Com altos e baixos, Far Cry New Dawn termina de espremer a fórmula da série

Como amante da franquia, eu vos pergunto: já deu tempo de sentir saudades de Far Cry? Menos de um ano após Far Cry 5, a Ubisoft traz Far Cry: New Dawn, classificado pela publisher como uma sequência narrativa da aventura anterior, em que os jogadores tiveram de enfrentar um grupo de fanáticos liderados por um profeta, Joseph Seed, que pregava o fim do mundo.

Ambientado 17 anos após os eventos de Far Cry 5, New Dawn segue a tradição de estampar, na capa, o vilão, que, nesse caso, são vilãs: as irmãs gêmeas Mickey e Lou, líderes de uma facção chamada Salteadores, que perambula numa terra pós-apocalíptica assolada pela devastação em massa – e posteriormente ressurgida em nova roupagem, nos requintes do steampunk, como em Mad Max, Rage, BorderlandsFallout e afins.

Essa é a linha estética de New Dawn, que também bebe do humor sádico de Blood Dragon, o inesquecível stand-alone de Far Cry 3. É quase um potencial “Far Cry: Mad Max”, por assim dizer.

Confira a videoanálise:

Jogou e zerou o 5? Só vem

O primeiro aspecto notável de Far Cry: New Dawn é que o jogo se porta, de certa forma, como um produto honesto; é tratado como continuação direta de Far Cry 5, e não necessariamente uma nova entrada da franquia. Seu preço sugerido, de US$ 39.99 (na moeda em dólar, tabela “universal”), é mais barato que o de um lançamento comum – que sai por US$ 59.99 –, até porque ele reaproveita o mundo aberto do jogo anterior, no mapa de Hope County.

Você vai sentir uma pitada de Far Cry Primal, que também funcionou como spin-off para a série, mas dentro de um ambiente que pega o bonde de sucesso de Far Cry 5 e reaproveita algumas figuras conhecidas dessa jornada. Aqui, o mundo é muito mais hostil e enganchado a partir daquele ousado final que o game de 2018 apresentou.

New Dawn é um jogo voltado a quem terminou o antecessor, mas nada impede que você se aventure pela primeira vez – ciente, é claro, de que existe um contexto prévio para todo esse apocalipse cor-de-rosa, que virou moda para representar o fim do mundo como conhecíamos (valeu, Rage 2).

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A narrativa, que belisca o tom brega e pastelão de Blood Dragon, veste a carapuça do previsível, especialmente por causa de clichês que se esforçam para ser engraçados e até arrancam aqueles risinhos de simpatia do jogador.

Em uma das missões secundárias, por exemplo, o diálogo faz alusão à Wikipedia, que aqui se chama “Wikibeania” e é comandada por um lunático – mais um daqueles atormentados nascidos no apocalipse profanado por Joseph Seed (e é totalmente crível que alguém assim exista numa terra profanada por quem quer que seja).

Gameplay gostosura – mas no limite da fórmula espremida

O gameplay continua aquela gostosura que você já manja de Far Cry, explorando ao máximo uma fórmula que apresenta seus sinais de desgaste e que, aqui, é espremida até a última gota. Numa rápida viagem no tempo, uma leviana reflexão nos faz constatar que o primeiríssimo Far Cry, lançado num longínquo 2004 pelas mãos da Crytek, é diferente de todos os outros que saíram posteriormente.

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A Ubisoft fez um ensaio com Far Cry 2, errou na medida e descobriu a receita de bolo em Far Cry 3, que trouxe a equação perfeita. Desde então, a Ubisoft vem espremendo essa fórmula, mudando algumas coisinhas aqui e acrescentando outras acolá.

Apesar de Far Cry Primal ter dividido opiniões entre os fãs, alguns aspectos do jogo pré-histórico foram aproveitados em New Dawn

Basicamente, Far Cry: New Dawn consegue implementar algumas poucas mecânicas novas dentro daquilo que já funciona na franquia. O jogo se rendeu aos elementos de RPG, ainda que de maneira sutil; agora, os danos de inimigos pipocam na tela, igual acontece em Borderlands ou Destiny, e as armas têm melhor separação de atributos e potência, sempre usando cores para distinguir o nível de raridade. O loot, portanto, se tornou ainda mais crucial aqui. Nada inédito para o gênero, mas com sabor de cereja para um Far Cry, que também já conhece o loot desde seus primórdios.

