Imagem de Fire Emblem Engage
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Fire Emblem Engage

Nota do Voxel
90

Fire Emblem Engage é menos falação e mais combate de qualidade

Não há dúvidas de que Fire Emblem Engage é um dos títulos mais aguardados de 2023, mesmo num ano promissor em que teremos o retorno de franquias consagradas (e para todos os gostos), como Final Fantasy, Street Fighter, The Legend of Zelda e Resident Evil.

Para muitos, Fire Emblem virou sinônimo de RPG tático. Afinal, alguns dos melhores representantes do gênero, ao menos nos últimos tempos, saíram da série da Nintendo, produzida desde sempre pela talentosa desenvolvedora japonesa Intelligent Systems.

Sejamos honestos: Fire Emblem foi um dos grandes responsáveis por redespertar nos jogadores o interesse por games de estratégia — e eu me incluo nisso —, contando histórias ambiciosas e oferecendo uma jogabilidade complexa e com múltiplas camadas.

Muita gente imaginava que Fire Emblem Engage, mais um exclusivo do Nintendo Switch, daria continuidade ao legado do excelente Fire Emblem: Three Houses, de maneira a consolidar a fórmula estabelecida no título de 2019. Contudo, Engage acaba renunciando aos elementos sociais e entrega uma experiência à moda antiga, mais linear e objetiva, que certamente vai dividir opiniões — mas que eu, particularmente, achei incrível. Confira a nossa análise:

O despertar do Dragão Divino

Não que eu desgoste dos diferentes caminhos de Fire Emblem: Three Houses e da vida no monastério, não é isso. Three Houses, inclusive, está entre os meus jogos favoritos de 2019. O ponto é que eu estava com uma certa saudade da linearidade dos games anteriores, diria até que de uma trama mais íntima e pessoal.

É claro que conflitos políticos e questões religiosas ainda pautam muitos dos assuntos abordados em Engage. Só que aqui o foco passa a ser o Dragão Divino, membro de uma família de dragões reverenciados como divindades, que desperta de um sono profundo após mil anos com o objetivo de selar Sombron, o Dragão Caído.

Por ter perdido a memória depois de tanto tempo desacordado, Alear, o nosso protagonista, demora a reconhecer sua importância para o continente de Elyos, palco onde se desenrola a jornada. Parte da diversão consiste em presenciar os momentos, os diálogos em que o personagem descobre o que realmente representa para as nações que o cercam.

Numa conversa em um dos reinos, por exemplo, um aldeão diz ao nosso herói que há uma igreja próxima ao local em que estão e que lá reza todos os dias para ele, para a volta do Dragão Divino. Isso sem saber que Alear, a divindade que sempre aguardou, encontra-se bem na sua frente, em carne e osso.

O Dragão Divino, porém, não é forte o bastante para impedir Sombron e seu poder corrompido de se alastrar e, por isso, embarca em uma missão a fim de coletar os Emblem Rings espalhados por Elyos, permitindo que heróis de outros mundos sejam convocados para o ajudar. Se os Emblem Rings caírem em mãos erradas, o continente onde vive pode correr grande perigo.

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Como já divulgado em trailers e vídeos de gameplay pré-lançamento, os personagens dos emblemas são rostos familiares: o jovem cavaleiro Marth, protagonista de Fire Emblem: Shadow Dragon and the Blade of Light, Celica de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia e Micaiah, um dos principais nomes de Fire Emblem: Radiant Dawn, só para mencionar alguns. Há um grande fanservice aqui, vale ressaltar, e felizmente bem amarrado à narrativa.

Pode ser que muitos fãs assimilem a trama mais direta e carregada de fanservice como um passo para trás em relação ao último título, Three Houses, até por não oferecer múltiplas rotas, mas não vejo dessa forma. Gostei de como Engage tenta resgatar alguns aspectos dos jogos antigos, explorando uma história objetiva, dividida em capítulos compactos, com poucas, porém profundas conversas entre aliados.

Combate familiar e com muitas nuances estratégicas

Se tem uma coisa que Fire Emblem Engage faz bem é deixar a gente jogar em paz. Olha, fiquei aliviado de poder encarar um confronto atrás do outro, com poucos diálogos e preparativos no processo. Sem se prender a um calendário escolar, Engage vai direto ao ponto e respeita o tempo do jogador, abrindo mão dos elementos sociais do monastério e da parte de gerenciar alunos, o que novamente nos remete à fórmula dos games clássicos.

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Repito: eu adorei Fire Emblem: Three Houses e seus sistemas à la Persona, tanto que quero rever num futuro próximo, o problema é que ele me drenou a vida, isto é, precisei me dedicar a ele por muito mais tempo do que havia planejado.

