Imagem de The Witcher 3: Wild Hunt
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The Witcher 3: Wild Hunt

Nota do Voxel
95

Algo termina, algo começa

The Witcher 3: Wild Hunt é um game enorme. O universo criado pela CD Projekt RED não é somente grande do ponto de visto geográfico, mas também quando se fala em complexidade. Conforme você explora os campos, cidades e masmorras criados pelo estúdio, descobre missões, objetivos secundários e atividades paralelas que contribuem para que você simplesmente se perca nesse mundo — e falo isso da melhor maneira possível.

A grandiosidade desse universo é tanta que, para falar sobre ele de maneira adequada, precisei de dois textos antecedendo esta análise — clique aqui para conferir a primeira parte e aqui para acessar a segunda. Além disso, também contei com a ajuda dos amigos Bruno Micali e Guilherme Dias para tentar captar totalmente o que o jogo tem a oferecer.

Antes de iniciar a análise, julgo melhor deixar claro meu “currículo” em relação a The Witcher: joguei pouco o primeiro título e terminei o segundo (seguindo somente um dos caminhos, por questão de filosofia própria). Além disso, já li os quatro volumes da série publicados pela Martins Fontes e participei da produção do Super Especial do BJ. Leve em conta essa informação, visto que algumas críticas que faço a Wild Hunt tomam como base esse conhecimento prévio da franquia.

Um mundo enorme e envolvente

Apesar de apostar na fórmula do “mundo aberto”, The Witcher 3: Wild Hunt faz isso de uma maneira um tanto diferente da que estamos acostumados. Na prática, temos algo muito mais parecido com um RPG tradicional do que com a série Grand Theft Auto ou títulos comoRed Dead Redemption, que lidam com essa liberdade de maneira um tanto diferenciada.

O universo imenso de Wild Hunt serve mais como um complemento à sua ambientação do que como uma desculpa para você “fazer o que quiser”. Ou seja, se sua intenção é simplesmente brincar com os ambientes e matar tudo o que aparece pela frente, pode ficar decepcionado — o título segue uma coerência interna própria que impede que o protagonista Geralt assassine inocentes ou saia “tocando o terror” por onde passa.

Outro fator que diferencia o título de outros games que apostam em uma grande escala para chamar a atenção é o fato de que ele está simplesmente recheado de coisas a fazer. Cada nova cidade explorada revela uma série de missões e locais de interesse que, sozinhos, podem tomar algumas horas de seu tempo.

A quantidade de atividades disponíveis aumenta ainda mais caso você simplesmente deseje sair caminhando pelos campos verdejantes, locais de batalha, pântanos e fortalezas de The Witcher 3. Muitos locais aparentemente desinteressantes escondem passagens secretas e documentos que revelam missões extras, novos equipamentos ou simplesmente visões de tirar o fôlego.

A impressão que fica é a de que a CD Projekt RED construiu cada milha de seu território virtual de maneira manual. Mesmo que alguns cenários compartilhem texturas e algumas formas geométricas, o design de áreas e a própria colocação de itens e baús parece ter sido feita com o único objetivo de respeitar uma coerência interna bem evidenciada.

Roteiro admirável...

Devo admitir: por mais que goste de The Witcher 3: Wild Hunt, os momentos iniciais da aventura não são exatamente os mais envolventes que vi em um RPG. Enquanto a cena de animação que abre o jogo promete uma aventura que começa cheia de ação e intrigas, as primeiras horas passadas em Pomar Branco mostram um título com uma evolução um tanto lenta.

Felizmente, a partir do trecho em que você deixa a localização, a aventura “engrena” uma nova marcha e nunca deixa o ritmo cair. Em questão de horas, você vai estar procurando por evidências que levam a monstros, destruindo esquemas criminosos, interagindo com farsantes e até mesmo lutando em arenas clandestinas para divertir o público.

A maior parte dessas atividades está relacionada a tramas próprias, cujos resultados podem influenciar de maneira variável no desenrolar da aventura principal. Inclusive, muitas das missões mais interessantes do game começam justamente como algo de caráter opcional que se desenrola de tal forma que a situação ganha em importância e se prova diretamente relacionada à busca do protagonista.

O que chama a atenção é o fato de que o roteiro do jogo é genuinamente bom. Não simplesmente “bom para um video game” — estamos falando aqui de um trabalho que possui um nível de qualidade capaz de rivalizar com um bom filme ou peça de teatro, algo que infelizmente ainda é um tanto raro no mundo dos jogos eletrônicos.

Claro, um jogo com o tamanho de The Witcher 3 não escapa de apresentar uma ou outra trama boba ou de falas que soam simplesmente estranhas, mas em geral o game faz um trabalho admirável nesse sentido. Quando você estiver em meio a uma conversa que envolve magias, elfos e monstros e não achar isso algo absurdo ou tolo, provavelmente vai entender do que estou falando.