Apesar de Far Cry Primal ter dividido opiniões entre os fãs, alguns aspectos do jogo pré-histórico foram aproveitados em New Dawn, como a busca por componentes específicos para  a criação de armas, digamos, mais “caseiras”, improvisadas e sem o capricho da modernidade, diferente daquele estilo cowboy de Far Cry 5 e mais próximo de uma estética antiga mesmo – quase retrofuturista, que é a vestimenta de We Happy Few.

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A escalada dos postos avançados

Os postos avançados ganharam novo vigor e agora têm sua dificuldade “escalada”. O etanol, principal componente para melhorar sua base principal de Prosperity, é conquistado depois que você domina os locais invadidos, em caminhões-tanque ou em caixas de suprimento lançadas por aviões de Salteadores.

Se você tiver sede ao pote, pode repetir a matança para conseguir mais etanol, ao custo de uma dificuldade maior. No começo é legal, mas logo se torna cansativo repetir os mesmos postos avançados, mesmo que eles estejam configurados para um nível mais desafiador.

Algumas missões de caça ao tesouro até se arriscam com puzzles interessantes para quebrar um pouco a rotina do tiroteio. São aqueles momentos surpreendentes em que você pensa, em voz alta: “Mas olha só essa Ubisoft ousada metendo um puzzle cabeludinho num Far Cry?!”.

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Outra novidade é a adição das expedições, que finalmente permitem que o jogador respire novos ares fora de um mapa principal. As áreas mudam de acordo com os personagens e o progresso da história, e essas missões rendem boas quantias de loot para o grupo. Em coop, as expedições têm um sabor melhor.

De resto, praticamente tudo que deu certo em Far Cry 5 está ali: armas de aluguel, a já mencionada caça ao tesouro, vida animal, customização avançada de armas, pescaria e outras vertentes de exploração coexistem num mundo pós-apocalíptico – inclusive os bichos lendários, que aqui se chamam animais monstruosos, resultantes da radioatividade que se alastrou após o caos. Sim, alguns deles são mutantes escabrosos.

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Veredito

Totalmente em português (e louve-se a dublagem brasileira), Far Cry: New Dawn é uma aventura que faz muito mais sentido para quem jogou e terminou Far Cry 5. Mas nem por isso o título desabona os marinheiros de primeira viagem. Tudo que você conhece, já viu e já reviu está ali: os tiroteios e explosões, as perseguições e surtos de loucura, o mundo aberto, que por vezes é paradisíaco, um pastor portando shotgun e os demais personagens que compõem o enredo, geralmente caricatos – embora cada vez mais clichês.

Até os tradicionais bugs estão ali, como quando você pega alguns itens e a notificação pipoca infinitamente ao lado direito da tela, muito além de onde deveria terminar. O visual, em contrapartida, é um deslumbre à parte – especialmente nas versões aprimoradas. Joguei no Xbox One X e levei cerca de 15 a 20 horas para fechar a história.

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A Ubisoft espremeu tudinho da fórmula Far Cry e, com New Dawn, arrancou leite de pedra. O fardo da repetição recai com peso cada vez maior na franquia, que deve passar por uma reformulação maior na próxima entrada – quem sabe a maior desde Far Cry 3.

Apesar disso, Far Cry: New Dawn ainda é uma ótima aventura com quantidade generosa de atividades. É o mais próximo possível que você verá de um “Far Cry Mad Max”, sem a mesma profundidade ou robustez, mas com todos os requintes de loucura que o steampunk tem – e uma dose caprichada de rosa para representar esse apocalipse.

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Pontos Positivos
  • Mundo aberto lindo, especialmente nos consoles parrudos
  • Aliado aos clichês, que são positivos e negativos, o sadismo, vestido de steampunk, funciona para o pós-apocalipse apresentado na história
  • Gameplay gostosura de sempre
  • Inéditas, as expedições permitem que você respire ares novos fora de um mapa principal
  • A beliscada no RPG teve a medida certa de sutileza
Pontos Negativos
  • Enredo previsível, sem grandes reviravoltas perto do que foi Far Cry 5, e lotado de clichês – bons e ruins (aqui prevalecem os ruins)
  • Os mesmos bugs de outros jogos da franquia estão ali em menor escala, mas ainda incomodam
  • Refazer postos avançados para ganhar mais looting é uma boa ideia, mas logo a tarefa se torna repetitiva