Apesar do ritmo constante, o combate continua complexo, cheio de variantes estratégicas e mais uma vez funciona com o triângulo de armas, o tradicional sistema de pedra, papel e tesoura. Em suma, espadas têm vantagem sobre machados, machados são mais fortes diante de lanças e, por fim, lanças superam espadas.

Dominar as vantagens de cada arma e saber utilizá-las na hora certa são regras básicas para sobreviver, inclusive na dificuldade normal, em teoria a mais acessível. Desferir ataques com a arma correta faz com que o oponente fique impossibilitado de contra-atacar, numa ação conhecida como Break.

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À primeira vista, Engage não aparenta ter mecânicas novas, mas logo você percebe que há sim adições bem-vindas. Por exemplo: agora é possível movimentar personagens livremente ao invés de traçar rotas seguindo quadrado por quadrado. Também é bom saber que os equipamentos deixaram de quebrar à toa, salvo algumas exceções.

Há, por fim, como se fundir aos Emblems, aos heróis de outros jogos da série por meio da mecânica de Engage, cujo uso é limitado. Ao ativar a forma Engage numa espécie de transformação, o membro de sua unidade ganha acesso a uma ampla lista de armas e ataques especiais, contanto que esteja com um Emblem Ring devidamente equipado.

Trata-se de uma opção bastante útil para você reverter momentos críticos das batalhas, ainda mais se estiver jogando no modo clássico, em que a morte de um companheiro é permanente. Embora os inimigos estejam igualmente aptos a usá-lo, pense no Engage como uma “carta surpresa” a ser guardada na manga para situações difíceis.

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Conforme você progride na história, dezenas de mecânicas são apresentadas, exigindo que você “cole” dos tutoriais com determinada frequência. Bom, Fire Emblem sempre foi assim, né? Que fique bem claro que Engage está mais dinâmico, mas não necessariamente mais fácil. Quem pretende ter uma experiência amigável, um pouco mais convidativa, considere se aventurar pelo modo casual até absorver todos os ensinamentos que o jogo deseja transmitir.

O único ponto negativo que encontrei tem relação com o auto battle, ou seja, o modo automático de batalha em que o sistema executa ações por você. Isso porque a inteligência artificial, quando está jogando a seu favor, não costuma fazer escolhas tão inteligentes. Quando a preguiça bater, pense duas vezes se realmente vale a pena deixar a máquina assumir o comando de seu exército.

Seja bem-vindo ao Somniel

Substituindo o monastério Garreg Mach de Three Houses, o Somniel atua como a área central de Fire Emblem Engage, na qual é possível estreitar relacionamentos e dar presentes aos membros de seu grupo, entre outras dezenas de atividades. O time do estúdio Intelligent Systems fez um ótimo trabalho em descomplicar os sistemas de Three Houses — e até cortar muitos deles — sem descaracterizar o que foi mantido.

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Entendo que a ideia era justamente essa: tornar Engage acessível oferecendo um ciclo, digamos, menos metódico para o gameplay. Você não precisa, por exemplo, visitar a base após custosas batalhas. Na verdade, fica a seu critério decidir o que deve ou não ser feito entre os capítulos — e não há um calendário para te atrapalhar —, o que também engloba os trechos de exploração.

Aliás, explorar o mapa no intervalo das lutas é uma das melhores partes de Engage, uma vez que há diversas missões paralelas para recrutar novos aliados — e há como repeti-las para “farmar” materiais, itens e pontos de experiência. Nessas tarefas secundárias, novas conversas com os heróis podem ser desbloqueadas, então recomendo fazê-las sempre que quiser se aprofundar nas relações e dar uma respirada no trajeto principal.

Resumidamente, você pode usar o Somniel para pescar, treinar unidades, adquirir trajes, itens e armas, melhorar equipamentos, passar um tempo de qualidade com os personagens, cuidar de animais, cozinhar e por aí vai. Se você cansou só de pensar, saiba que quase todas as atividades são opcionais e é plenamente aceitável seguir a jornada em linha reta, desfrutando somente da satisfatória pancadaria tática.

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Ainda, o jogador pode encarar desafios de combate, seja sozinho, localmente ou contra outros usuários no multiplayer, se arriscando nas Tower of Trials, cuja área oferece três modos: Tempest, Relay e Outrealm. Em Tempest, num esquema de hordas, você embarca sem ajuda em batalhas sequenciais para adquirir itens e prêmios valiosos.

Já em Relay e Outrealm, você pode lutar ao lado de outro jogador num modo cooperativo bastante divertido, além de confrontar guerreiros reais, inclusive podendo editar e personalizar os mapas à sua maneira, redesenhando a posição de objetos e armadilhas. Se eu gostei? Adorei! Uma pena que durante os nossos testes, antes do lançamento, não pude encontrar tantas partidas.