Também admirável é a maneira como o game trata conteúdos considerados “adultos” que, em geral, a indústria trata da maneira mais adolescente o possível. Conforme falei na segunda parte de minha análise em andamento, o sexo está presente de forma bastante madura em The Wild Hunt — ou seja, não espere encontrar aqui a velha representação simplesmente erotizada que costumamos aceitar em um jogo do tipo.

... mas que ainda poderia ser melhorado

Os pontos nos quais o game falha nesse sentido geralmente estão relacionados à representação de alguns personagens femininos. Enquanto é compreensível que, dentro do universo criado por Andrzej Sapkwoski, feiticeiras usem poucas roupas como forma de “distração” e representação de orgulho próprio, faz muito pouco sentido uma guerreira como Ciri andar o tempo todo com a blusa aberta mostrando seu sutiã, por exemplo.

Além disso, muitas figuras femininas são usadas simplesmente como objetos sem personalidade cujo único objetivo é servir como “desculpas” para a ação de heróis. Em certo ponto da aventura, nos defrontamos com uma cena de um massacre de mulheres que parece sem propósito e em nada serve para reforçar o fato de que nosso adversário é uma pessoa má — algo que o título já havia deixado claro diversa vezes.

Também preocupa o fato de que a motivação inicial de Geralt parece descontextualizada a quem não jogou pelo menos The Witcher 2: Assassins of Kings ou leu os livros da série. Mesmo que o material promocional do game deixe claro que estamos em busca de Yennefer e Ciri, as descrições que o game faz delas não permite que criemos uma conexão sentimental imediata — ou seja, é difícil se importar com a busca do protagonista se você já não sabe quem elas são.

Resolver isso seria uma tarefa relativamente simples: a CD Projekt RED poderia simplesmente substituir a animação inicial do título por uma retrospectiva opcional. Embora seja admirável o trabalho do estúdio de não querer forçar referências ou explicar tudo de maneira extremamente didática, a falta dessa contextualização pode gerar desinteresse em quem tem em Wild Hunt seu primeiro contato com a série The Witcher.

RPG desafiador

The Witcher 3: Wild Hunt expande os sistemas vistos em Assassins of King ao mesmo tempo em que simplifica certos elementos para aumentar sua acessibilidade. Isso significa que o game apresenta uma ação com características táticas que o colocam em um lugar entre a cadência de um Dark Souls e a ação vista em um game hack’n’slash.

Embora você possa simplesmente atacar cegamente seus inimigos (algo possível visto que os movimentos do protagonista não estão mais associados à sua barra de stamina), mesmo na dificuldade normal isso vai decretar rapidamente sua morte. Especialmente quando você está cercado de inimigos, é importante saber os momentos em que defender um golpe ou se desviar de um ataque inimigo é necessário.

Mesmo que pareça estranho em um primeiro momento, o sistema de combate de Wild Hunt se mostra bastante satisfatório assim que você se acostuma com ele. Apesar de a mira fixa do título nem sempre funcionar bem, o fato de ela ser dispensável na maior parte das batalhas do título faz com que você sequer se importe com eventuais falhas nesse sentido.

Além de suas duas espadas — uma de aço, para humanos, e outra de prata, para monstros —, Geralt também encontra diversos porretes e machados para complementar seu arsenal. A série introduz o uso de bestas, ferramenta que auxilia o herói a combater inimigos voadores e a acertar adversários a longas distâncias.

O arsenal do bruxo também conta com um arsenal variado de bombas com efeitos diversos e com uma série de poções. Inicialmente presentes em número limitado, esses itens ficam mais diversificados e úteis conforme você encontra fórmulas escondidas pelos cenários, as adquire com vendedores ou simplesmente as recebe como recompensas em algumas missões.

Para completar, Wild Hunt possui um sistema complexo de criação de equipamentos que exige certo investimento da parte do jogador para ser totalmente explorado. Sua busca por itens específicos quase sempre é recompensada, visto que a obtenção de algumas das melhores armas e armaduras do jogo exige o uso das forjas oferecidas por alguns artesões.

Só preste atenção ao fato de que o título nem sempre possui uma indicação clara do desafio que cada adversário representa. A diferença de um nível entre você e outro personagem pode determinar tanto uma batalha fácil quanto uma simplesmente impossível — nesse caso, o melhor indicador possível de que é melhor correr não é o numeral exibido, mas sim a presença ou não de uma caveira vermelha próxima ao nome de seu adversário.

Enfim, a nova geração

Caso você esteja questionando os motivos pelos quais investiu em um console de nova geração, The Witcher 3: Wild Hunt chega para acabar com qualquer dúvida quanto à necessidade da existência dos hardwares mais recentes do mercado. O título apresenta uma qualidade visual impressionante que simplesmente não teria como ser alcançada nas plataformas mais antigas.

Nesse sentido, sequer é preciso falar que a versão ideal para quem quer o máximo desempenho é o PC. Mesmo assim, o PlayStation 4 e o Xbox One estão longe de fazer feio, exibindo uma grande quantidade de detalhes, personagens bem animados e um campo de visão surpreendentemente grande.

