada de leitura, já que praticamente todos os acontecimentos relevantes são descritos na forma de textos.

Essa exigência é compensada na forma de roteiros inteligentes e que exigem uma boa combinação entre memória, poder de observação e atenção do jogador. Os casos dos quais Phoenix Wright participa ganham em complexidade conforme você avança em cada jogo, e o fato de que suas chances de errar são limitadas ajuda a dar uma maior tensão às tramas.

Um ponto a favor da série, que não envelheceu nem um pouco nos mais de 10 anos em que ela está no mercado, são seus personagens. Apesar de o tom geral de cada caso ser “pesado” (afinal, estamos lidando com assassinatos e outros crimes graves), a Capcom desenvolveu um universo recheado de figuras bizarras (e, por isso mesmo, carismáticas) e piadas que, mesmo infames, conseguem dar um clima mais leve a situações naturalmente tensas.

Dessa forma, se torna prazeroso ver que muitos desses personagens retornam em vários casos enfrentados pelo jogador. Apesar de isso passar a sensação de que o mundo de Phoenix Wright é um tanto limitado, a decisão da desenvolvedora contribui para criar um senso de coerência e familiaridade que se mostra bastante prazeroso.

Um ponto positivo é que, embora haja referências que conectam os diferentes jogos do pacote, cada um deles funciona muito bem de forma individual. Obviamente, se você quiser saber tudo o que acontece, é uma boa ideia acompanhar a ordem de lançamento original da série.

Uma das características mais interessantes dos títulos — que pode se provar um pouco cansativa — é o fato de cada um deles se comportar mais ou menos como uma “temporada” dividida em pequenos episódios. Embora isso funcione bem no que diz respeito a impedir que o jogador se canse da fórmula apresentada, o fato de que cada uma dessas fatias depende bastante de você se lembrar do que aconteceu anteriormente torna um tanto obrigatório jogar cada um dos títulos de maneira um tanto contínua — deixe seu portátil de lado por alguns dias e você com certeza não vai mais lembrar algum ponto importante de um caso já solucionado.

Base presa ao passado

Quem espera grandes novidades em matéria de conteúdo em Ace Attorney Trilogy pode ficar um pouco decepcionado com a Capcom. Ainda que a empresa tenha promovido algumas mudanças, a maioria delas ocorre de forma tão sutil que é até difícil pensar que realmente aconteceram.

Além de ganhar suporte ao sistema 3D do portátil da Nintendo (que adiciona uma profundidade interessante, embora não exatamente necessária às cenas em 2D), os três games foram adaptados às dimensões de tela do console. A trilha sonora também foi ligeiramente modificada, embora não esconda suas raízes do GameBoy Advance — portátil que não era exatamente versátil em suas capacidades sonoras.

Talvez a mudança mais importante feita pela Capcom seja o fato de a empresa permitir acelerar a velocidade dos textos mostrados em tela. Essa opção se mostra essencial em diversos momentos, permitindo que você avance nos títulos de forma mais regular e impedindo a perda de algumas horas de sua vida devido a limitações impostas pelo estúdio.

Fato é que, mesmo mudando pouco em matéria de apresentação, os games da série Ace Attorney continuam parecendo recentes inclusive quando se leva em consideração sua idade avançada. Grande parte disso se deve às características próprias do gênero ao qual eles pertencem — como o foco de visual novels geralmente é o texto, poucas delas investem em gráficos elaborados ou em animações complexas.

Um dos problemas dessa dependência do roteiro (além da ausência de uma tradução para português, o que deve reduzir muito o público do jogo no Brasil) é o fato de que muitas das referências à cultura pop apresentadas soam como velhas. Além disso, seria interessante se a Capcom tivesse aproveitado para incluir algumas mecânicas mais recentes às adaptações, como a possibilidade de rever algumas linhas de texto.

Reunidos, os games tornam mais evidentes os vícios adotados pela Capcom durante seu desenvolvimento, sendo um dos maiores defeitos da coletânea. Além de a maioria dos casos apresentados possuírem uma temática em comum (geralmente alguma espécie de assassinato), a maneira como eles são apresentados também é bastante semelhante entre si.

Essencialmente, são raras as ocasiões nas quais você não sabe quem é o culpado de algum crime antes mesmo de iniciar o processo de investigação. Assim, muitas das partes da aventura acabam se transformando mais em um processo de tentar levar o julgamento para um caminho específico do que uma jornada para descobrir um mistério — o que não é exatamente ruim, mas pode se tornar um tanto cansativo.

Vale a pena?

De maneira nada surpreendente, Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy é um game atraente principalmente para quem nunca teve uma experiência com a série e para fanáticos que fazem questão de ter tudo aquilo que envolve o personagem. Caso você simplesmente goste da franquia, mas já tenha experimentado seu início, já sabe tudo o que o pacote tem a oferecer — e as pequenas mudanças feitas não são suficientes para diferenciá-lo de relançamentos passados, como o oferecido no iOS.

Dito isso, a trilogia vendida exclusivamente através do eShop apresenta um conteúdo sólido, que explica os motivos de o personagem-título ser tão popular (o que lhe garantiu uma aparição em Marvel VS Capcom 3). Apresentando roteiros que continuam interessantes e visuais competentes para o gênero visual novel, os games são uma boa opção para quem domina o inglês e gosta de experiências que desafiam a capacidade de observação e a memória.

Caso você decida investir no pacote — decisão da qual dificilmente vai se arrepender —, recomendamos somente não tentar aproveitá-lo de uma só vez. Como os três jogos presentes são muito semelhantes entre si, jogá-los em sequência deixa mais evidentes suas falhas e repetições, o que pode desviar sua atenção das qualidades apresentadas por cada um deles.

Uma ótima introdução para o universo Phoenix Wright, Ace Attorney Trilogy é um produto muito bem-vindo, especialmente em uma época na qual é um tanto difícil encontrar os lançamentos originais para o Nintendo DS.  Seria interessante ver a Capcom investigando em mais coletâneas digitais com essa estrutura, nem que fosse com o único intuito de não deixar que algumas de suas obras mais interessantes se percam devido ao avanço da indústria.

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Pontos Positivos
  • Roteiros dos jogos antigos continuam interessantes
  • Investigações que desafiam a inteligência e o poder de observação do jogador
  • A possibilidade de revisitar as raízes da série é muito atraente
Pontos Negativos
  • Mudanças sutis não conseguem esconder a idade avançada dos jogos
  • Algumas referências à cultura pop soam desatualizadas
  • Os três jogos possuem estruturas um tanto repetitivas