Há uma clara (e louvável) tentativa de ampliar o conteúdo com as torres, o tipo de coisa que não se vê todos os dias nos RPGs de estratégia. Os modos presentes na Tower of Trials se destinam, basicamente, a quem quer aproveitar uma batalha atrás da outra, livre de interrupções e em mapas menores, e se divertir com o que o jogo tem de melhor: o combate.

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Clube do gacha

Calma, fique tranquilo, pois Fire Emblem Engage não vai fazer você gastar dinheiro real em uma roleta para destravar heróis, tal como em Fire Emblem Heroes — mas é quase isso. No Somniel, em um local nomeado de Ring Chamber, é possível gastar bonds adquiridos in-game para desbloquear personagens secundários (lê-se anéis) de jogos anteriores.

Prepare-se, portanto, para reencontrar dezenas de nobres e guerreiros coadjuvantes da franquia, como Olwen, Shiva e Tibarn, já que é possível desbloqueá-los por meio dos Bond Rings, anéis que servem para fortalecer os atributos dos heróis principais e conceder a eles habilidades especiais.

O gacha em si combina com o formato proposto em Engage e não faz mal a ninguém, até por não cobrar dinheiro de verdade, mas poderia conceder anéis que melhoram de maneira significativa os nossos personagens no campo de batalha. Honestamente? Não vi tanta diferença na prática, talvez precise adquirir mais anéis de ranking superior, de nível S, já que eles têm raridades distintas e você pode fundi-los para elevar os status.

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Inspirações no passado

O novo título não se contenta em ser fiel às obras anteriores apenas na parte estrutural da coisa. Engage é claramente um jogo mais bonito que seu antecessor, influenciado pelos clássicos Fire Emblem de Game Boy Advance — à época, marcados por cores chamativas e vibrantes, tanto em cenários quanto no design dos personagens. O próprio protagonista, Alear, traz uma charmosa mescla de vermelho e azul em seus olhos e cabelo.

As animações estão melhores do que nunca e fluem com naturalidade, com destaque para as fusões dos Emblems e seus ataques especiais. Devo dizer que eu não ficava impressionado assim desde o lançamento de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia, o ápice da franquia no quesito animação 3D.

Em termos de desempenho, Fire Emblem Engage me pareceu mais estável que Three Houses (vejo como uma comparação válida, pois ambos saíram para Nintendo Switch) de modo geral, com menos quedas de frames, em especial durante os períodos de exploração, o que é uma grande conquista. E sobre a trilha sonora: ela é tão boa que você vai querer deixá-la tocando em loop infinito no Somniel. Preciso dizer mais alguma coisa?

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Veredito

Analisando friamente a mudança de direcionamento, prevejo que Fire Emblem Engage não seja capaz de cativar a atenção da comunidade de fãs como um todo, sobretudo do jogador que chega de Fire Emblem: Three Houses em busca de uma experiência mais voltada à história, também centrada em administração de tempo e recursos — leia mais sobre o game e se aprofunde para ter a expectativa correta.

Caprichado no fanservice e com grande foco em combate, Fire Emblem Engage é um dos melhores RPGs de estratégia dos últimos tempos

Entretanto, Engage foi concebido sobre os mesmos alicerces dos games clássicos da franquia, oferecendo uma aventura à moda antiga: compacta, linear e incrivelmente imersiva. Existem ótimas ideias nele, principalmente no combate, que agora ostenta uma maior variedade de ações. Este é, para mim, o melhor e mais dinâmico RPG de estratégia dos últimos tempos.

Fire Emblem Engage foi gentilmente cedido pela Nintendo para a realização desta análise

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Pontos Positivos
  • Combate mais dinâmico, com novas nuances táticas e aprimoramentos notáveis ao que já conhecíamos;
  • O continente de Elyos resguarda muitos momentos interessantes, apesar de a história não ser tudo isso;
  • Tem muita coisa para fazer e gerenciar, bastante conteúdo, mas você não se sente na obrigação de se aprofundar em tudo;
  • Visual bonitão, com destaque para as animações das batalhas;
  • Uma aventura mais simples e objetiva, que respeita um pouco mais o tempo do jogador e nos remete aos títulos clássicos;
  • Caprichado no fanservice, como era de se esperar.
Pontos Negativos
  • O auto-battle definitivamente não funciona bem em certos mapas;
  • Sistema de Bond Rings é até divertido, mas não concede melhorias significativas aos personagens, de modo a dinamizar ainda mais os confrontos.