Os gráficos do jogo são combinados a um bom design de personagens e de ambientes, não servindo simplesmente como uma ferramenta vazia. O resultado disso se mostra em ambientes que parecem vivos e que se comportam de maneiras diferentes dependendo das condições climáticas e do horário do dia — não canso de repetir o quanto os pôres do Sol de The Witcher 3: Wild Hunt são belos.

Também há de se destacar a qualidade das texturas usadas pela CD Projekt RED, especialmente aquelas aplicadas sobre o rosto dos personagens. Basta olhar para uma pessoa para conseguir fazer uma previsão bastante exata de sua idade, assim como de seu estado de espírito.

Toda essa qualidade visual cobra um preço, especialmente nos consoles. Durante nossa análise (que tomou como base a versão para PlayStation 4), não foram raros os momentos em que o título apresentou alguma lentidão — especialmente enquanto trafegávamos por cidades ou acessamos alguma área nova.

Isso não chega ser exatamente um incômodo — nunca há um momento em que o game vira uma “apresentação de slides”, por exemplo —, servindo mais como uma prova de que a atual geração de consoles já nasceu com um hardware um tanto limitado. A esperança que fica é a de que, com patches futuros, a desenvolvedora consiga minimizar a ocorrência desse pequeno problema.

Joia imperfeita

Caso tenha lido a análise até este ponto, já deve estar ciente que atribuo a The Witcher 3: Wild Hunt uma qualidade inegável. No entanto, considero o jogo uma espécie de “joia imperfeita”, visto que ele possui defeitos evidentes que não são possíveis ignorar.

O principal problema do título fica por conta de sua organização de menus, que não se mostra funcional nos consoles nem no PC. Na tentativa de criar algo acessível a ambas as plataformas, a CD Projekt RED criou um sistema de organização que não agrada a ninguém, se mostrando confuso em muitos momentos.

Não há maneira de reorganizar os itens obtidos durante a partida, que são agrupados da maneira que o game julga mais adequada. Isso não seria exatamente algo ruim, a não ser pelo fato de o sistema torna processos constantes — como o uso de poções e óleos especiais — o mais tedioso possível.

Essa decisão de design mostra cada vez mais suas falhas conforme você progride durante a aventura. Depois de ter que passar 10 ou 20 vezes por uma pilha de documentos somente para selecionar uma bomba ou poção, você começa a cogitar se realmente vale a pena usar esses sistemas do jogo — o sofrimento é ainda maior nas versões para consoles, que apresentam certas “travadinhas” toda vez que um item novo é selecionado.

Também é preciso citar a presença de certos bugs que tiram o jogador da aventura e se mostram bastante intrusivos. Embora seja compreensível que certos objetos atravessem um ao outro em um game de mundo aberto, não há como defender o fato de que o título apresenta momentos em que falas são trocadas ou em que a aventura simplesmente congela — algo que, felizmente, aconteceu somente uma vez enquanto jogávamos a versão PlayStation 4.

Vale a pena?

The Witcher 3: Wild Hunt é um daqueles raros casos de jogos que correspondem ao hype criado. Deixando de lado polêmicas envolvendo ou não um suposto downgrade gráfico, o game é simplesmente lindo, apresentando um universo que aproveita sua beleza para envolver o jogador durante dezenas ou até mesmo centenas de horas.

A partir do momento em que você começa a se envolver nas histórias, subtramas e conflitos presentes no RPG, é difícil se convencer a deixá-lo de lado. Mesmo com um começo lento e mecânicas que poderiam ser melhor polidas pela CD Projekt RED, o título é um dos raros casos em que se fica feliz por sempre ter mais a fazer — depois de certo tempo, você simplesmente não quer que a aventura acabe.

Com Wild Hunt, a CD Projekt RED se estabelece de vez como um dos grandes nomes do mercado, rivalizando em qualidade e competência nomes consagrados do mundo dos RPGs eletrônicos como a BioWare e a Bethesda. Especialmente quando levamos em consideração que essa é a primeira incursão do estúdio no universo dos jogos de mundo aberto, é difícil não se surpreender com o que ela conseguiu.

Sim, o game tem problemas técnicos e apresenta decisões de design duvidosas em certos pontos, mas isso não é suficiente para distrair de suas qualidades. Caso você seja um bom fã de RPGs e goste tanto de acompanhar uma boa história quanto de partir para a ação, o título sem dúvida é uma das melhores companhias que seu console de nova geração — ou PC — pode ter pelos próximos meses.

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Pontos Positivos
  • Roteiro complexo e envolvente
  • História sabe ser adulta da maneira correta
  • Jogabilidade complexa que estimula a personalização
  • Mundo enorme e repleto de coisas a fazer
  • Dublagem em português de alta qualidade
Pontos Negativos
  • Bugs distraem da aventura em alguns momentos
  • Organização dos menus pouco funcional
  • Indicadores de dificuldade pouco precisos